Ciclos, seriação e escola de anos finais

Erisevelton Silva Lima

Discutir o assunto da organização da escola em ciclos com os professores que atuam nos anos iniciais do ensino fundamental e a comunidade escolar, especialmente no Distrito Federal, por mais difícil e acalorado que seja o debate, é menos complicado se compararmos com outras etapas da educação básica, sem retirar a complexidade do tema, é claro. A escola de anos iniciais, historicamente, foi laboratório de inúmeras experiências que mexeram com a organização do seu trabalho pedagógico. Essas experiências suscitaram amadurecimento e crítica sobre a temática.


O Ciclo Básico de Alfabetização (CBA), a Escola Candanga ou mesmo o recente Bloco Inicial de Alfabetização (BIA), por mais que tenham avançado em seus propósitos, não conseguiram sair das Escolas Classes da rede oficial de ensino local. Enquanto isso os docentes dos anos finais do ensino fundamental e a comunidade escolar aguardavam, ávidos por algum resultado, o somatório de todas as energias emanado de propagandas e projetos anteriormente anunciados. Contudo, o que viram deixaram muitos descrentes: campanhas e posturas de descontinuidades como a mudança de siglas, projetos inacabados ou repentinamente interrompidos sem nenhuma explicação para a sociedade civil. Tudo isso tem tornado tais iniciativas pedagógicas confusas, frágeis e focos de maiores resistências. A política educacional que deveria ser um projeto de Estado era, apenas, um projeto frágil de governo.

Diante do cenário que se anuncia, de organização escolar em ciclos de aprendizagem para todo o ensino fundamental, os profissionais que atuam nas escolas de anos finais não podem ser forçados a entender de maneira aligeirada mudanças radicais e que demandam estudos mais aprofundados e vivências pedagógicas sérias, como é o caso da escola em ciclos. Esses profissionais são oriundos das licenciaturas das áreas específicas nas quais pouco se estudou sobre currículo, avaliação e aprendizagem (eles não são culpados disso). Para envolver a comunidade escolar e, com ela, abraçar o projeto de uma escola que pode dar certo é preciso acreditar e ter segurança sobre esse mesmo projeto. Os professores de anos finais do ensino fundamental, a equipe diretiva e todo o coletivo da escola, sob a liderança de um gestor comprometido com a gestão democrática de fato, podem tornar esse sonho real. Mas sem investir na formação para a ação as consequências podem ser ruins para todos. A escola em ciclos não se resume em retirar a reprovação ao final do ano letivo; isso conduzirá ao equívoco da aprovação automática. O que faz a organização pautar-se na proposta de ciclos é, sobretudo, a reorganização dos espaços e tempos das aprendizagens de todos, dentro e fora da escola.

Pior que o aluno entender que não precisa estudar porque não será reprovado é a escola acreditar que também não precisará mais ensinar.
 

por Prof. Dr. Erisevelton Silva Lima

 

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