“PROFESSOR, PRA QUE REFAZER ISSO SE NÃO VAI CAIR NO VESTIBULAR?”

Erisevelton Silva Lima – lima.eri@gmail.com
Doutor em Educação pela Universidade de Brasília

A frase que intitula este artigo foi ouvida por um docente de língua estrangeira que devolveu o trabalho de uma estudante do ensino médio porque o mesmo não possuía capa nem identificação alguma da “pesquisa” realizada. Segundo o professor, tratava-se de um texto retirado da internet e sem referência ao sítio de onde foi extraído. O educador orientou a estudante sobre como deveria proceder para elaborar a capa e as demais informações que deviam constar no trabalho; mesmo assim ela foi procurar a coordenação da escola no intuito de desautorizar o professor.
Desse relato quero discutir alguns pontos importantes. O primeiro diz respeito ao ato formativo realizado pelo professor: ele não tirou pontos ou diminuiu a nota da aluna, ao contrário, localizou algumas fragilidades no trabalho e procurou conduzir às aprendizagens por meio do que foi identificado. Eis aqui um dos princípios da avaliação formativa: fazer para aprender e não para ganhar nota. O argumento de que tal competência não seria exigida no vestibular tem seu lado perigoso quando usado, também, no sentido contrário: você tem que aprender isso porque afinal é o que vai “cair” no vestibular. Em ambas as situações localiza-se uma das maiores crises do ensino médio: a sua identidade. Embora ele seja a última etapa da educação básica, em muitos projetos pedagógicos esse elemento é ignorado, ou seja, centram-se estratégias em intermináveis semanas de provas, simulados e treinos para vestibulares deixando de aprofundar os currículos e torná-los, sobretudo, vivenciados e significativos. As provas são bem-vindas, não devem ser extintas, mas o trabalho pedagógico do qual fazem parte deve ser mais bem priorizado. Nessa mesma escola existe a seguinte organização para o que chamam de avaliação: em cada bimestre aplicam-se um simulado para vestibulares, uma prova multidisciplinar e, por fim, a prova bimestral. Considerando que cada bimestre tem em média oito semanas (para alguns componentes curriculares), as três semanas de provas relatadas tomam, praticamente, cinquenta por cento do tempo destinado às aprendizagens. Pensando no caso da prova multidisciplinar (analisei algumas delas), considerei que mesmo bem intencionadas tornavam-se sem propósitos, afinal as aulas não eram trabalhadas nessa perspectiva, ou seja, as tais provas forjavam um momento de ficção dissociado do cotidiano das salas de aula.
Quero registrar que, neste caso, assim como em muitos outros, não são os professores responsáveis por tal gestão do projeto pedagógico da escola. Eles são obrigados a executar ordens e comandos de empresários da educação ou donos de escolas que pouco ou nada entendem de currículo, avaliação, ensino e aprendizagem.
E há, ainda, quem duvide da cisão entre planejamento e execução no campo educacional. E você que acompanha este site o que pensa a respeito?

 

2 respostas para ““PROFESSOR, PRA QUE REFAZER ISSO SE NÃO VAI CAIR NO VESTIBULAR?””

  1. Concordo plenamente professor!

    O pior é que a falta de entendimento de como avaliar e a relação desta com o processo de ensino aprendizagem está perpetuando em todos os segmentos da educação: da básica á faculdade!!! Da escola pública á particular!!!

    É um absurdo como as faculdades estão conduzindo a forma de avaliar no DF!

    Aonde vamos parar? Isso tem solução?
    As vezes penso estar nadando contra a maré ou falando grego…
    Quando vejo o que a EAPE está levando para se discutir nas escolas, quem está fazendo esta formação(alguns cairam de paraquedas) ,me desanimo com a situação educacional vivida no DF.

    Os grandes especialistas nem passam na porta da EAPE!!!

    A esperança é a ultima que morre!

    Vanêssa Paula
    Professora SEDF

     
  2. Estimada professora Vanêssa Paula é uma alegria tê-la em nosso blog iniciando esse diálogo sobre a avaliação, Vc fez duas perguntas fortes, aonde vamos parar e se isso tem solução. Eu creio que poderemos em cada espaço ocupado por nós oferecermos nossa contribuição, o debate sobre a avaliação é polêmico mas não é possível realizá-lo sem formação adequada, então indique nossos textos para os colegas, convide-os a ler e a se informar como vc bem o fez, eu acredito na força da formação e da informação. Obrigado por colaborar conosco, abço prof Erisevelton ou Prof Eri como costumam me tratar. Meu email esta a sua disposição, lima.eri@gmail.com

     

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