Nem voltar agora, nem se acomodar: a escola precisa se redescobrir para mudar

Erisevelton Silva Lima

Erisevelton Silva Lima é Pedagogo, Mestre e Doutor em Educação (UnB), atua em gestão de escola de educação básica no DF. Professor da SEDF. Pesquisador (GEPA) e formador na área de avaliação e organização do trabalho pedagógico.

              O modelo escolar vigente traz consigo elementos políticos, ideológicos e da logística inaugurada no século XVIII, quando a estrutura fabril inculcou em nossas vidas um módus operandi forte e quase imutável. Não é por acaso que as comparações com a fábrica, com o presídio e com o sanatório continuam em vigor, mesmo com a “inovação” de fazermos aulas por meio da internet.

            Se resgatarmos as formas mais e menos centralizadoras de ensinar ratificadas, no caso brasileiro, pelas legislações educacionais, a essência do saber/memória (Lei n. 4.024/61), do fazer/tecnicista (Lei n. 5.692/71) e do saber/ser (Lei n. 9.394/96) titubeiam em meio ao núcleo duro da escola, que insiste em tentar separar quem ensina de quem aprende. Com a tsunami viral do Covid19, estamos diante da inevitável necessidade de mudança para continuarmos existindo. A educação escolar pública viu ruir, sem devaneios,  as crenças e os mitos alimentados nessa última década, ou seja, nem todos possuem Internet, nem todos sabem lidar com ensino remoto e, muito menos, com a Educação a Distância (EaD) e para concluir, nem todos possuem um smartphone ou computador. E quando possuem, não raramente, a quantidade de equipamentos não atende toda a família em seus horários pertinentes.

            Nossos antecessores como Comênius, Piaget e Freire dariam risadas ao estilo Monalisa para nossa estupefata novela pedagógica que já tem tons e roteiros mexicanos. A mesma que insiste em obter resultados diferentes fazendo sempre as mesmas coisas (Einstein sempre presente). Para piorar, o rei está nu e faz gestos obscenos, além do que Alice descobriu que o Gato era o verdadeiro educador, não dava respostas, fazia excelentes perguntas. Por outro lado, Henri Wallon e Vigotsky gargalhariam com nossa falta de consciência de que sem afeto e sem o outro não conseguimos sequer nos comunicar, quanto mais aprender.

            A boa nova, mesmo sem a vacina, é que o darwinismo pedagógico é possível, isso não quer dizer com ausência de algum sofrimento. O pacto pela qualidade negociada defendido por Ana Bondioli esmurrou as portas dos governantes e sindicados para criarmos outras formas de cooperação e financiamento, até porque a tal da responsabilização em nosso país sempre pendeu para o lado do mais fraco e, nesse caso, para professores, escolas e famílias de baixa renda. O que temos pela frente? O que pode tornar nossas aulas e nossas escolas melhores? Quem faz o quê?

            Para início das respostas (perdoem a ousadia), temos todos que assumir nossas fragilidades conceituais e metodológicas, sem esquecer nosso medo/pânico de sermos avaliados. Em seguida, devemos abrir ou reabrir o diálogo com a sociedade para elegermos, juntos, novos indicadores de qualidade (sem vitimismo e sem rotular culpados). O protagonismo dos nossos estudantes em todas as faixas etárias é fundamental.  Enquanto isso, sindicatos, governos e profissionais da educação precisam buscar suas representações políticas para que pactuemos metas e estratégias viáveis para todas as redes de ensino. Por último, cabe lembrar que esse percurso deve transcorrer sem armadilhas jurídicas e dilatações de prazos que não ajudarão em nada o momento atual e o vindouro.

            Enfim, aprendi que o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB ou quaisquer outros índices de nada servirão se não forem para tornar nossas escolas bonitas, confortáveis, seguras, bem equipadas e nossos docentes e gestores bem formados. E, claro, se faltar Internet e equipamentos para fazerem fluir o projeto político-pedagógico e a organização curricular, todos os esforços podem cair por terra (estamos no século XXI).

            Nas primeiras aulas de Pedagogia entendi que nem todos os problemas educacionais são pedagógicos, já disseram. Por causa disso insistirei em lembrar que escola não se faz, somente, com doações e boa vontade. É fato que uma coisa não prescinde da outra, mas chega de tratar a educação como gasto, ela é o mais sensato dos investimentos, o Brasil pouco aprendeu sobre isso. Ainda há tempo! Estamos vivos!

 

Dever de casa, avaliação e pandemia: reflexões

Enílvia R. Morato Soares

            No início desta década, quando assumi o compromisso de pesquisar o dever de casa no contexto da avaliação das aprendizagens, jamais imaginei que, 10 anos depois, uma crise sanitária mundial reforçaria como nunca a necessidade de reflexões sobre a temática. Isso porque a quarentena imposta a estudantes e professores em função da pandemia aproximou como nunca o par dialético dever de casa/avaliação.

            Diferentes lives que tratam da avaliação no ensino remoto contam com depoimentos de professores preocupados com a veracidade das informações avaliadas, uma vez que estão sendo realizadas longe de sua supervisão. Isso significa que a maior parte das atividades de aula hoje é de deveres de casa.

            Essa realidade me trouxe à tona preocupações expressas pela principal interlocutora de minha pesquisa, uma professora que à época atuava no 3º ano do ensino do ensino fundamental. Em uma de suas declarações, essa docente admitiu não dar muito valor às tarefas realizadas pelos estudantes em casa em função da desconfiança que tinha em relação à autoria das respostas às questões propostas. Ela assim se posicionou:

O dever de casa não é muito verídico, porque ele [o aluno] não estava na minha presença e eu não sei se ele fez só. Algumas tarefas eu mando: “Eu quero que faça sozinho”. Eu procuro trabalhar sempre essa questão da honestidade. Eu sempre pergunto: “Fez sozinho? Precisou de ajuda?” Algumas crianças, eu vejo que elas fazem sozinha sempre. Tem vez que eu identifico letra diferente… na tarefa deles.

Depoimentos de alguns pais colaboradores da pesquisa indicaram que as dúvidas da professora não eram infundadas. A maioria deles admitiu não consentir que os filhos levassem, para a escola, o dever de casa com erros ou incompleto. Esse contexto acabava influenciando o trabalho pedagógico desenvolvido pela professora, uma vez que o dever de casa continuava sendo utilizado diariamente sem, no entanto, contribuir para indicar aprendizagens conquistadas e ainda não conquistadas, a fim de que medidas fossem adotadas para que todos progredissem. Em outras palavras, o dever de casa não era parte de um processo avaliativo formativo, constituindo, em grande medida, uma perda de tempo.

Não se pode negar o valor da observação sistemática do desempenho dos estudantes para que a avaliação se desenvolva numa perspectiva formativa. Não há como negar também que a proximidade física entre professor e estudantes favorece sobremaneira o olhar atento do observador. No entanto, avaliar com o propósito de promover aprendizagens agrega princípios que não desconsideram a possibilidade de que, mesmo distantes, professores, estudantes e familiares se utilizem das tarefas realizadas em casa e sem o acompanhamento do professor para avaliar visando conquistar continuamente novas aprendizagens.

A ética é um desses princípios. Avaliar com ética pressupõe o compromisso político de promover aprendizagens. Isso implica respeito aos estudantes e às produções que apresentam, bem como aos seus familiares, num movimento que envolve diálogo e efetiva participação de todos. Um contrato didático construído coletivamente é parte desse processo e acordos referentes à avaliação e às tarefas realizadas fora da escola devem ser parte dele. Nesse cenário, não cabem atitudes de hierarquização, marginalização ou punição de estudantes. Assim conduzida, a avaliação se pauta por relações solidárias que visam o bem comum.  A desconfiança perde, assim, a razão de existir.

Para que tal realidade se estabeleça, faz-se necessária a superação de entendimentos ainda bastante presentes em nosso meio, que vinculam a avalição a resultado e não a processo. A ideia de que os estudantes precisam, ao final de uma determinada quantidade de estudos, comprovar que aprenderam e que essa comprovação é individual e desprovida do uso de qualquer recurso, além de seu próprio raciocínio e/ou sua memória, induz a comportamentos que visam burlar a vigilância que professores exercem sobre os estudantes a fim de evitar tais atitudes. A famosa “cola” é uma dessas formas que reforçam concepções que tomam a avaliação como meio de controle e fiscalização.  

Compreender a avaliação como aliada e não como um risco pode contribuir para dissipar dúvidas quanto à sinceridade dos estudantes e de seus familiares na feitura das tarefas realizadas sem o acompanhamento do professor. Em tempos de ensino remoto essa necessidade se acentua.

 

Não é hora de aprovar nem de reprovar estudantes

Benigna Villas Boas

A Circular n.º 240/2020 – SEE/SUBEB,  de 12 de setembro de 2020, da Subsecretaria de Educação Básica, da Secretaria de Educação do DF, trata da reorganização do Calendário Escolar e da possibilidade de cômputo de atividades não presenciais para fins de cumprimento da carga horária mínima anual, em razão da pandemia da Covid-19.

A referida circular determina que os/as estudantes que não frequentaram as aulas nos 20 dias letivos presenciais, não acessaram a plataforma ou outros meios, nem foram atendidos por meio de materiais impressos, a partir do dia 13/7/2020, tenham como resultado final registrado no Diário de Classe “Reprovado/Não Apto (NA)”. Isso significa que esses(as) estudantes não estarão aptos a progredir para a etapa/segmento/ semestre/módulo seguinte.

Os (as) estudantes que frequentaram os dias letivos presenciais ou acessaram a plataforma ou outros meios ou que foram atendidos por meio de materiais impressos, a partir do dia 13/7/2020, independentemente do número de dias ou acessos/vezes, terão como resultado final, registrado no Diário de Classe, “Aprovado/Apto (A)”, ou seja, estarão aptos a progredir para a etapa/segmento/semestre/módulo seguinte.

A circular orienta, ainda, que a organização do trabalho pedagógico no semestre seguinte leve em conta a “progressão continuada das aprendizagens”, ou seja, o “planejamento das atividades terá como prática inicial os conhecimentos prévios e os objetivos de aprendizagens alcançados por cada estudante.

A Secretaria de Educação esquece que ela mesma, por meio de suas diretrizes, assumiu o desenvolvimento da avaliação formativa em suas escolas, com vistas à construção das aprendizagens por todos os estudantes. Nesse momento único que estamos vivendo, não cabe aprovar nem reprovar estudantes. Não cabe rotular nem classificar. Não sabemos quando as escolas voltarão a desenvolver o trabalho tal como vinham fazendo. Por isso, não cabe tomar decisões precipitadas. Os documentos de registro escolar podem esperar.

Os estudantes e suas famílias estão fragilizados e precisam de apoio. Não estão em condições de receber vereditos. Cuidemos das aprendizagens possíveis de serem construídas, sem instalar mais angústias e apreensões. Cabe à escola ser educadora e não, destruidora. A avaliação tem uma história de opressão. Não deixemos que esse sentimento tome conta dos estudantes e seus pais/responsáveis.

A escola terá de reorganizar seu trabalho quando voltar a receber todos os estudantes. Antes disso, toda decisão será prematura e angustiante. Esqueçamos a burocracia.

Saibamos tirar lições da pandemia que assola o mundo e o Brasil.

 

Avaliação em tempos de ensino remoto: do desespero à transformação

                                                                       Por: Erisevelton Silva Lima

Professor da SEEDF, doutor em educação pela Universidade de Brasília – UnB, membro do GEPA.

            No decorrer deste ano letivo transformado pela necessidade do ensino remoto na rede pública de ensino do DF, o tema avaliação mexeu com as vidas e as mentes da maioria dos docentes. A instabilidade foi tamanha que logo inferi se tratar da necessidade de formação em avaliação e, não somente, dificuldades com as tecnologias.

João Cabral de Melo Neto, em sua obra ímpar, Morte e vida severina, assim traduziu: “Lúcido não por cultura, medido, mas não por ciência: sua lucidez vem da fome e a medida, da carência”. Sendo assim, o momento é singular e importante para investirmos na tarefa de promover a formação permanente e, nesse caso, balizada pelas reais necessidades das escolas e dos educadores. Ocorreu-me, também, que, no auge dessa pandemia, o percurso didático de muitos docentes foi traçado sem incorporar, desde o início, a avaliação; o indicador disso foi a quantidade de convites para participar de ‘live’, exatamente quando se aproximava o final do primeiro bimestre na rede pública local. Nos anos iniciais, a temática de como preencher o Registro de Avaliação, conhecido por RAv, liderou todos os chamados para acudir escolas e regionais de ensino; importante lembrar que na educação infantil e nos cinco primeiros anos do ensino fundamental não existe o uso de notas ou boletins nas escolas públicas do DF; são utilizados relatórios bimestrais para os anos iniciais e semestrais, para a educação infantil. Todavia, a sua feitura deveria ser diária, por meio dos apontamentos dos docentes em seus diários de classe e das estratégias individuais de como preferem registrar as evidências de aprendizagens dos estudantes.

         Quando a questão afligiu as escolas dos anos finais do ensino fundamental e do ensino médio, os pedidos de socorro de como avaliar e como realizar o conselho de classe foram quase uma unanimidade. No tocante ao conselho de classe, acredito que perceberam que não era mais possível repetirem reuniões desencorajadoras marcadas pela avaliação informal dos estudantes e das suas famílias. É como se a “caixa preta” do conselho de classe fosse aberta e, para espanto de todos, ela estivesse vazia.

Outro fato interessante foi a percepção de que no contexto desta pandemia e do ensino remoto, assim como as aulas, todas as reuniões coletivas e de planejamento deixaram de ser privadas, tornaram-se públicas, querendo nós ou não. Vejo isso como algo positivo e de forte apelo à mudança. O conselho de classe é a instância que pode agregar as discussões sobre os três níveis da avaliação e, portanto, a depender da condução da equipe gestora, pode ser mais ou menos produtivo (LIMA, 2012).

Na intenção de trazer para este texto minhas percepções sobre tais momentos, retirei das “lives” de que participei as perguntas e colocações mais repetidas. Para termos ideia do tamanho do desejo dos profissionais da educação sobre o tema que desenvolvemos na “live” sobre como avaliar e preencher o relatório de avaliação para os anos iniciais, eu e professora Vânia Leila Nogueira, em 04 de agosto de 2020, fomos surpreendidos por cerca de oito mil visualizações no Youtube. Algo incrível, não acham?

Vejam no quadro a seguir trechos das falas e perguntas mais recorrentes surgidas nesses encontros virtuais com regionais de ensino inteiras, escolas e docentes da educação básica:

PERGUNTAS E RELATOS DOS DOCENTES NAS LIVES

ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTALANOS FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL E ENSINO MÉDIO
Como avaliar e registrar a avaliação de estudantes que não acessam a plataforma?Como fazer o conselho de classe se ainda não conseguimos concluir as avaliações dos estudantes?
Que estratégias utilizar para avaliar os estudantes que estão desaparecidos dos grupos de WhatsApp e não entregam tarefas impressas?O que fazer quando os docentes se negam a lançar frequência dos estudantes baseados nas tarefas?
Como avaliar na plataforma nesse ensino remoto?Como conduzir um conselho de classe no ambiente virtual?
O que fazer para avaliar quando desconfiamos que não são as crianças que estão respondendo as atividades propostas na plataforma ou nas atividades impressas que retiram na escola?Como organizar um conselho de classe quando não temos o que tratar nele (notas dos alunos)?
Não consigo avaliar, na verdade não consigo nem ensinar, eu me preparei para educação presencial, estou perdida.O desespero bateu, e agora, todo mundo pode ver nossa aula e tudo que passamos, será que vão valorizar mais nossa profissão?

Fonte: Dados retirados pelo autor dos comentários realizados pelos docentes nos vídeos no Youtube

Percebam que as dúvidas não seriam sanadas com a simples fala de que deveriam transpor para a plataforma ou aplicativos as práticas já utilizadas no ensino presencial, por um lado isso pareceu-me positivo. Quanto à questão da ética e da avaliação, veio à tona e foi reforçada pela desconfiança dos docentes sobre quem realizava as tarefas dos seus alunos. A orientação sugerida foi a de que fizessem um contrato didático com os estudantes e seus familiares, que pactuassem sobre a qualidade e a valorização dos esforços das escolas que tentam em meio a tudo isso garantir a educação pública para todos. O conselho de classe passou a ser visto sob dois ângulos: o dos alunos que participam de alguma forma (plataforma, grupos de WhatsApp, tarefas impressas recolhidas na escola) e daqueles que não respondem seus professores em nenhuma das estratégias citadas anteriormente. Seguindo a lógica do replanejamento, sugeri que refizessem a organização curricular proposta no início do ano, quando a escola acreditava que o ano letivo seria presencial, todavia, que somassem esforços com as Coordenações Regionais de Ensino para que não desistissem da busca ativa proposta para os casos dos alunos que não conseguimos localizar de início. As escolas dos anos finais e do ensino médio começaram a envolver os estudantes nos conselhos de classe e nas estratégias de avaliação, o que vejo como algo muito positivo. A criação de formulários eletrônicos e a participação em enquetes e pesquisas deram voz a muitos discentes e seus familiares. O protagonismo estudantil é a solução e não o problema, especialmente para essas escolas com adolescentes e jovens. Eles estão se organizando, buscando os colegas, apoiando seus pares que se encontram em dificuldades conceituais e ou de manuseio tecnológico. Ainda não temos dados reais sobre tudo isso, mas o campo para a pesquisa e para aprendermos é rico e desafiador

A escola está se transformando, os males trazidos pela pandemia têm clamado por mudanças em todos os sentidos, a instituição viu seu modus operandi esgotado e, mesmo sentindo-se vigiada e nua, a organização do seutrabalho pedagógico está sofrendo profundas transformações que não sabemos ao certo em que resultarão, mas, otimista que sou, acredito que nossas escolas serão melhores quando esse mal passar. Parafraseando o título do livro de Benigna Villas Boas, agora é a pandemia e não somente a avaliação que está virando pelo avesso. Sigamos!

REFERÊNCIAS

LIMA, Erisevelton Silva. O Diretor e as avaliações praticadas na escola. Editora Kiron, Brasília-DF, 2012.

MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina e outros poemas.  Editora Alfaguara, 2010.

VILLAS BOAS, Virando a escola do avesso por meio da avaliação. Campinas-SP, Ed Papirus, 2008.

 

IDEB e a “qualidade” da educação básica: para além do fetiche e da nota

Edileuza Fernandes da Silva, da Universidade de Brasília, e Cátia Maria Machado da Costa Pereira, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – Inep


A cada dois anos a comunidade educacional brasileira acompanha com expectativas a divulgação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). No dia 15 de setembro deste tumultuado ano letivo de 2020, em meio à
pandemia de Covid-19 que levou à suspensão de atividades escolares presenciais de milhares de estudantes, mais uma vez, entre expectativas e frustrações vimos representantes de governos, entidades representativas dos profissionais da
educação, universidades, gestores escolares, organizações sociais e veículos de impressa, ocupados com análises explicativas acerca do “sucesso” e do “fracasso” de redes de ensino e de escolas. Acerca de uma “qualidade” medida com a régua da nota.

Nessas análises emergem questões como: A quem atribuir a responsabilidade pelos resultados? O que foi realizado concretamente pelas redes de ensino e escolas para o alcance ou avanço do desempenho das escolas e redes? Quais os impactos da estrutura física e material das escolas, das condições de trabalho docente, formação, carreira,
salário no Ideb?

Pouco se fala sobre a ausência de políticas públicas para o cumprimento da meta 7 do Plano Nacional, Municipais e Distrital de Educação: fomentar a qualidade da educação básica em todas as etapas e modalidades, com melhoria do fluxo escolar e da aprendizagem de modo a atingir as seguintes médias nacionais até 2021: anos iniciais do
ensino fundamental – 6,0; anos finais – 5,5; e, ensino médio – 5,2. A nota é vista como um fim em si mesmo, um fetiche,pois aspectos subjetivos são analisados objetivamente ou até, desconsiderados, como: as diversidades do sistema educacional; as particularidades das redes de ensino; as diferenças regionais; os projetos de escolas; as culturas; valores
e princípios que embasam os processos educativos.

Objetivamente o Ideb é um indicador educacional que combina o desempenho dos estudantes na avaliação e o fluxo escolar, resultando em valor apresentado em escala de 0 a 10, que ambiciona refletir a qualidade educacional brasileira. O Ideb foi criado para medir a qualidade do ensino ofertado e estabelecer metas para a sua melhoria. O cálculo articula informações do Censo Escolar (fluxo escolar – aprovação/reprovação) com as médias de desempenho dos estudantes (proficiências/aprendizagens) aferidas pelas Avaliação Nacional da Educação Básica (Aneb) e Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc).
O valor escalonado do Ideb lido de forma isolada, descontextualizada, acarreta atendimento limitado. É preciso analisar, questionar, criticar, refletir sobre o que ele quer dizer, explorá-lo qualitativamente. É primordial compreender os meandros do Ideb e, principalmente, que a sua leitura seja feita articulada com os contextos e as realidades intra e extraescolares.

O resultado do Ideb precisa ser lido integrado ao desempenho escolar e triangulado com outros dados, outras informações gerados por meio de outros instrumentos/processos como: a autoavaliação que a escola faz de seu trabalho/projeto pedagógico; a análise dos resultados dos estudantes a partir de avaliação de sala de aula; as avaliações diagnósticas da realidade escolar, dos estudantes e da própria escola; as avaliações feitas em conselhos de classe, coordenações pedagógicas, entre outras. Só assim, poderemos tirar proveito do resultado do Ideb para a reorganização das redes de ensino e das escolas – a avaliação gera ação.

O Ideb fornece informações que podem orientar ações como por exemplo, provocar a comunidade escolar a construir um diagnóstico das especificidades de sua realidade escolar, conhecer suas condições materiais, orientar revisão do projeto pedagógico da escola, apontar rumos, traçar suas próprias metas e estratégias, e definir intervenções
alicerçadas na gestão democrática e na autonomia, condições para pactuar propostas para cobrar de gestores públicos investimentos e recursos que proporcionem a melhoria da qualidade referenciada também nos sujeitos sociais. Às redes, o Ideb também oferece informações para subsidiar a elaboração de políticas públicas educacionais
voltadas à valorização dos profissionais da educação, formação continuada, financiamento da educação, projetos pedagógicos e curriculares, entre outras.

Assim, para além do fetiche das notas, do ranqueamento e da classificação, o Ideb gerará ações voltadas à melhoria da qualidade da educação básica. Porque não começarmos pela implementação do Plano Nacional de Educação?

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Texto elaborado pela professora Edileuza Fernandes Silva da Faculdade de Educação da UnB/PPGE e Cátia Maria
Machado da Costa Pereira – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – Inep.

 

Ensino fundamental público melhora no IDEB e reduz abismo com rede privada, que fica estagnada

JC Notícias – 15/09/2020

Escolas particulares não conseguem alcançar meta de qualidade de ensino

As redes públicas de ensino fundamental do país mantiveram o ritmo de avanço no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) de 2019, enquanto a rede privada ficou estagnada. A melhora reduz o abismo de desigualdade entre as escolas, ainda que a diferença se mantenha em mais de um ponto na nota.

Parte dos resultados do Ideb foi divulgada nesta terça-feira (15) pelo governo Jair Bolsonaro (sem partido). O indicador, principal termômetro da educação brasileira, é calculado a cada dois anos pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), órgão do MEC (Ministério da Educação).

São levados em conta no Ideb o desempenho de estudantes em avaliação de matemática e língua portuguesa, chamada Saeb, e as taxas de aprovação escolar. A avaliação federal é feita ao fim de três etapas: anos iniciais (5º ano) e finais (9º ano) do ensino fundamental e ainda o ano final do ensino médio.

Veja o texto na íntegra: Folha de S. Paulo

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Militarização de escolas: “educando” para a criminalidade, por Luiz Carlos de Freitas

Blog do Freitas – 12/09/2020

Costuma-se dizer que as prisões são “fábricas de delinquentes”. Que sentido há então, em transformar nossas escolas em micro prisões comandadas por militares sob rigoroso código de conduta? Um novo relatório americano – “Reimaginando a segurança escolar”, feito pelo Institute for Policy Studies por Karen Dolan, Cecelia Scheuer, Uma Nagarajan-Swenson, e Lindsay Koshgarian, detalha os […]

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Luiz Carlos de Freitas | 12/09/2020 às 9:49 AM | Tags: “Nova” Direita, Direto do fundo do poço, política com evidência, Segregação | Categorias: Segregação/exclusão | URL: https://wp.me/p2YYSH-7su

 

UNESCO: protocolos de saúde não bastam, por Luiz Carlos de Freitas

Blog do Freitas, 03/09/2020

O blog NORRAG traz contribuição de Stefania Giannini, Subdiretora Geral de Educação da UNESCO e ex-Ministra da Educação, Universidades e Pesquisa da República Italiana. A autora aponta que, “embora muitos sistemas escolares estejam planejando como retornar ao ensino presencial, apenas voltar para a sala de aula não é suficiente.” Ela aponta outras três prioridades críticas […]

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Luiz Carlos de Freitas | 03/09/2020 às 10:12 AM | Tags: Pandemia | Categorias: Assuntos gerais | URL: https://wp.me/p2YYSH-7rD

 

Curso sobre avaliação formativa em desenvolvimento pela EAPE

Cristhian Spindola Ferreira

A Escola de Aperfeiçoamento de Profissionais da Educação, da Secretaria de Educação do DF, vem desenvolvendo o curso Avaliação formativa: princípios, processos e instrumentos, em formato online. São 80h, das quais 40 de forma direta, isto é, por meio dos encontros síncronos no Google Meet, e 40 de forma indireta, por meio da realização das atividades inseridas no Ambiente Virtual de Aprendizagem (Plataforma Moodle). As atividades tiveram início no dia 24/08/2020, estando seu término previsto para o dia 13/11/2020.

O curso tem como objetivo geral a compreensão dos aspectos que fundamentam e norteiam a avaliação formativa como elemento da organização do trabalho pedagógico para as aprendizagens. Os objetivos específicos são os seguintes: compreender os conceitos e princípios da avaliação formativa; articular a avaliação formativa com os outros elementos da organização do trabalho pedagógico; compreender as características dos procedimentos e instrumentos de avaliação; relacionar o processo de avaliação para as aprendizagens com o registro documental; compreender a função da avaliação informal na avaliação formativa; desenvolver práticas de análises de dados articulando com o planejamento de intervenções avaliativas.

Levando em conta o período de pandemia da Covid – 19 pelo qual estamos passando e as aulas remotas emergenciais em desenvolvimento, o curso tratará, também, do processo avaliativo nesta modalidade. O curso utilizará várias ferramentas online como podcasts e entrevistas, assim como lives, que posteriormente serão disponibilizadas no Canal da EAPE e Estação EAPE.

Cabe salientar a importância da realização desse curso porque, além de a avaliação formativa ainda não ser compreendida por grande parte dos docentes, a sua prática em aulas remotas ainda é uma novidade que necessita de discussão.

Além desse curso, a temática da Avaliação Formativa está inserida em outras ações formativas da EAPE, como no percurso comum do Projeto Aprender Sem Parar, destinado a todas as etapas da Educação Básica.