Reorganização do trabalho da escola pós-pandemia

A escola precisará estar preparada para reiniciar as aulas, após o longo período de distanciamento social. Terá de repensar a organização do seu trabalho pedagógico antes de os estudantes a ela retornarem. Quem participará dessa organização? Quanto tempo será destinado a esta tarefa? Pensamos que vários elementos serão considerados, levando em conta cada contexto. Vamos pensar sobre eles e registrar aqui?

Como fortalecer a equipe escolar para que esteja em condições de acolher os estudantes? Lembremo-nos de que toda a equipe que atua na escola, assim como os estudantes e seus familiares, estarão fragilizados. Como será a retomada das atividades? Quais serão as primeiras a serem desenvolvidas?   

Os estudantes e também seus pais/responsáveis poderão estar ansiosos pelas “aulas”. Como enfrentar esta nova situação? Como envolvê-los no planejamento e na retomada do ano letivo? 

A situação de pandemia que estamos enfrentando apresenta grandes desafios para o reinício e a continuidade do trabalho escolar. Todos nós estamos incorporando novas aprendizagens. Quais delas passarão a integrar o trabalho escolar? Que mudanças elas imprimirão no trabalho pedagógico desenvolvido nas escolas e nas salas de aula?

Agora é com vocês, caros participantes, vamos interagir?

 

22 respostas para “Reorganização do trabalho da escola pós-pandemia”

  1. De fato, há relatos de estudantes ansiosos por retornarem à escola para reverem colegas e professores. Será uma oportunidade ímpar para, colaborativamente, ser repensado e construído o formato do trabalho escolar.

     
  2. Acredito que uma enquete junto aos pais/responsáveis e estudantes por meio de recursos tecnológicos poderá trazer informações importantes para a equipe gestora e pedagógica, tendo em vista a organização do trabalho pedagógico de cada comunidade escolar pós-pandemia.

     
  3. Embora apresentado como provisório e sujeito a modificações diante das contribuições que poderão ser apresentadas, o “Plano de Volta às Aulas” apresentado pela SEEDF se mostra preocupante pelo enforque homogeneizador, meritocrático, focado nos resultados dos exames em larga escala e na responsabilização dos estudantes. Os pacotes educativos anunciados também inquietam, pelos riscos que representam à autonomia docente e até mesmo à carreira pública do magistério. Penso que desse modo, o retorno às escolas poderá potencializar os processos excludentes que já existiam antes da pandemia. A efetiva participação da comunidade escolar no debate sobre o assunto, pode desvelar realidades que precisam ser consideradas e respeitadas na elaboração de um planejamento com orientações que visam minimizar as consequências negativas do delicado momento de retorno às escolas.

     
  4. A avaliação é um dos desafios a serem enfrentados no retorno às escolas. Os estudantes apresentarão diferentes situações: alguns terão participado de aulas remotas e outros, não; outros poderão ter mudado de escola; haverá os que tiveram apoio familiar para estudos em casa, outros não. Situações familiares poderão ter criado dificuldades para os estudos em casa. E aí? Como a escola vai se organizar levando em conta situações tão delicadas?
    Uma coisa é certa: as atividades desenvolvidas por meio de ensino remoto não devem receber notas, nem contar como dias letivos. O retorno às aulas presenciais será conduzido com cuidados especiais, porque todos na escola estarão fragilizados. Notas conduzirão a classificações que perturbarão a continuidade do trabalho.

     
  5. Temos diferentes realidades no Brasil. Enquanto algumas escolas conseguiram dar continuidade de forma remota os estudos, por meio de tecnologias, muitas outras estão literalmente de “portas fechadas”. Essa é uma discussão longa. Faço o seguinte recorte: a avaliação deve ocorrer continuamente e com o objetivo de promover as aprendizagens. Mesmo de forma remota, é necessário avaliar. Qual o desafio? Praticar a avaliação formativa! Isso significa que é preciso ficar atento as individualidades, utilizando diferentes procedimentos e instrumentos para atender as especificidades dos estudantes, e a tecnologia pode ser usada a este favor. A discussão dos critérios avaliativos com os estudantes é de fundamental importância, assim como o feedback contínuo e promoção da autoavaliação.
    Não há diferenças significativas entre a avaliação praticada no dia-dia, no ensino presencial, com a que pode ser conduzida de forma remota. A discussão não está no “como” avaliar, mas sim no “por que” e “para que” se avalia, o que revela as concepções do avaliador.
    O que ganha destaque no atual contexto é o que os estudantes devem aprender e como a mediação será feita. A preocupação, portanto, não pode ser em “cumprir os conteúdos do currículos” e “compor uma nota” para garantir o ano letivo. Quais aprendizagens são realmente necessárias? Como alcançar quem não tem acesso? Ao pensarmos nessas questões, concluímos que há muito a ser feito pela educação pública de qualidade social. O que estamos vivenciando agora revelou anos de descaso e negligência com o sistema educacional e nos desafia a fazer diferente para as próximas gerações.

     
  6. Os cursos de licenciatura são responsáveis pela formação inicial dos professores. Para cumprirem o que deles se espera, devem estar muito próximos das escolas de educação básica, acompanhando todas as situações e percalços por elas vivenciadas. Nesse momento de pandemia, é de se esperar que não sejam meros espectadores do que os sistemas de ensino e as escolas vêm promovendo, mas que seus docentes estejam acompanhando suas iniciativas, pesquisando, se articulando e divulgando suas contribuições. Não estou vendo isso acontecer. Dois temas estão na ordem do dia: aulas remotas e avaliação do trabalho dos estudantes. Como se posicionam os cursos de licenciatura sobre eles?

     
  7. O protagonismo dos estudantes é um das justificativas apresentadas pela SEEDF para apresentar o Plano de Volta às aulas da SEEDF, entendendo-os como de “[…] providenciar modos alternativos de aprendizagem e de educação para crianças e adolescentes” e propõe adequação de referenciais teóricos do Currículo em Movimento (2014), especificamente a ideia de que os estudantes são “[…] protagonistas do processo ensino-aprendizagem, tendo o professor como mediador do conhecimento historicamente acumulado, por meio de ações intencionais didaticamente organizadas para a formação de um sujeito histórico e social” (SEEDF, 2014, p. 33).
    Essa questão é especialmente relevante, por ser o estudante central no trabalho pedagógico de sala de aula. É preciso atentar que aprender não é um processo independente, como nos ensina Paulo Freire (1996) não há ensino sem aprendizagem e nem aprendizagem sem ensino. A aprendizagem pressupõe interações entre professores e estudantes, há portanto relação de interdependência entre ensinaraprender. Esse é um pressuposto básico para se pensar e desenvolver o trabalho pedagógico em sala de aula presencial ou virtual.
    Destaca-se também, que ao focar na ideia de providências de modos alternativos de aprendizagem, corre-se o risco de que essas sejam pautadas na responsabilização dos estudantes pelas suas aprendizagens, independentemente das condições didático-pedagógicas e materiais para que ocorram. Na mesma direção, o protagonismo dos estudantes não pode ser confundido com responsabilização desses e muito menos que se abra mão do protagonismo do professor na concepção e mediação do trabalho.

     
  8. A questão não é especificamente o uso de tecnologias da informação e comunicação, mas a forma como estão sendo indiscriminadamente utilizadas; o tempo das “aulas remotas”; as condições de trabalho dos docentes e, especialmente, a grande desigualdade entre os estudantes. Não há pontos e contrapontos. Há um país com imenso abismo social e o investimento em educação é latente, e a cultura do “oportunismo” é cruel. Não precisamos de Estado mínimo. Ao contrário, precisamos de mais ações sociais, de um Estado que consiga de fato alcançar quem precisa. As escolas não precisam de pacotes tecnológicos e materiais didáticos prontos, mas de recursos e gestão pública!

    Vejam o que aponta a pesquisa do Sinpro. Na capital do país, 25% dos estudantes ficarão excluídos de aulas realizadas com uso de tecnologias por falta de acesso. https://www.sinprodf.org.br/mais-de-100-mil-estudantes-da-escola-publica-do-df-nao-conseguem-ter-acesso-a-ead/

    As teleaulas, como mencionei em meu último texto escrito para o Blog do Gepa, tem sido uma falácia. Outra pesquisa do Sinpro aponta o mesmo. https://www.sinprodf.org.br/pesquisa-comprova-fracasso-da-teleaula/

     
    1. Muitas são as dificuldades da utilização das TICs na educação. Além do acesso, tanto do estudante quanto do professor, tem a falta de formação continuada para esses profissionais. Como uma situação emergencial, alguns professores estão superando dificuldades e realizando aulas remotas como podem! Daí a utilização indiscriminada. Essa revolução tecnológica que está prestes a acontecer na educação do DF, e que já iniciou-se em outras unidades da federação, há de trazer muitos conflitos, injustiças (em relação a democratização dos direitos de aprender), porém, acredito que haverá algo positivo: a mobilização das aprendizagens e consequentemente o desenvolvimento de diversas competências socioemocionais como autogestão, abertura ao novo, resiliência emocional, amabilidade e engajamento com o outro. O imprevisível tomou a sua forma física na escola! Capacidades individuais de se relacionar consigo mesmo e com o outro, estabelecer objetivos, tomar decisões e enfrentar situações adversas, lançando mão das ferramentas tecnológicas, me faz acreditar que a curiosidade para aprender, a empatia e a persistência dos professores nos propõe, ao menos, mudança de comportamentos, o que na minha opinião, constitui aprendizagem.

       
  9. Muitas são as dificuldades da utilização das TICs na educação. Além do acesso, tanto do estudante quanto do professor, tem a falta de formação continuada para esses profissionais. Como uma situação emergencial, alguns professores estão superando dificuldades e realizando aulas remotas como podem! Daí a utilização indiscriminada. Essa revolução tecnológica que está prestes a acontecer na educação do DF, e que já iniciou-se em outras unidades da federação, há de trazer muitos conflitos, injustiças (em relação a democratização dos direitos de aprender), porém, acredito que haverá algo positivo: a mobilização das aprendizagens e consequentemente o desenvolvimento de diversas competências socioemocionais como autogestão, abertura ao novo, resiliência emocional, amabilidade e engajamento com o outro. O imprevisível tomou a sua forma física na escola! Capacidades individuais de se relacionar consigo mesmo e com o outro, estabelecer objetivos, tomar decisões e enfrentar situações adversas, lançando mão das ferramentas tecnológicas, me faz acreditar que a curiosidade para aprender, a empatia e a persistência dos professores nos propõe, ao menos, mudança de comportamentos, o que na minha opinião, constitui aprendizagem.

     
  10. Elis, é importante textos como o seu para que não nos acostumemos a invisibilizar os milhões de estudantes brasileiros que terão mais uma cratera entre suas condições de vida e o que se deveria almejar como direitos naturais para a permanência deles na escola. Obrigada por não deixar de evidenciar o conflito.

     
  11. O documento Gestão Estratégica para a Realização das Atividades Pedagógicas não Presenciais no Distrito Federal, da SEEDF, traça diretrizes para a organização do trabalho pedagógico não presencial. Chamou-me a atenção a orientação para que os estudantes (de quais níveis e etapas?), ao longo de cada período letivo (bimestre/semestre), “formem” um portfólio ou webfólio de atividades por componente/unidade curricular, ou por área do conhecimento, por meio do qual os professores atestarão a sua presença e também poderão avaliá-los. “Para a Educação de Jovens e Adultos, a entrega do portfólio com as atividades deverá acontecer ao final de cada módulo ou semestre letivo”. Trata-se de incompreensão do uso do portfólio que, contrariamente à intenção a ele atribuída no documento, constitui um rico processo de avaliação. Introduzir o portfólio como meio de registrar a presença dos estudantes significa não compreender seu grande potencial. Além disso, o estudante não o “entrega”. Ele o constrói, sob a orientação constante do professor.
    Orienta-se, também, para que o portfólio/webfólio seja postado “em ambiente virtual de aprendizagem (plataforma Escola em Casa DF) ou entregue, de forma impressa, diretamente na escola”. Professores e estudantes estão preparados para a construção de portfólios? É adequado adotá-los em situação emergencial? Se as escolas não estão funcionando e levando em conta a situação de distanciamento social em que nos encontramos, cabe fazer a “entrega” do portfólio na escola? Quem irá fazer isso e quem o receberá na escola? São situações incompreensíveis e que necessitam ser revistas. No afã de “contar” dias letivos, alguns sistemas de ensino estão em busca de alternativas mirabolantes. Como ficam as aprendizagens?
    As diretrizes do documento em tela suscitam muitas análises. Preocupa-me, particularmente: a crise sanitária que estamos enfrentando está ensejando iniciativas educacionais descabidas e prejudiciais à conquista das aprendizagens por todos os estudantes. Além disso, os professores estão tendo seu trabalho desqualificado e desvalorizado, porque não participam da formulação de ideias como as que aqui estão evidenciadas.
    Também preocupante é a aprovação de um documento com este teor pelo Conselho de Educação do DF.

     
  12. Neste período de aulas não presenciais, o uso de estratégias/procedimentos avaliativos pelos professores não pode prescindir de sua natureza formativa, ou seja, contribuir para a autonomia, construção e avanço das aprendizagens de todos os estudantes pela mediação sistemática do professor e interação entre os pares. Não adianta a proposição de métodos diferenciados no ensino remoto se os objetivos e as práticas de avaliação visam apenas validar a frequência escolar e atribuir notas. Mais do que isto, a preocupação primeira deve ser a garantia das aprendizagens. A autoavaliação pelo estudante a partir dos objetivos de aprendizagem discutidos coletivamente e o feedback ininterrupto do professor constituem esse processo. Para isso é fundamental promover situações desafiadoras e instigantes no ambiente virtual de aprendizagem que promovam a autonomia dos estudantes e valorizem todas as atividades/produções realizadas sem desconsiderar sua trajetória escolar. Cabe destacar que a qualificação do processo educativo no ensino remoto requer que os professores discutam e construam juntos com os estudantes, pais/ responsáveis formas de garantir a aprendizagem, considerando os obstáculos existentes para tal e as peculiaridades de cada família na busca conjunta de soluções concretas. Isso dará aos sujeitos envolvidos ideia de pertencimento a uma proposta de trabalho escolar com práticas educativas solidárias e humanizadas. Não esqueçamos que uma educação para ser democrática inclui todos os estudantes!

     
  13. Nesse momento de atividades educacionais remotas, outro desafio para o professor é a atualização da linguagem. Isto é, a utilização dos dispositivos tecnológicos demandam uma linguagem dinâmica, objetiva e visual. A palavra e a fala devem ser resignificadas.

     
  14. Uma das provocações feitas no início deste fórum chama a atenção para os desafios que as escolas enfrentarão quando retomarem o trabalho presencial. Que ligação farão entre este trabalho e o que foi realizado remotamente? Haverá uma corrida pelos “conteúdos”? Será inapropriada esta decisão. Aí a avaliação entre em cena. Não a classificatória, interessada em números e notas, para “recuperar o tempo perdido”. Esqueçamos esta faceta da avaliação. A formativa deverá ganhar força, por ser a que acompanha a construção das aprendizagens pelos estudantes, oferecendo feedback constante para que possam avançar. Não tem compromisso com resultados numéricos. Seu alvo são as aprendizagens, assim no plural.

     
  15. Em meio a tantas mazelas desveladas pela pandemia, encontra-se o escancaramento do caos social e educacional que vivíamos desde o período anterior a ela. As consequências das não-aprendizagens construídas até então, são agora agravadas pela necessidade de um ensino remoto. A avaliação é uma delas. Se práticas avaliativas formativas já fossem rotineiramente vivenciadas no trabalho pedagógico conduzido presencialmente, teríamos hoje maiores chances de vislumbrar caminhos para mantê-las virtualmente. O uso de recursos tecnológicos não impede de a avaliação seja conduzida com propósitos formativos. A diversificação de instrumentos e procedimentos avaliativos relacionando-os aos diferentes e particulares modos de aprender e aos objetivos que se pretende alcançar são fundamentais nesse processo.

     
  16. Sim, Enílvia. A avaliação formativa pode e deve ser praticada em aulas remotas, principalmente pelo oferecimento contínuo de feedback aos estudantes. Devem ser criadas formas para isso acontecer. O feedback é componente obrigatório da avaliação formativa. Além de favorecer o avanço das aprendizagens, ele estreita relações entre professor e estudantes.

     
  17. Professora Benigna, as atividades avaliativas propostas pelos professores aos estudantes, durante o ensino remoto, poderão ser consideradas válidas para reorganização do trabalho pedagógico pós-pandemia? O que pensa a esse respeito?

     
    1. Sim. As atividades realizadas em aulas remotas deverão ser retomadas para garantir a continuidade do processo. As avaliativas também terão prosseguimento. Tudo o que estamos enfrentando é carregado de muitas aprendizagens para todos: estudantes, gestores e familiares. O grande desafio para as escolas será fazer a conexão entre essas duas modalidades. O trabalho remoto não poderá ser entendido como aquele que foi usado para “preencher o tempo” e dar satisfação às famílias. Aos sistemas de ensino e às escolas, em particular, cabe zelar pela qualidade do trabalho que realizam.

       
  18. Quando os estudantes, professores e demais profissionais que atuam na escola retornarem ao trabalho presencial, além dos cuidados sanitários, quais atividades terão prioridade?

     
  19. Acredito que a escuta sensível e o acolhimento dos estudantes e seus respectivos pais/responsáveis serão estratégias fundamentais para o recomeço das aulas presenciais, tendo em vista o processo avaliativo formativo.

     
  20. Muito obrigada Professor Eri, por suas contribuições!
    São reflexões que não cabe somente para a Educação, mas para a vida! É necessário repensar as práticas, torná-la mais reflexiva , mais ética e com certeza mais humanizada! Muito obrigada!

     

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