AVALIAÇÃO NO ENSINO MÉDIO: AINDA TEMOS UM LONGO CAMINHO PARA PERCORRER
Erisevelton Silva Lima – Doutor em Educação pela Universidade de Brasília – UnB
“Eu não tenho tempo de me ocupar com essa história de afetividade, dar retorno para cada aluno, fazer uma aula diferente, eu tenho que vencer meu conteúdo e só tenho cinquenta minutos para isso” (Relato de um docente).
O relato acima ocorreu durante reunião com um grupo de docentes da rede privada em encontro de formação continuada. Percebe-se, claramente, que o professor, além de revelar certa angústia e indignação com o contexto em que está inserido, ainda não percebeu que o conteúdo pelo conteúdo não fará o esperado “milagre” da aprendizagem sem mediação. Com todo respeito ao meu colega é possível apostarmos noutra lógica que não seja essa, especialmente porque temos que ficar atentos a questões bem específicas. A primeira delas é a que a avaliação não acelera processos, sejam eles quais forem, ela poderá qualificá-los se for bem conduzida e com fins formativos. A segunda é que a avaliação vai acontecer, queiramos ou não, o que é grave e comprometedor é que sem planejamento e intencionalidades bem definidas estamos sujeitos ao lado ruim da avaliação informal que separa, classifica e excluí. A terceira e, não menos importante que as demais, é quanto às estratégias de ensino. Anastasiou e Alves (2003) nos revelam que toda estratégia de ensino pode ser de aprendizagem e, fatalmente, será de avaliação, ao que elas denominaram de ensinagem. Não há ensino se não houver aprendizagem, mas há avaliação mesmo que as aprendizagens não ocorram. Afinal, é ela quem faz tal constatação, mesmo que vitimada por uma miopia conceitual grave, aquela que acredita que só é válida como avaliação os erros e acertos computados em um teste ou prova.
As pressões por resultados, especialmente no ensino médio no qual o ENEM, Exame Nacional do Ensino Médio, tornou-se mais complexo e, não por acaso, filtro de seleção para ingresso nas Universidades Federais vai modificar, drasticamente, a relação currículo e avaliação nessas instituições. O debate em torno da avaliação precisa ser ampliado para as famílias dos estudantes e para eles mesmos. A escola fica refém de determinadas demandas surgidas em razão dos ranqueamentos e, por meio deles, ela é sentenciada como boa ou ruim causando desespero aos dirigentes e proprietários cujo foco é, também, empresarial. Trazer os pais e os estudantes do ensino médio para o campo da avaliação é fundamental para que eles entendam que o processo de avaliar para as
aprendizagens (VILLAS BOAS, 2014) é bilateral. O protagonismo dos jovens por intermédio da avaliação por pares, a autoavaliação e a avaliação do trabalho da escola podem estar a serviço da função social da mesma, desde que ela pense, organize-se e aja assim.
No momento em que o Ministério da Educação brasileiro lança, oportunamente, o Pacto pelo fortalecimento do Ensino Médio ou PNEM, sinto que o caminho, embora longo, a ser percorrido pode contar com esse apoio basilar, qual seja, investir na formação dos docentes que em sua maioria são das áreas específicas, bastante fragilizadas no tocante aos componentes pedagógicos que formariam, de fato, os licenciados.
Por fim, o que me fez mais pensativo foi o fato de o professor entender a afetividade como algo supérfluo ou da ordem da perda de tempo. Ele não tem culpa de pensar assim, ele foi formado assim. É nossa tarefa reforçar e desmistificar que afetividade é, sobretudo, acolhida, olhar encorajador e reforço positivo aos progressos dos estudantes.
E você que acompanha este blog o que pensa a esse respeito?
Referências
- ANASTASIOU, Lea das Graças Camargos e ALVES, Leonir Pessate.(orgs.) Processos de ensinagem na universidade: pressupostos para estratégias de trabalho em aula, Joinville – SC, Univille, 2003.
- VILLAS BOAS, Benigna M. de F. Avaliação para aprendizagem na formação de professores. Cadernos de Educação. CNTE, Brasília, n. 26, jan./jun. 2014, p. 57-77.
