SÉRIES OU CICLOS?

Benigna Maria de Freitas Villas Boas – mbboas@terra.com.br

O regime seriado é nosso velho conhecido. Todos nós estudamos segundo sua organização e até temos dificuldade de aceitar outra lógica de funcionamento da escola. Nesse regime os estudantes são agrupados pelo seu nível de aprendizagem (séries). Cada série costuma ter várias turmas que iniciam o ano letivo juntas, desenvolvem as mesmas atividades e ao mesmo tempo. Todos os estudantes de uma mesma série passam pelo mesmo processo avaliativo. Várias escolas adotam a “semana de provas” para que estas sejam iguais para todos os estudantes, aplicadas ao mesmo tempo e os professores tenham seu trabalho facilitado. Como fica o estudante nesse formato de trabalho escolar? Costuma-se dizer que a escola existe em função dele. Será verdade? Em um dos encontros que tenho tido com professores da rede pública de ensino do DF, inconformada com a intenção da SEDF de ampliar o trabalho com ciclos, uma professora me disse: “se adotamos o regime seriado há tanto tempo por que mudá-lo agora? Não é isso que vai fazer os alunos aprenderem”. Esta pergunta pode ser o ponto de largada da SEDF para preparar suas equipes para a compreensão da organização da escolaridade por meio de ciclos.

Os ciclos pretendem imprimir lógica diferente ao trabalho escolar. Em primeiro lugar, ciclos não são simples agrupamentos de anos ou séries. É preciso analisar se o Bloco Inicial de Alfabetização – BIA – vem simplesmente substituindo a nomenclatura “séries” por “anos”. Em segundo lugar, os ciclos constituem uma maneira flexível de organização da escolaridade levando em conta a conquista das aprendizagens pelos estudantes. A flexibilidade e a conquista das aprendizagens são conceitos-chave nessa sistemática de trabalho. A flexibilidade se revela na compreensão dos tempos e espaços escolares. Tanto os tempos da escola quanto os tempos dos estudantes assumem outra dimensão. Os tempos da escola não se resumem à duração da aula, ao trabalho de cada dia, de cada semana, de cada bimestre e de cada ano letivo. As atividades não se encerram ao final do bimestre com a realização do conselho de classe e a entrega de notas aos pais. Cai por terra a padronização do tempo.

O tempo da escola se entrelaça ao tempo do estudante: diferentemente do regime seriado, trabalha-se com o tempo de que o estudante dispõe para a conquista das suas aprendizagens e não somente com o tempo prescrito pela escola. A compreensão de tempo se alarga. O dia termina, mas no dia seguinte as atividades têm continuidade para cada estudante. A escola está disponível para ele e não o contrário. Assim sendo, o ritmo de aprendizagem dos estudantes é levado em conta.

Os espaços de aprendizagem são ampliados. Não se restringem à sala de aula e à escola nem aos espaços presenciais. Os espaços virtuais ganham destaque.

A organização da escolaridade em ciclos requer que a padronização, a rigidez, o regime seriado, a constituição de turmas fixas e o funcionamento burocrático da escola cedam lugar à constituição de equipes de estudantes que se renovam.

Esta proposta costuma provocar impacto e inquietações. Têm sido veiculadas reportagens sobre a “escola do futuro”. Entendo que temos de oferecer HOJE às crianças e aos jovens a escola que eles e os professores merecem. Assim estaremos construindo a escola do futuro para todos.

 

4 respostas para “SÉRIES OU CICLOS?”

  1. Muito bem escrito o texto. Resume de maneira objetiva alguns fundamentos expressos nas leis e resoluções da educação.

     
  2. Ótimo trabalho!
    Após perder muito tempo na internet encontrei esse blog
    que tinha o que tanto procurava.
    Parabéns pelo texto e conteúdo, temos que ter mais
    artigos deste tipo na internet.
    Gostei muito.
    Meu muito obrigado!!!

     

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