Avaliação escolar, violências e fatalidades: esta relação infelizmente existe!

Erisevelton Silva Lima
Doutor em educação e professor da SEDF

Dia 13 de Setembro de 2012 em uma sala de aula de uma escola particular localizada em Santos-SP um adolescente de 15 anos, primeiro ano do ensino médio, e sua professora de inglês envolveram-se em um episódio lamentável. Após o aluno tomar das mãos da professora o diário de classe para apagar as notas por discordar da pontuação recebida em um trabalho, a situação fugiu ao controle da docente que, vexada, diante da sua classe, envolveu-se em confronto físico com o estudante rolando pelo chão diante da turma. Tudo era filmado por meio de um aparelho celular. As imagens e a narrativa do ocorrido foram manchete em diversos jornais e constam de reportagem na Folha UOL Educação de 21-09-2012.

Dia 04 de Junho de 2012 em uma escola pública do Distrito Federal faleceu um jovem de 17 anos, estudante da 7ª série, após quinze voltas na quadra de esportes na aula de educação física. Em reportagem veiculada pela Rede Record de televisão colegas do aluno declararam que o desafio imposto era uma prova de educação física e que perderiam pontos caso não cumprissem a ordem da docente. A família alegou que a escola sabia dos problemas de saúde do aluno.

Considerando a seriedade e a gravidade de ambos os fatos nós, estudiosos da avaliação, não temos condições de apontar nem queremos realizar julgamentos precipitados ou juízos de valor sobre os atores e as vítimas desses trágicos episódios. Contudo, nossa reflexão vai na direção de que devemos todos, profissionais da educação e sociedade civil, repensar qual o verdadeiro sentido da avaliação na escola. O modelo econômico vigente e fielmente seguido pelas instituições e organizações sociais está sendo replicado e vem reforçando condutas e comportamentos inaceitáveis no ambiente escolar; estudos já denunciaram isto. A escola, a educação e as relações que se articulam no cotidiano das salas de aula precisam abandonar a lógica competitiva e excludente da avaliação classificatória. Nos exemplos aqui apresentados percebe-se, claramente, o desespero contido no receio de “perder pontos” ou “nota”, o que parece demonstra que a reprovação representava a maior ameaça. Não aponto culpados nem inocentes nas personagens tragicamente envolvidas nos eventos, mas a lógica em que se pautou e ainda se pauta a organização escolar deve ser seriamente repensada. O pior é considerar que tudo o que ocorre se justifica por meio de uma frase recorrente no imaginário de quem habita instituições educativas: “temos que ser competitivos e preparar nossos estudantes para a vida”. Você que acompanha este blog o que pensa a esse respeito?

 

2 respostas para “Avaliação escolar, violências e fatalidades: esta relação infelizmente existe!”

  1. Caríssimo Prof(o) Eri,
    Acredito que a avaliação precisa ser necessariamente ser repensada.
    Estamos no caminho, mas ainda falta, e muito!
    Não é concebível que esse momento no processo educativo ainda seja um ” acerto de contas” , como lemos em Moretto e isso já nos faz refletir. Embora, essa relação de poder exista nitidamente dentro de nossas escolas e das salas de aula.
    São tantas coisas a se repensar..às vezes, discutindo caminhos diferentes, a gente se depara com grandes barreiras na formação dos professores, nas suas vivências etc.
    Há muito o que caminhar!
    Abs,
    Juliana P. de Melo.
    Orientadora Educacional da SEDF

     
  2. Isto mesmo Juliana e nós, professores, contamos imensamente com o apoio e a competência sensível dos orientadores educacionais. Vejo nos profissionais desta área a possibilidade de que possamos juntos realizar conquistas das mais simples às mais complexas no interior da escola. Abço Eri

     

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