Escola: caminho para a libertação ou para a prisão?

Escola: caminho para a libertação ou para a prisão?

Enílvia Rocha Morato Soares

Ao defender o projeto de militarização das escolas do Distrito Federal, o secretário adjunto da Secretaria de Estado de Educação do DF alegou, em entrevista ao Bom dia DF do dia 12 de março, que a disciplina dos estudantes assegurada pelos policiais resultaria em maior tempo de aula e, em decorrência, melhoraria a qualidade do trabalho desenvolvido pelos professores.

O entrevistado não explicou, nesse momento, o conceito de “qualidade” a que estava se referindo. Se considerarmos, no entanto, que um dos critérios adotados pela SEEDF para definição das quatro escolas que implantariam inicialmente o projeto foi a nota do IDEB, pode-se pressupor que a qualidade destacada pelo secretário está fortemente associada aos resultados obtidos nos exames externos. Freitas (2009, p. 66) desmistifica esse raciocínio ao explicar que “o desempenho de uma escola implica ter alguma familiaridade e proximidade com o seu dia-a-dia o que não é possível para os sistemas de avaliação em larga escala realizados pela federação ou pelos estados, distantes da escola”. Continue lendo “Escola: caminho para a libertação ou para a prisão?”

 

País mantém desde 2011 diferença de aprendizagem entre ricos e pobres

Dados sobre o desempenho dos estudantes brasileiros estão disponíveis. Em vez de analisá-los e tomar providências para que todos os estudantes aprendam, o MEC cria uma comissão para censurar os itens de provas do ENEM. Lamentável.

JC Notícias – 21/03/2019

País mantém desde 2011 diferença de aprendizagem entre ricos e pobres

Disparidade chega a ser de cinco vezes, segundo nível socioeconômico

No Brasil, enquanto 83% dos estudantes mais ricos saem da escola pública tendo aprendido o adequado em língua portuguesa ao final do ensino médio, entre os estudantes mais pobres, essa porcentagem é 17%. Em matemática, 63,6% dos alunos mais ricos aprenderam o adequado e apenas 3,1% dos mais pobres saem da escola sabendo o mínimo considerado suficiente na disciplina. Os dados são do Todos pela Educação (TPE), organização social, sem fins lucrativos.

A entidade analisou os microdados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) 2017 e mostrou que há diferença grande e constante, desde 2011, entre o desempenho dos mais ricos e dos mais pobres em todos os níveis analisados, no 5º e no 9º ano do ensino fundamental e no 3º ano do ensino médio. A disparidade entre as porcentagens de estudantes que aprendem o adequado chega a ser quase cinco vezes maior entre aqueles com maior nível socioeconômico e os com menor nível.

“A educação, que poderia ser uma das principais ferramentas para diminuir a desigualdade de aprendizagem não tem conseguido fazer isso de maneira consistente no Brasil”, diz o diretor de Políticas Educacionais do TPE, Olavo Nogueira Filho. “A gente está avançando na média brasileira, mas está mantendo um alto grau de desigualdade entre alunos de nível socioeconômico mais alto e mais baixo. Estamos melhorando sem conseguir diminuir esse resultado entre mais ricos e mais pobres”, avalia.

O Saeb avalia estudantes quanto aos conhecimentos de língua portuguesa e matemática e é aplicado de dois em dois anos. A avaliação é de responsabilidade do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), que classifica os estudantes em seis grupos, considerando o nível socioeconômico.

O grupo 1 reúne os estudantes com o menor poder aquisitivo. São, em maior parte, estudantes com renda familiar mensal de até um salário mínimo e que têm, em casa, bens elementares, como uma geladeira e uma televisão, sem máquina de lavar roupa ou computador. Os pais ou responsáveis têm formação até o 5º ano do ensino fundamental ou inferior.

Na outra ponta, está o grupo 6, com estudantes com renda familiar mensal de sete salários mínimos ou mais, cujos pais ou responsáveis completaram a faculdade e que tem em casa três ou mais televisores, dois ou mais computadores, entre outros bens.

A diferença é constatada desde o 5º ano do ensino fundamental, quando 90,4% dos mais ricos aprendem o adequado em língua portuguesa e 83,9%, em matemática e apenas 26,3% dos mais pobres aprendem o adequado em português e 18,1%, em matemática.

De acordo com Nogueira Filho, a escola pública não está cumprindo um de seus principais potenciais: reduzir desigualdades. “Para fazer isso, é preciso ter uma política educacional que se preocupe com essa questão. Uma política educacional que se traduza em mais recursos para quem tem maior desafio”, defende.

De acordo com o diretor, ocorre o contrário no país. “Os municípios mais vulneráveis, em geral, são os que têm menor investimento por aluno quando comparados com regiões de nível socioeconômico mais elevado”.

Aprendizagem adequada

De acordo com o levantamento do TPE, em média, considerando juntos todos os níveis socioeconômicos, houve melhora na aprendizagem no país, no ensino fundamental. No ensino médio, há praticamente estagnação desde 2001.

O maior salto foi no 5º ano do ensino fundamental. Em 2001, 23,7% dos estudantes aprendiam o adequado em língua portuguesa e 14,9%, em matemática. Essas porcentagens chegaram a 60,7% e a 48,9%, respectivamente, em 2017.

No final do ensino médio, em 2001, 25,8% dos jovens deixavam a escola sabendo o mínimo adequado em português e 11,6%, em matemática. Em 2017, essas porcentagens passaram para 29,1% em língua portuguesa e reduziram para 9,1% em matemática.

O TPE considera como aprendizagem adequada estudantes que obtiveram pelo menos, em língua portuguesa, 200 pontos no 5º ano do ensino fundamental, 275 no 9º ano e 300 no final do ensino médio. Em matemática, é necessário tirar pelo menos 225 pontos no 5º ano, 300 pontos no 9º ano e 350 pontos no 3º ano do ensino médio.

As pontuações foram definidas por um conjunto de especialistas que buscou como referência, inclusive, o desempenho de estudantes de nível semelhante em outros países.

Seguindo os níveis propostos pelo Inep, essas pontuações significam que os estudantes devem estar pelo menos no nível 5 de 10 níveis em matemática e no nível 4 de 9 níveis em língua portuguesa, no 5º ano; no nível 4 de 8 níveis em português e 5 de 9 níveis em matemática, no 9º ano; e no 6 de 10 em matemática e nível 4 de 8 níveis em língua portuguesa, no 3º ano do ensino médio.

Ministério da Educação

No ano passado, o Ministério da Educação divulgou, pela primeira vez, o nível que considera adequado para cada etapa. Os níveis considerados são mais rígidos do que os definidos pelo Todos pela Educação, considerando adequado apenas o nível 7 em ambas as disciplinas. A métrica foi questionada por especialistas.

Pelo critério do MEC, apenas 1,62% dos estudantes obteve o mínimo adequado em língua portuguesa ao final do ensino médio e 4,52%, o mínimo em matemática, em 2017.

Agência Brasil

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Sentido! Ainda a militarização de escolas públicas do DF

Sentido!

Ainda a militarização de escolas públicas do DF

Benigna Villas Boas

Hoje, 12/03/2019, faz um mês da implantação da militarização de escolas públicas do DF e muitas dúvidas, incompreensões e controvérsias persistem. O Bom Dia DF de hoje dedicou um bom tempo a este tema. O que mais me chamou a atenção foi a declaração do Sub-Secretário de Educação, segundo o qual a falta de professores será suprida por militares. Aliás, cabe esclarecer que ele não estava à vontade para dar informações, estava até titubeante. Parecia não entender bem o que essa iniciativa significa. Equipes do governo estão usando o precioso tempo de aprendizagens dos estudantes das escolas públicas para ensaiar uma sistemática com vistas a moldar o seu comportamento. As imagens do programam mostram isso. Preencher o tempo de aulas por militares, quando faltam professores, é um descaso e um descompromisso com as aprendizagens dos estudantes das escolas públicas.  Continue lendo “Sentido! Ainda a militarização de escolas públicas do DF”

 

AVALIAÇÃO FORMATIVA: EM TODAS AS ESCOLAS?

 

AVALIAÇÃO FORMATIVA: EM TODAS AS ESCOLAS?

Leda Regina Bitencourt da Silva

 

O Brasil já ultrapassou a etapa que discute o direito à educação dentro do cárcere. Está agora no estágio em que deve analisar as suas práticas e experiências, procurando instituir programas, consolidar e avaliar propostas e políticas. Precisamos buscar possíveis e novos caminhos para o plano institucional que abriga homens e mulheres em situação de privação de liberdade em prol da implementação de políticas públicas voltadas para oferta educacional de qualidade no Sistema Penitenciário. (SAUER; JULIÃO, 2012, p.4)

O Distrito Federal tem reiteradamente colocado em seus documentos que a avaliação formativa é a que orienta suas práticas em todas as unidades escolares. Continue lendo “AVALIAÇÃO FORMATIVA: EM TODAS AS ESCOLAS?”

 

Materiais didáticos padronizados e provas unificadas transformarão a vida dos estudantes da rede pública de ensino do Distrito Federal?

Materiais didáticos padronizados e provas unificadas transformarão a vida dos estudantes da rede pública de ensino do Distrito Federal?

Prof.ª Dr.ª Elisângela Gomes Dias

 

Em entrevista recente à Agência Brasília, o secretário de Educação do DF, Rafael Parente, anuncia sua proposta de “humanizar a gestão das escolas públicas”. Entre os projetos considerados como “inovadores” está a “elaboração de materiais didáticos próprios, elaborados por professores da rede pública do DF, a criação de bimestrais unificadas e a elaboração de atividades comuns de reforço pedagógico”.

Como é possível perceber, a qualidade do ensino agora vem atrelada com à promessa da inovação, mas a estratégia recorre à antiga máxima: para maior qualidade, padronização e mais exames, o que significa maior responsabilização da escola e dos/as professores/as. Trata-se de uma lógica confusa de um sistema globalmente deficiente, o qual sequestra a avaliação como o amuleto capaz de resolver a crise que abate a educação. A elaboração de material didático e atividades comuns de reforço escolar são tomadas como proposta milagrosa frente aos baixos índices de proficiência revelados pelo IDEB. Continue lendo “Materiais didáticos padronizados e provas unificadas transformarão a vida dos estudantes da rede pública de ensino do Distrito Federal?”