INDICADORES E CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO NA PERSPECTIVA DA AVALIAÇÃO FORMATIVA

INDICADORES E CRITÉRIOS NA PERSPECTIVA DA AVALIAÇÃO FORMATIVA

Por: Erisevelton S Lima – Doutor em Educação pela UnB, membro do GEPA e Formador da EAPE na SEDF

O debate sobre a avaliação com profissionais da educação e de outras áreas parece recair, quase sempre, na angústia do “como” avaliar sobrepondo-se ao “por que e ao para que” avaliar. Não é possível fugirmos desse entrave ou insistirmos, sem êxito, nessa questão. Na lógica de procurar alguma resposta aos tais anseios, apresento algumas ideias e reflexões que sugerem orientar, de alguma forma, elementos práticos reivindicados nessas discussões, qual seja: como trabalhar com indicadores e critérios para a avaliação na perspectiva formativa? Não obstante, lembro que a avaliação continua sendo um campo complexo e repleto de contradições (Freitas et al, 2009). Não bastam, apenas, técnicas e tentativas de padronização para, de fato, realizar procedimentos éticos e formativos da avaliação. O tema é polêmico e controverso, mas precisa ser enfrentado.

Ao analisar conclusões sobre o fenômeno da repetência escolar ou sua magnitude, Torres (2004) percebeu a excessiva centralidade dada ao instrumento prova como a maior causa do fracasso dos estudantes, especialmente, nos anos finais e no ensino médio (utilizando a nomenclatura brasileira). Quando conversamos com alunos e seus docentes, mesmo que de forma corriqueira, a prova surge como sinônimo de avaliação, o que parece não mudar nem melhorar a qualidade dessa prática. Porém, tal instrumento continua como o mais utilizado no cotidiano das escolas. Acontece que as provas, na maioria das vezes, são de livre iniciativa dos docentes que não contam com apoio especializado para qualificá-las. Sendo assim, se tornam instrumento de poder máximo na vida escolar de estudantes sob o olhar de um único profissional. Como o assunto é denso e o espaço é curto, apresento, com todos os riscos da limitação, algumas palavras sobre indicadores e critérios de avaliação que podem amenizar, não somente a elaboração da prova, mas também, de quaisquer procedimentos que constituem a avaliação. Saliento, todavia, que não abro mão de que os mesmos sejam apreciados na perspectiva da avaliação formativa, ou seja, na mesma ótica de Hadji (2001) quando diz que não é o instrumento que torna a avaliação formativa e sim o uso que dele se faz. Reafirmo, também, que indicadores e critérios não se fazem presentes somente no instrumento prova, mesmo que ela seja a forma mais utilizada para avalia’ nossos estudantes, seja na educação básica ou superior.

Neste texto elegi a discussão sobre indicadores e critérios de avaliação no âmbito escolar diferenciando-os do que é utilizado na literatura que os aplica aos parâmetros industriais e empresariais, quase sempre atrelados ao conceito de produção. Arredondo e Diago (2009) conceituam indicadores de avaliação escolar como sendo uma espécie de parâmetro, informação ou categoria que almejamos que os estudantes alcancem ou desenvolvam. Não podem ser dissociados dos critérios, geralmente qualitativos e que podem assegurar, com maior ou menor grau de subjetividade, os anseios dos avaliadores e dos avaliados. Cumpre esclarecer que na avaliação formativa isso não se dá de forma dissociada ou em segredo; a clareza do que se espera dos estudantes, especialmente para eles, é fundamental para que se garanta o sucesso do processo avaliativo. Portanto, indicadores e critérios são fundamentais e carecem de negociação e entendimento por parte de todos como processo que viabilize a ensinagem (ANASTASIOU E ALVES, 2006)[1]

De Ketele (2008) define indicadores como sendo observáveis e quantificáveis, mas reitera que não faz sentido se forem dissociados dos critérios. Ao defini-los (critérios), o estudioso se refere aos elementos qualitativos nem sempre quantificáveis, contudo, que são perceptíveis quando presentes ou ausentes nas produções dos alunos por aqueles que realizaram a sua eleição ou negociação. Se estivermos trabalhando na perspectiva formativa, a negociação e a publicização (dos indicadores e critérios) com os estudantes e seus familiares se faz imprescindível. Afinal, sem que eles conheçam os indicadores e critérios, não faz sentido o uso do feedback pelo avaliador, o que dificultará a realização da autoavaliação pelos estudantes.

Reafirmo, correndo todos os riscos da limitação, que o exemplo que trago trata, apenas, de uma forma de identificar indicadores e critérios avaliativos em uma atividade escolar. Escolhi uma produção de texto porque é muito utilizada nas ciências sociais de modo geral, afinal não é tarefa somente dos professores de língua portuguesa solicitar, por exemplo, uma dissertação.

INDICADORES E CRITÉRIOS PARA PRODUÇÃO DE TEXTO

INDICADORES ou EXPECTITAVAS DE APRENDIZAGENS DESEJADAS DOS ESTUDANTES EM UM DADO CONTEXTO CRITÉRIOS OU ELEMENTOS QUALITATIVOS QUE SE ASSOCIAM AOS INDICADORES
Introdução Deve conter a contextualização e a problematização do tema utilizando a literatura (estudos e pesquisas) e reportagens atuais para melhor delimitá-lo. Apresenta objetivo/os para o texto, o que demonstrará sua intencionalidade.
Desenvolvimento Precisará articular os autores citados, suas ideias, procurando responder a problematização contida na introdução. Não será permitido o uso de plágio e será observado o uso adequado das regras gramaticais da nossa língua. Evitará juízo de valor sobre o tema. Desenvolverá argumentação com base nos autores citados.
Conclusão Deve retomar o problema apresentado, o objetivo/os contido/s na introdução. Sugerirá novos questionamentos para outros textos ou pesquisas. Poderão ser usadas paráfrases.Apresentará considerações finais ou parciais utilizando como parâmetros o problema e o/s objetivo/s contidos na introdução.

Fonte: dados elaborados pelo autor.

De Ketele (2008) sugere como parte do processo formativo maneiras variadas de avaliar e ou trabalhar com esses temas. Uma delas é solicitar, após negociação com os docentes, que os estudantes identifiquem nos trabalhos escolares realizados os indicadores e critérios negociados e eleitos por eles como parte do processo formativo dessa forma de avaliar. Considero salutar seja fortalecida a avaliação por pares ou por colegas nesses eventos, sem gerar atritos ou competições por notas. À medida que a produção vai circulando entre eles e, com apreciação respeitosa dos colegas, o texto será bem mais qualificado antes que chegue às mãos do professor para continuidade do processo avaliativo.

Outras formas de definir indicadores e critérios são importantes. O exemplo acima utilizou uma atividade pedagógica amplamente conhecida, ou seja, a produção de texto. Todavia, há indicadores que emergirão de situações e contextos de aprendizagem no campo da prática. Possíveis indicadores: reduzir ou eliminar atitudes que degradam o prédio escolar; elaborar e realizar diálogo na aula de língua estrangeira por um determinado tempo ou sobre determinado tema. Os critérios inserem-se nos detalhes qualitativos que irão tornar esses indicadores viáveis e coerentes com os objetivos pretendidos pela equipe de educadores ou pelo projeto da escola. A avaliação formativa não ocorre no vácuo; contém intencionalidades, como, por exemplo, a participação dos sujeitos. Por esse motivo, os critérios de avaliação são sempre conhecidos pelos estudantes e até mesmo construídos com a sua participação. Afinal de contas, todos avaliam e são avaliados. Mesmo que não existam os registros disso. A avaliação formativa exige visibilidade.

Em síntese, a avaliação formativa é, sobretudo, ética e para as aprendizagens, conforme salienta Villas Boas (2014). Não se trata de avaliar para ranquear, expor ou humilhar quem se encontra aprendendo. A avaliação formativa é resultante do esforço humano de usar o olhar e demais procedimentos para tornar o sujeito mais confiante e consciente do seu percurso no itinerário formativo. Eleger, definir ou construir critérios de avaliação requer, também, coerência entre a teoria e a prática de todos os que se encontram envolvidos no processo de ensino e aprendizagem.

REFERÊNCIAS

ANASTASIOU, Léa das Graças Camargos; ALVES, Leonir Pessate. Estraté- gias de ensinagem. In: ANASTASIOU, Léa das Graças Camargos; ALVES, Leonir Pessate (org.). Processos de ensinagem na universidade: pressupostos para as estratégias de trabalho em aula. 6. ed. – Joinville, SC: UNIVILLE, 2006.

ARREDONDO, Santiago Castillo e DIAGO, Jesús Cabrerizo. Avaliação educacional e promoção escolar. Curitiba: Ibepex; São Paulo: Unesp, 2009.

DE KETELE, Jean Marie. Caminhos para avaliação de competência. In: ALVES, Maria Palmira e MACHADO, Eusébio André. Avaliação com sentido (s): Contributos e questionamentos. De facto editora. Portugal-PT, 2008.

FREITAS, Luiz Carlos de. (et al) Avaliação Educacional: caminhando pela contramão. Vozes, RJ, 2009.

HADJI, Charles. Avaliação desmistificada. Artmed, Porto Alegre – RS, 2001.

TORRES, Rosa Maria. Repetência escolar: falha do aluno ou falha do sistema? In: Marchesi, Álvaro. GIL, Carlos Hernández e colaboradores. Fracasso Escolar: uma perspectiva multicultural. Artmed, Porto Alegre – RS, 2004.

VILLAS BOAS, Benigna Maria de Freitas. Avaliação para aprendizagem na formação de professores. Cadernos de Educação. CNTE, Brasília, n. 26, p. 57-77, jan./jun. 2014.

[1] Ensinagem diz respeito ao par dialético ensino e aprendizagem no qual um não existiria sem o outro, ou seja, só pode haver ensino se houver aprendizagem, dizer que ensinou sendo que os estudantes não aprenderam não faz sentido.

 

3 respostas para “INDICADORES E CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO NA PERSPECTIVA DA AVALIAÇÃO FORMATIVA”

  1. Prezado professor Erisevelton,
    Muito obrigada pelo compartilhamento de algo bastante recorrente no discurso pedagógico, mas pouco compreendido pelos professores: critérios e indicadores. O texto é muito esclarecedor e o exemplo replicável para práticas docentes. Tive a oportunidade de conhecê-lo numa formação no campus São Sebastião do IFB em 2014 e sua explanação é muito clara e objetiva. Aprendi muito.
    Gostaria de questionar o fundamento do conceito “ensinagem” que me parece estar relacionado com a perspectiva histórico-cultural, especialmente, em Vygotsky com o termo perzchivane que tenta atrelar os conceitos de ensino e aprendizagem também de forma dialética. Existe alguma referência sobre isso no conceito de ensinagem?
    Obrigada.

     
  2. Grato pelo carinho, sim a referencia ao termo ensinagem se encontra no proprio texto, veja o livro Processos de Ensinagem na UNiversidade de ANASTASIOU E ALVES, ao seu dispor, prof Eri 9 99491971

     
  3. Caro Eri,
    ótimo texto e muitíssimo esclarecedor. Irá ajudar muito em minhas aulas com alunos de licenciaturas, pois esse é um tema que eles têm muitas dúvidas. Obrigada pela disponibilidade em esclarecer.
    Abraços,

     

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