NÃO HÁ BALA DE PRATA NA EDUCAÇÃO!

Artigo – Maria Alice Setubal

Publicada: 05/06/2014

Não há bala de prata na educação!

 

05/06/2014 – 02h00 – Folha de S.Paulo  

A sociedade brasileira elegeu a educação pública como prioridade nacional. Dos clamores das ruas aos pais e gestores dos municípios da Chapada Diamantina, são exigidas mudanças que promovam uma educação de qualidade para todos.

A comunidade educativa vem produzindo conhecimento sobre as variáveis que impactam a aprendizagem e dialogando com experiências internacionais. Os debates com o poder público têm se multiplicado. Há um consenso de que é preciso considerar a diversidade dos contextos brasileiros e dos atores.

No entanto, o sentido de urgência por mudanças vem sendo responsável por análises fragmentadas e proposições que não reúnem todas as dimensões necessárias. A proliferação de propostas que focalizam a solução a partir de apenas uma variável ou que responsabilizam apenas um dos sujeitos envolvidos pouco tem a contribuir com o debate e, mais grave, gera distorções no papel e atribuições da educação para um projeto de país.  

A destinação de 10% do PIB para a educação pública prevista no texto do Plano Nacional de Educação, aprovado pela Câmara dos Deputados e aguardando a sanção presidencial, vem causando reações que minimizam a importância de investimentos sob alegação de que não há dados que comprovem a relação entre valor investido e aprendizagem. – Blog do Freitas: Luiz Carlos de Freitas comenta artigo de Maria Alice Setubal

No entanto, segundos estudos científicos, instalações de ensino equipadas com bibliotecas e laboratório, educação integral, recursos didáticos diversificados, boa formação inicial e continuada de professores, salários que tornem a carreira docente atraentes para os estudantes universitários com melhor desempenho são, sim, fatores que impactam a aprendizagem.

Análises inconsequentes têm sido responsáveis por desqualificar um dos principais sujeitos do processo de aprendizagem, o professor. A condução do debate a partir da representação dos professores como vítimas ou algozes exemplifica o desconhecimento da constituição da carreira docente e as condições para o exercício de sua função. Omite da sociedade o debate em curso que tem gerado propostas para a qualificação do docente.

Algumas ideias em pauta indicam a necessidade de intensificar conteúdos na formação inicial que aproximem os futuros professores da prática de sala de aula. Ou, ainda, defendem uma organização dos sistemas de ensino que possibilite ao professor o tempo de estudo, planejamento e avaliação de seu trabalho.

A sociedade não pode acreditar em soluções mágicas, que não envolvam todos os atores. Não existe “bala mágica” na educação. O momento é de ação e de convocação de vontades e esforços. Cabe à União, Estados e municípios, de forma articulada com a comunidade educativa e a sociedade civil, realizar mudanças efetivas. À sociedade, cabe controlar as políticas educacionais. Somente dessa forma será possível acelerar o passo para a construção de uma educação pública mais justa e de qualidade.

Em tempo, o título deste artigo é inspirado no professor Luiz Carlos de Freitas, da Unicamp, que há anos vem contribuindo para a melhoria da educação pública brasileira.

MARIA ALICE SETUBAL, doutora em psicologia da educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, é presidente dos conselhos do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec) e da Fundação Tide Setubal

Folha de S.Paulo – 05/06/2014

 

 

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