Blitz na educação: “dicas para pais e estudantes”

O Jornal Nacional fez uma “blitz na educação” de 16 a 21 de maio de 2011. A equipe do JN no Ar visitou cinco cidades sorteadas, uma de cada região brasileira. Em cada uma delas duas escolas foram observadas e filmadas. O especialista em educação, assim citado pela reportagem, Gustavo Ioschpe, acompanhou a equipe em todas as visitas. “Conversou com professores, diretores, estudantes. Anotou tudo, tirou lições, confirmou estudos. Tudo visto de perto”. No sábado (21) foi realizado um balanço do “que pode ser feito para melhorar o nível do aprendizado nas salas de aula”.


Em rápida passagem pelas escolas encontraram-se as seguintes situações: “uma escola com limpeza, disciplina, organização, cuidado com as crianças. Dá para entender por que tirou uma nota boa, 6,6”; “situação constrangedora de descaso”, escola com os vidros quebrados; aluno de 14 anos frequentando o 3º ano porque trabalha; sala ocupada por várias turmas e alunos de diferentes séries e idades; alunos que chegam atrasados às aulas porque percorrem longa distância a pé; escola em bairro pobre que obteve a maior média entre todas as visitadas pela blitz (7,1); professores em greve.

Ao final de uma semana de visitas, depois de passar por cidades no Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Ceará, Goiás e Pará, Gustavo Ioschpe, a pedido do JN no Ar, fez uma “lista de dicas para pais e estudantes: o que funciona, ajuda no aprendizado, o que atrapalha”. Complementa a reportagem: “Tudo confirmado pela blitz da educação do JN no Ar, portanto preste atenção:

Exemplos de práticas positivas para a educação: passar dever de casa; professor com formação na área em que ensina; imposição de método, rotina e gestão em todas as aulas; comprometimento dos educadores com o sucesso; uso de material didático como apoio; fazer provas com frequência e monitorar o aprendizado; e disciplina.
Exemplos do que prejudica o aprendizado: aluno que trabalha e estuda; distância da escola; indicação política do diretor; falta de professores; e indisciplina”.

A realização e “confirmação” desse diagnóstico da educação brasileira de forma tão rápida e incompleta, em apenas uma semana, por um especialista em educação que se autoriza a apontar “dicas para pais e estudantes”, usando o poder da Rede Globo para transmissão a todo o país, constitui uma afronta ao trabalho dos educadores profissionais da educação básica e da educação superior. De modo especial dois aspectos da reportagem são preocupantes. O primeiro é o fato de se considerar “o aluno que trabalha e estuda” um dos exemplos do que prejudica o aprendizado”. Ora, se esta é a realidade de alguns estudantes, cabe à escola organizar-se para atender às suas necessidades. O outro se refere ao ato de “fazer provas com frequência” como um exemplo de prática positiva. Avaliar não significa simplesmente aplicar provas. Essas “dicas” podem contribuir para a compreensão inadequada do trabalho da escola básica pela população brasileira.

Os pesquisadores em educação conduzem seus estudos dentro de escolas usando pelo menos um ano letivo. Mesmo assim não dão “dicas” para o seu bom funcionamento nem se limitam a apontar falhas. Suas investigações são acompanhadas de reflexões envolvendo as equipes escolares com vistas à construção do trabalho que promova as aprendizagens. A compreensão de todas as dimensões do trabalho pedagógico escolar demanda tempo, estudos e trabalho colaborativo.

Observação: esta análise baseou-se nas reportagens do Jornal Nacional transmitidas de 16 a 21/05/2011 e no texto retirado do site da Rede Globo.

 

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