Percepções sobre as práticas avaliativas vivenciadas no Curso de Licenciatura em Letras – Espanhol

Vânia Leila de Castro Nogueira

            Considero importante contextualizar como cheguei ao curso de Licenciatura Letras – Espanhol, como estudante. O percurso como docente da Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF) e como integrante do Grupo de Pesquisa Avaliação e Trabalho Pedagógico (GEPA) me possibilitou construir os princípios e os fundamentos do trabalho pedagógico referenciado na qualidade social e no desejo de valorização da Escola Pública.

A trajetória de formação pedagógica na SEDF e no GEPA, pautada pela avaliação formativa, bem como os vários encontros com diversos segmentos da comunidade escolar,    oportunizaram conversas e diálogos, na busca de saberes e fazeres avaliativos centrados na aprendizagem dos estudantes. Atualmente, percebo ser inegável a influência de tais vivências nas percepções do caminho discente trilhado, em quatro momentos distintos.

 O primeiro ocorreu em um encontro de professores para discutir avaliação formativa em uma escola de ensino médio. Eu fiquei intrigada com os relatos dos professores sobre o sofrimento e as dificuldades dos estudantes quando submetidos a exames, testes e provas, incluindo o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Resolvi me inscrever e vivenciar algumas das questões relatadas pelos professores, como:  a tensão do exame, o espaço inapropriado, a decepção por errar uma questão, o constrangimento da pontuação e classificação, o cuidado no preenchimento do gabarito, a cobrança por resultados exitosos. 

Vale ressaltar que os relatos ganham outras dimensões quando do ingresso no curso de Licenciatura – Letras  Espanhol.  Em 2019, no primeiro semestre do curso, vários estudantes narraram o descontentamento com as notas de corte do SISU e como isso impactou sua vida. Outros ficaram felizes com a escolha, pois realmente desejavam ser professores de língua espanhola. Os relatos expressaram o quão ser classificado e ranqueado é doloroso. Para Hadji (1994, p.23), a avaliação é o instrumento da própria ambição do homem de “pesar” o presente para “pesar” no futuro. A fala recorrente dos estudantes consistia em como a avaliação tem um peso sobre as possibilidades no presente e no futuro profissional.

Vivencio o segundo momento com as atividades da sala de aula, aguardadas como sonho antigo pois, quando escolhi a faculdade no passado, a pedagogia era a segunda opção, mas por questões conjunturais e estruturais do sistema de ensino superior do Distrito Federal e as demandas pessoais, não cursei o curso desejado e, assim, a aposentadoria deu lugar ao projeto e desejo do passado.

 Como prerrogativa do curso de Licenciatura em Letras – Espanhol, o planejamento para o semestre é apresentado para os estudantes e um dos requisitos apontados para o início das disciplinas do período consiste na exposição do plano de ensino pelo professor, bem como a divulgação dos horários para atendimento individual aos estudantes durante o semestre letivo. A lógica descrita foi mantida no ensino remoto por todos os professores.

 No campo destinado à avaliação, na maioria dos planos de ensino, constam o instrumento avaliativo e a sua referida pontuação. Constam, ainda, as implicações das faltas às aulas e como ocorre a recuperação da aprendizagem. Alguns planos de ensino apresentam uma introdução elaborada das funções da avaliação, nomeando duas: a somativa e a formativa, porém não é possível identificar os elementos para pensar uma avaliação para as aprendizagens, ou possibilidades de participação dos estudantes.  ALONSO (2011, p. 11) afirma “Los alunos deben hacer sugerencias, proponer también temas y atividades y, si las cosas van mal, intentar solucionarlas entre todos”.  O cenário explicitado das pontuações despertou-me um certo temor, extensivo a toda a turma.  Todos os estudantes   perceberam que algumas práticas avaliativas eram rigorosas e inflexíveis.  De pronto, nós, estudantes, identificamos, durante o curso, os professores que oportunizavam diálogo e negociação, assim como aqueles que expressavam suas orientações com imposição e enfatizavam a necessidade de práticas pedagógicas pautadas em suas experiências e vivências anteriores. Estes últimos justificavam reproduzirem as mesmas avaliações pelas quais foram qualificados e credenciados para atuarem na Educação Superior como métrica de sucesso na vida acadêmica e pessoal.

Outra questão importante é a avaliação por vezes pública. Muitas das orientações pedagógicas presenciais e online são baseadas em jargões de caráter meritocrático ou adjetivações desestimulantes para a aprendizagem da turma. Esta espontaneidade dos professores na oralidade e a concordância dos estudantes podem comprometer a aprendizagem.  Ao abordar as dimensões da avaliação, Hadji (2001, p.17) afirma: “A avaliação espontânea, por sua vez, formula-se. Mas, não repousa sobre nenhuma instrumentalização específica. Por essa razão, permanece subjetiva, até mesmo selvagem”. Cabe refletir sobre essa perspectiva, pois os professores são avaliados pelos estudantes ao término de cada semestre, o que inviabiliza organizar e propor outras possibilidades num processo dinâmico e produtivo do trabalho pedagógico na sua integralidade.

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O terceiro momento ocorreu no final de 2019 quando, por conta das várias intervenções em sala de aula, um grupo de professores fez a indicação do meu nome para compor a Comissão Própria de Avaliação – CPA – como representante discente do campus Ceilândia, com mandato para o período de fevereiro de 2020 a dezembro de 2021. A CPA é responsável por coordenar a autoavaliação institucional, que constitui uma das etapas do processo avaliativo do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes). A Comissão adotou como instrumentos de pesquisa os questionários, tendo como referência os eixos que constituem as dez dimensões do Sinaes. As reuniões foram quinzenais, no período de 2020 a 2021, e as discussões foram muito ricas durante a elaboração dos questionários. Além disso, construímos algumas ponderações sobre o cenário da pandemia, suas repercussões na evasão escolar e os futuros impactos no índice acadêmico.

A quarta experiência foi estagiar com os estudantes de duas turmas de 1º ano do ensino médio concomitante do curso técnico, em áudio e vídeo do Campus Recanto das Emas,, no período de outubro de 2021 a fevereiro de 2022 – referente ao terceiro e quarto bimestres do semestre letivo. Desta vez, na condição de estagiária, acompanhada pelo supervisor de estágio, que me nomeou Professora Auxiliar. 

O desafio da tecnologia e os limites de tempo e acesso são muitas vezes barreiras para avaliar os estudantes.  Por orientação do professor supervisor de estágio, planejamos algumas aulas em grupo de três estagiários, bem como a elaboração de material didático. O estágio é orientado por um Coordenador geral, o professor orientador da disciplina Estágio Supervisionado e o professor supervisor regente da turma em que são desenvolvidas as atividades com orientação sistemática sobre as aulas da disciplina Espanhol.  

O professor supervisor do estágio trabalhou com muitas metodologias, entre elas a aula invertida. Por dominar a tecnologia voltada para o ensino a distância, conseguiu  ampliar as possibilidades com várias ferramentas disponíveis. Portanto, as aulas transitaram por vários recursos tecnológicos, nos quais a ludicidade e a linguagem tecnológica promoveram outros olhares sobre a avaliação do estudante, pois todas as atividades propostas estavam centradas na aprendizagem dos estudantes.  Vale ressaltar a ênfase na pesquisa e na autonomia dos estudantes devido à natureza do curso.  No entanto, muitos dos estudantes não tiveram acesso à plataforma de ensino  e um número expressivo  se evadiu e, consequentemente, muitos foram reprovados.

Nós tivemos, ainda, a oportunidade de discutir o que significa a recuperação e as questões subjacentes às habilidades e competências. Realizamos reuniões semanais aos sábados à tarde para discutir os objetivos e a avaliação dos estudantes no sentido de construir suas aprendizagens.

 Dessa forma, os quatro momentos foram primorosos para refletir o quanto ainda precisamos investigar e dialogar sobre mudanças na perspectiva de uma avaliação para as aprendizagens. O ensino de um idioma requer outras possibilidades didáticas e revela o quanto pensar na avaliação das aprendizagens é fundamental para a formação dos estudantes da Licenciatura Letras – Espanhol, futuros docentes.

 Referências

ALONSO, Encina. Cómo ser profesor /a y querer seguir siéndolo. Edelsa Grupo Didascalia, Madrid, 1994.

HADJI, C. A avaliação, regras do jogo: das intenções aos instrumentos. Porto, Portugal: Porto Editora,1994.

 

O GEPA sempre em dia com as produções sobre avaliação

Durante o último encontro do GEPA discutimos com nossa colega Kamila a sua dissertação de mestrado, curso concluído na Universidade Federal de Goiás, em 2010. A pesquisa desenvolvida tem como título “Ensino de geografia e avaliação formativa da aprendizagem: experiências e princípios na rede pública de Goiânia”.

No próximo encontro iniciaremos a análise do livro “Qualidade da escola pública: perspectivas e desafios”, organizado por Mara Regina Lemes De Sordi, Bruno Damien da Costa Paes Jürgensen e Marcos Henrique Almeida dos Santos. São Carlos: Pedro & João Editores, 2021. 464 p.

A obra compõe-se de 18 capítulos. O primeiro, Avaliação escolar: entre o distanciamento e o diálogo, é de autoria de Maria Teresa Esteban.