É NA ESCOLA QUE APRENDEMOS A AVALIAR E SER AVALIADOS

Benigna Maria de Freitas Villas Boas

Lúcio completará 9 anos no final de julho. Está frequentando o 4º ano do ensino fundamental e demonstra já compreender o significado da avaliação. Não que alguém lhe tenha dito em que consiste esse processo. O que se vivencia na escola é uma grande aprendizagem desde os primeiros anos de escolarização.

Em um dia da semana passada Lúcio chegou em casa e contou à sua mãe que havia feito uma “avaliação” diferente: a professora pediu que fizesse uma prova “olhando o caderno”. Foram estas as palavras usadas por ele. Sua mãe se interessou pelo assunto e começou a fazer perguntas. Ela queria saber que prova era aquela. O menino repetiu que poderia ir fazendo a prova “olhando o caderno”. Era a famosa prova com consulta. Mas ele ainda não conhece essa nomenclatura. Parece-me que ele ficou impressionado com essa “avaliação”. O importante é que Lúcio disse à sua mãe que não olhou no caderno porque não achou “certo fazer isso”, já que era uma “avaliação”. E completou: não achei “justo”.

A situação acima descrita nos leva a fazer as seguintes reflexões: Será que a professora do Lúcio preparou a turma ainda com tão pouca idade para desenvolver esse tipo de atividade? Será que ela observou, analisou e registrou as reações das crianças? Será que lhes perguntou como se sentiram diante desse procedimento tão diferente para elas? Será que lhes apresentou, inicialmente, seu propósito ao introduzir tal prática?

Enguita, em seu livro A face oculta da escola, da editora Artes Médicas, 1989, p. 203, nos ensina que “a avaliação é de fato um mecanismo onipresente na cotidianeidade das salas de aula, pois tem lugar formal ou informalmente – mas sempre com efeitos – cada vez que o aluno responde ou deixa de responder uma pergunta do professor, mostra-lhe seu trabalho ou torna visível seu comportamento, além da lista interminável de exercícios, provas, testes e outros dispositivos específicos para esse fim”. Como um dos efeitos da avaliação, Lúcio já aprendeu na escola que avaliação significa fazer prova e que esta só pode ser realizada sem olhar no caderno. O que ele já vivenciou até os 9 anos de idade parece já estar impresso em sua memória. Ele já incorporou que só há um jeito “certo” de fazer “avaliação”, isto é, fazer prova.

 

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