CIRCULARIDADE DE SABERES EM AVALIAÇÃO

Circularidade de saberes em avaliação

Benigna Maria de Freitas Villas Boas

 

Tratando da circularidade de saberes dos atores envolvidos nos processos de avaliação institucional, Sordi e Ludke (2009, p. 32) nos oferecem o entendimento sobre o tema circularidade do saber, de modo geral, pontuando que não se trata da transferência de conhecimento de cima para baixo ou do centro para a periferia. As autoras reconhecem a sua potencialidade, pois a ideia de circularidade indica idas e vindas, a circulação entre duas (ou mais) fontes produtoras de saber, cada uma enriquecendo, a seu modo, a construção do conhecimento a seu respeito.

Desta formulação de Sordi e Ludke depreende-se que a circularidade de saberes é feita horizontalmente, isto é, sem a intenção de mera transmissão de conhecimento de quem sabe em direção a quem não sabe, como se houvesse apenas um detentor de saberes. Pelo contrário, democraticamente os envolvidos no processo promovem formas de difusão do que cada um conhece sobre o tema para que, em conjunto, formulem ou reformulem suas ideias e práticas. Também não é o caso de se chegar necessariamente a conclusões. Pode até ser que não se chegue a isso. O que importa é socialização de informações e conhecimentos para que todos deles se apropriem e os usem segundo suas necessidades.

Consequentemente, a circularidade de saberes empodera todos os que dela participam. Por incluir idas e vindas, como dizem Sordi e Ludke (idem), é processual e contínua, possibilitando a construção da cultura de promoção das aprendizagens. Não tem hora nem data para acabar. Por possibilitar que os conhecimentos de todos se ampliem, concorre para o fortalecimento da prática.

Essa forma de aprendizagem se utiliza de processos sociais, coletivos, dialógicos e plurais, concluem Sordi e Ludke.

Como a avaliação ainda é uma categoria do trabalho pedagógico que enfrenta grandes dificuldades, a circularidade de saberes pode dar grandes contribuições. Pensemos na necessária circularidade de saberes entre professores de cursos de licenciatura e seus colegas da educação básica. Em nenhum desses contextos podemos dizer que caminhamos bem. Basta mencionarmos os altos índices de reprovação dos estudantes de educação básica e o que pesquisas têm mostrado sobre a aprendizagem e a prática da avaliação nas universidades. Por esse motivo, atividades conjuntas entre professores desses dois níveis podem conduzir à circularidade de saberes em busca da formação inicial e continuada desejada para todos. Mas não é o caso de professores universitários simplesmente organizarem atividades dentro da sua instituição e convidarem os colegas da educação básica para comparecerem e com eles aprenderem a avaliar. A circularidade de saberes pressupõe aproximação e trabalho colaborativo, não aceitando cisão entre os diversos envolvidos. As atividades de estágio dos futuros docentes em escolas de educação básica constituem oportunidade para atuação conjunta das duas instituições. No caso da avaliação, o contexto estudado pelos estagiários é o ponto de partida para o planejamento de ações conjuntas. Antes de os estudantes irem às escolas para observação e desenvolvimento de atividades, os professores envolvidos (das duas instituições) se encontram para realização de planejamento, não apenas do trabalho a ser realizado nas escolas, mas, também, de todo o processo, incluindo encontros de todos ao longo do semestre. Se todos estiverem imbuídos da sua responsabilidade quanto à circularidade dos saberes, o velho e rançoso estágio cairá por terra, dando lugar a profissionais comprometidos com a educação, de modo geral, e com a avaliação que promova as aprendizagens. Por que termos propósitos para a educação básica diferentes daqueles previstos para a formação de professores?

Referência

SORDI, Mara R. L. de.; LUDKE, Menga. Da avaliação da aprendizagem à avaliação institucional: aprendizagens necessárias. In SORDI, Mara R. L. de; SOUZA, Eliana da S. (orgs.) A avaliação como instância mediadora da qualidade da escola pública: a rede municipal de Campinas como espaço de aprendizagem. Campinas, SP: Millenium, 2009.

 

 

 

 

 

 

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

nove − 4 =