Saúde mental dos alunos é principal preocupação na volta às aulas

JC Notícia – 30/01/2023

Para especialistas, pais precisam trabalhar em parceria com escolas para reverter quadro de esgotamento emocional dos estudantes

Após dois anos de aulas presenciais interrompidas pela pandemia, a expectativa era de que o ano letivo de 2022 seria de retomada da normalidade das relações escolares. As escolas, no entanto, se depararam com uma situação inédita de dificuldade de convívio e esgotamento mental dos alunos. Por isso, a saúde mental é vista como principal preocupação nesta volta às aulas.

Além das consequências do isolamento da pandemia, as dificuldades de aprendizado acumuladas nesse período trouxeram para os alunos ansiedade, frustração e estresse. Para evitar a repetição desse quadro, as escolas se preparam para trabalhar melhor as questões emocionais.

Veja o texto na íntegra: Folha de S. Paulo

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Governo quer recriar prova anual para medir alfabetização de crianças

JC Notícia – 26/01/2023

Segundo novo presidente do Inep, exame será aplicado a todos os alunos de 2º ano do fundamental; Enem não deve ser alterado em 2023

Na esteira da prioridade que o governo federal tem divulgado para a alfabetização, o novo presidente do Inep (Instituto Nacional de estudos e Pesquisas Educacionais), Manuel Palácios, planeja a volta de uma avaliação anual para medir se as crianças brasileiras estão alfabetizadas.

Além de anual, a ideia é que essa avaliação seja aplicada a todos os alunos do 2º ano.

Palácios disse à Folha que o monitoramento das crianças será essencial para o sucesso dessa nova política, que vem sendo desenhada pelo governo.

“Se for fazer acompanhamento, tem de ser uma avaliação anual. E com instrumentos de acompanhamento para a própria escola”, disse ele, reforçando a importância de uma avaliação censitária para que escolas e professores possam se apropriar dos resultados.

Veja o texto na íntegra: Folha de S. Paulo

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A política educacional do MEC

Publicado em 24/01/2023 por Luiz Carlos de Freitas, no blog do Freitas

A política educacional do Ceará foi assumida como referência pelo Ministério da Educação do atual governo. A decisão não é produto de pressões naturais que surgem de um governo de “reconstrução nacional” que tem que abrigar uma ampla composição de forças. Muito menos é produto de uma necessidade de “apoiar o governo Lula contra a barbárie”, embora muitos vão tentar se refugiar neste guarda-chuva para contemporizar ou justificar.

Foi uma opção do novo governo que já estava delineada desde os primeiros estudos da transição no final de 2022 e até mesmo em passagens de Lula pelo Ceará ainda na campanha eleitoral. O Ministro pertence ao Partido dos Trabalhadores e não a algum partido da coalizão que tivesse que ser contemplado para ampliar o leque de apoios. Os relatos de quem esteve no interior da transição são claros em mencionar este embate com Fundações e, de forma geral, com o chamado “terceiro setor”, que se organizou em torno da experiência do Ceará.

Também os Estados Unidos teve o seu “milagre do Texas” que serviu para impor meritocracia na educação para todo o pais através da No Child Left Behind, uma lei que levou 14 anos para se constatar seu fracasso na elevação da qualidade da educação, mas que foi eficaz para incentivar a ampliação da privatização da educação. Apesar das diferenças com o Texas, especialmente no planejamento da responsabilização das escolas, lá mais duras ainda, a filosofia é a mesma.

George Bush (filho) implantou esta lei em 2001, gabando-se de sua atuação como governador do Texas. Ele aplicou em seu estado, quando era governador, e apresentou os “resultados” para convencer democratas e republicanos a embarcar na lei. Logo o “milagre do Texas” seria descoberto e esclarecido, mas não antes de que a lei tivesse sido aprovada.

O Ceará será o nosso Texas. Infelizmente, o Ministério da Educação foi capturado pelos métodos imediatistas e oriundos de políticas neoliberais fracassadas em países centrais defendidos pelo Todos pela Educação, por fundações e ONGs que já operavam no estado ou apoiavam o Ceará na implementação destas.

Tais políticas, que rondavam governos anteriores, agora voltam a ter livre trânsito no MEC, na contra-mão das expectativas de boa parte da comunidade educacional progressista.

Para o leitor entender melhor porque nos opomos a estas políticas, recomendo a leitura do artigo que acaba de ser publicado na revista “Estudos em Avaliação Educacional”, da Fundação Carlos Chagas, por Andréia Ferreira da Silva,  Luciana Leandro da Silva e Arlane Markely dos Santos Freire e que caracteriza as “políticas de accountability na educação estadual do Ceará, Pernambuco e Paraíba”.

Para os autores:

“Os tipos de mecanismos criados, de acordo com as análises apresentadas, não se orientam pelos princípios democráticos e participativos, que visam a fortalecer a atuação do Estado e da sociedade na garantia do direito à educação universal e igualitária,  mas  pelos  princípios  da  meritocracia  e  da  competição,  adotando,  segundo  Maroy e Voisin (2013), ferramentas de “prestação de contas de tipo empresarial” em detrimento  de  ferramentas  de  “prestação  de  contas  de  tipo  democrática”. “

Acesse o estudo aqui.

 

Ministro diz que meta é ensino integral para todos e defende debater democracia e política na escola

JC Notícia – 20/01/2023

Universalizar modelo de jornada ampliada é meta, diz Camilo Santana; ele também fala sobre importância de discutir democracia em sala de aula

O ministro da Educação, Camilo Santana (PT), quer que todas as crianças estudem em tempo integral nas escolas públicas brasileiras. Para isso, seria necessário mudar a situação de mais de 80% dos cerca de 40 milhões de alunos do País, que hoje permanecem nas escolas por cerca de 4 horas. Em países desenvolvidos, contando esportes e atividades extraclasse também gratuitas, o ensino chega a ocupar 10 horas.

“O plano será ousado para que possamos dar um salto mais rápido na educação do País”, disse ao Estadão, na 1ª entrevista no cargo. Estados como Pernambuco e Ceará, chefiado por Camilo por oito anos, estão entre os que mais têm alunos no integral. Pesquisas dizem que o modelo reduz o abandono escolar, cria mais empregabilidade e aumenta a conexão do professor e do aluno com a escola. Mas custa o dobro do valor por aluno – e o governo Lula (PT) começa com espaço fiscal restrito.

Veja o texto na íntegra: O Estado de S. Paulo

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A tecnologia educacional e seu impacto como meio de transformação social

JC Notícia – 13/01/2023

A tecnologia deve ser utilizada para conciliar e criar oportunidades e não aumentar a diferença entre alunos, aponta reportagem da nova edição da Ciência & Cultura

As tecnologias de informação e comunicação (TICs) não apenas revolucionaram nosso modo de viver, mas também nosso modo de aprender. Atualmente, são diversos os equipamentos tecnológicos utilizados nas salas de aula, como bibliotecas eletrônicas, e-books, dispositivos digitais, quadros interativos que facilitam e integram a educação. Isso é o que discute reportagem nova edição da revista Ciência & Cultura, que tem como tema “Ciência e Vida”. A edição especial aborda as várias maneiras como a ciência e a tecnologia contribuem com diversos aspectos de nossa vida diária.

Hoje são vários os recursos que podem ser utilizados na sala de aula para ajudar professores e alunos a navegarem em um oceano de informações. Porém, uma questão que permanece relevante é como fazer para que aqueles que não possuem acesso a essas tecnologias possam também aproveitar todas as suas vantagens. Além disso, é preciso deixar claro que as tecnologias não podem se tornar uma ferramenta principal para o processo de ensino-aprendizagem, mas sim, um mecanismo que proporcione a mediação entre aluno, professor e saberes escolares.

“Essas tecnologias podem criar e ampliar o abismo entre alunos de diferentes classes sociais. Vimos na pandemia a diferença entre as escolas privadas e as públicas. As privadas em três meses se ajustaram ao novo modelo. As públicas ainda estão se recuperando, com escolas que apenas agora estão voltando e um atraso imenso”, enfatiza Naomar de Almeida Filho, professor emérito de Epidemiologia no Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e professor visitante no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), onde ocupa a Cátedra Alfredo Bosi de Educação Básica.

No entanto, não é possível negar que essas tecnologias já fazem parte do contexto escolar e que podem ser grandes aliadas no processo educacional. A utilização de computadores nas escolas vem rompendo barreiras e se desenvolvendo de forma positiva quanto à importância do reconhecimento do seu benefício para explorar as habilidades e competências diversas, organizando e facilitando o desempenho no aprendizado do aluno. “Em tese, não existe elemento mais socialmente inclusivo do que essas tecnologias digitais. Isso também vai contra aquela ideia de que as tecnologias são desumanizantes, porque já existem inovações que permitem criar a sensação de pessoas de diferentes lugares estarem no mesmo ambiente. Se usado positivamente, isso pode aproximar as pessoas e ampliar o contato e a troca de experiências”, aponta Almeida Filho.

Leia o artigo completo em:

Christiane Bueno – Ciência & Cultura

 

Nota mais alta é sinônimo de boa educação?

Publicado em 08/01/2023 por Luiz Carlos de Freitas, no blog do Freitas

A propaganda que se faz sobre as supostas estratégias bem-sucedidas do Ceará e de outros estados para melhorar a educação ancora-se na existência de IDEB alto. Em termos políticos isso pode ser suficiente, mas em termos educacionais é pouco.

Contribui para isso, o fato do IDEB ser apresentado em uma escala 0 a 10, o que faz o senso comum olhar para o resultado como se ele fosse uma “tarefa escolar” onde o objetivo é tirar 10. No entanto, pela metodologia de construção do IDEB notas próximas de 10 ou mesmo próximas de 0 são estatisticamente improváveis. Por isso, quando vemos um município com IDEB 9,9 – penso que há muito a ser esclarecido antes de se aceitar este resultado. Mas, independentemente desse detalhe técnico, suponhamos um IDEB alto, nota 7 por exemplo, este índice seria sinônimo de boa educação?

Não. A qualidade da educação não pode ser extraída diretamente de uma nota, sem levar em conta todo o planejamento do processo educativo. A qualidade da nota depende da qualidade dos objetivos e métodos para os quais a educação foi planejada e até mesmo da qualidade dos indicadores usados para detectar se tais objetivos foram obtidos. Portanto, não é uma questão apenas de ter uma governança que alinha objetivos, métodos e avaliação a metas quantitativas.

como alerta Alysson Mascaro: “a esquerda deve ter um papel educador – e não ser apenas uma boa entregadora de políticas públicas”.

Posso ter objetivos elevados ou não, posso ter objetivos baseados em um conceito de formação humana ampliado ou conceitos estreitos de qualificação para o mundo do trabalho baseados em competências e habilidades.

Se os objetivos são limitados, nota mais alta não reflete qualidade, pois não pode ir além dos limites do conceito de formação humana utilizado e seus objetivos. E se associamos objetivos limitados a competição e concorrência, criando um “mercado” onde se obtém recursos públicos meritocraticamente a partir de resultados em testes, menos ainda.

Para ilustrar, suponhamos que as escolas militarizadas existentes no país tivessem gerado um IDEB alto, algo em torno de 7, recomendaríamos que todas as escolas do Brasil fossem militarizadas?

Os defensores da militarização de escolas iriam argumentar baseados no fato dela aumentar o IDEB e tentariam explicar tal aumento pela militarização que supostamente teria permitido remodelar o ambiente e a liderança dos educadores da escola, a motivação dos estudantes agora livres da indisciplina e seguidores da ordem, o alinhamento dos professores com as metas e com o plano de estudo bem ordenado. Enfim, diriam que o IDEB mais alto se deve à existência de uma “governança” focada em “disciplina e ordem”.

E se quisessem induzir mais militarização, iriam distribuir os recursos públicos, por exemplo o ICMS do estado, em função dos resultados da implantação da militarização nos municípios. Finalmente encerrariam a discussão dizendo que há “robustas evidências empíricas” sobre a eficácia da militarização. Mas a militarização seria adequada para os jovens, para a democracia e para o país?

Políticas ancoradas em exames nacionais de larga escala e indicadores como o IDEB ganharam notoriedade com as políticas neoliberais nos Estados Unidos para pressionar as escolas a adotar políticas centralizadas, sendo hoje utilizados, de forma pelo menos mais cautelosa.

Primeiro, porque a avaliação americana (NAEP) não é censitária. É feita em forma amostral em escala nacional, deixando para os Estados e Municípios que estão mais perto das escolas, a criação de indicadores censitários.

Mas, não é só isso, em segundo lugar, pelo princípio de Campbell, “um indicador quantitativo, ao ser usado para a tomada de decisões, fica mais sujeito a manipulações e assim sua própria existência distorce e corrompe os processos que pretende monitorar“.

Sob pressão, as falcatruas se multiplicam nas redes e escolas – incluindo a ocultação de alunos sob o rótulo da medicalização ou das necessidades especiais ou ainda aproveitando brechas para excluir estudantes de baixo desempenho das provas que derrubariam a média da escola.

Por isso, o IDEB não pode ser utilizado isoladamente como fazemos. Para melhorar o diagnóstico são necessários outros indicadores das redes associados a ele.

O INEP já deu um passo na direção de melhorar o SAEB construindo o SINAEB em 2016. Naquela época o grupo de reformadores do governo Temer foi contra. Até a publicação do texto foi censurada no INEP, mas a ANPEd divulgou.

Surpreendentemente, em 2021 foi tomada uma iniciativa para rever o SAEB, como se nada tivesse sido feito antes pelo INEP.

Ainda no governo Bolsonaro, foi criada uma comissão com 23 membros entre titulares e suplentes na qual o principal órgão técnico, o INEP, tinha uma representação minoritária de dois membros, nenhum deles envolvidos com a concepção do SINAEB. Não houve nenhuma discussão interna no INEP e, ao que consta, os dois únicos membros do INEP foram trocados três vezes, período em que a DAEB teve três diretores diferentes.

A sobralização do MEC e da educação brasileira certamente contará com a aprovação deste grupo de reformadores que atuou sob Temer e que foi contra o SINAEB, bem como das organizações empresariais que sempre caminham junto. Isso poderá ser uma trava para se avançar não só em direção ao SINAEB, mas também na direção de uma política educacional que supere a reforma empresarial.

 

A entrega do MEC à lógica empresarial

Publicado em 06/01/2023 por Luiz Carlos de Freitas, no blog do Fretas

A entrega do INEP a Manuel Palácios, que iniciou o desenvolvimento de uma base nacional comum curricular ainda no governo Dilma, a qual daria origem à BNCC da era Temer, é emblemática. Ela é a cena final que encerra as possibilidades de pensarmos em uma atuação renovada, fora dos cânones da reforma empresarial da educação. Manuel Palácios é também o criador do CAED na Universidade de Juiz de Fora, órgão com contratos de assessoria em avaliação em escala nacional nos Estados e Municípios.

A indicação de Katia Schweickardt para a Secretaria de Educação Básica do MEC que foi Secretária Municipal de Educação em Manaus na gestão de Arthur Virgílio Neto, do PSDB, e desenvolveu uma gestão com programas em interface com a iniciativa privada complementa este cenário.

O desenho final é uma trajetória de entrega e um tapa na cara daqueles que pensaram que um governo progressista poderia representar uma revisão do rumo das políticas educacionais e de avaliação na esfera federal, aceleradas por Temer. É também um indicador da lógica meritocrática que toma o MEC, à qual o Ministro já se referiu em sua posse e em entrevistas.

O que começou mal na transição se converte em algo cada vez pior que revela uma proximidade muito grande com as políticas de aparelhos ideológicos de empresários que se organizam em entidades como o Todos pela Educação e similares.