AVALIAÇÃO FORMATIVA E USO DE PROVAS: UM DESCOMPASSO?

Elisângela T. Gomes Dias
Doutoranda em Educação. Integrante do GEPA. Professora da SEDF

“Com esse tipo de avaliação formativa nas escolas, sem ter prova, os alunos não ficarão despreparados para fazer concursos públicos ou vestibular por conta do ‘medo’ da prova?” A pergunta foi dirigida à professora Benigna de Freitas Villas Boas, após sua fala sobre os desafios da avaliação na organização da escolaridade em ciclos, na aula inaugural do ano letivo de 2013 da Secretaria de Educação do DF. É possível percebermos alguns equívocos nesse questionamento e que são recorrentes quando se discute a necessidade de romper com a avaliação classificatória para dar espaço a práticas de avaliação formativa.

O primeiro é confundir avaliação com procedimentos de testagem. Muitas vezes o professor avalia para “dar notas”, “aprovar” ou “reprovar”. Avaliar para classificar, selecionar e excluir está tão impregnado na cultura escolar, que reduz o ato de avaliar ao de medir. Mas “medir não é avaliar, ainda que avaliar suponha algum tipo de medida” (FREITAS, 2006, p. 90). Avaliação é um processo mais amplo e não se destina somente ao estudante. Seu propósito não pode ser selecionar, medir, julgar ou comparar, mas conhecer a realidade e o trabalho realizado para repensar, reorientar, replanejar, reorganizar, renovar e orientar a tomada de decisão.

O segundo equívoco é achar que a prova é um instrumento que não pode ser utilizado na perspectiva da avaliação formativa. O cerne da questão está no propósito e efeito, e não no instrumento utilizado. A prova pode ser útil, desde que os dados fornecidos sirvam para promover a aprendizagem do estudante e do professor. Isso acontece quando o objetivo é identificar o que cada estudante aprendeu e o que ainda é necessário fazer para que venha aprender, o que gera mudanças na organização do trabalho pedagógico. Além disso, o professor desenvolve estratégias de comunicação dos resultados que não se reduzem a uma nota, pois considera o feedback como elemento chave para a aprendizagem. Assim, a avaliação é voltada para o estudante e não para o conteúdo e há critérios claros e de conhecimento de todos, o que oportuniza a autoavaliação.

O que defendemos é que o processo de avaliação ocorra de forma dinâmica, frequente, abrangente e interativa, considerando as especificidades de cada estudante e tomando cada um como referência. Para isso, é necessário que a avaliação seja versátil – não se efetivando sempre da mesma forma – e que o professor faça uso de instrumentos coerentes com o propósito de ensino. Portanto, a prova pode ser um bom recurso, mas não deve ser o único.

O último equívoco que destaco refere-se à função da avaliação. Seu propósito não pode ser o de “preparar o aluno para fazer vestibular e concurso público”. O estudante certamente não terá medo de realizar prova se tiver confiança em sua aprendizagem e se tiver desenvolvida a capacidade de se avaliar. O que a escola precisa assegurar é que as necessidades de cada um sejam atendidas durante o todo o processo e que a avaliação não seja uma ameaça para o seu avanço. Por isso a avaliação, formal e informal, deve ser encorajadora, contínua, integrada e cooperativa. Compreender a avaliação a partir dessa perspectiva é promover aprendizagens sólidas e fortalecer o trabalho coletivo.

Referência:
FREITAS, L. C. de. A “progressão continuada” e a “democratização” do ensino. In: VILLAS BOAS (Org.). Avaliação: políticas e práticas. Campinas, SP: Ed. Papirus, 2006. 3ª ed.

 

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