ESCOLAS DO ESTADO DE SÃO PAULO E DA PREFEITURA DE SP TERÃO PROVAS BIMESTRAIS PADRONIZADAS

Escolas do Estado e da Prefeitura de SP terão provas bimestrais padronizadas

TODOS PELA EDUCAÇÃO 16 de junho de 2015

No Município, notas vão integrar boletim estudantil e serão devolvidas aos professores em 24h; na rede paulista, haverá ampliação do exame aplicado duas vezes ao ano

Fonte: O Estado de S. Paulo (SP)

 

O governo do Estado e a Prefeitura de São Paulo vão reforçar o monitoramento dos Alunos de suas redes de Ensino e implementar modelos de provas bimestrais padronizadas para todas as Escolas. Nos dois projetos, o objetivo é proporcionar mais uma ferramenta pedagógica para o dia a dia de Professores e diretores com base no desempenho dos estudantes, mas as secretarias também poderão usar os dados para intervenções.

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No Município, a avaliação começa na próxima semana e integra o projeto Mais Educação, que reformulou em 2013 o sistema educacional sob a gestão do prefeito Fernando Haddad (PT). A prova bimestral padronizada obrigatória será de Português, Matemática e Ciências – na primeira edição, entretanto, Ciências não será incluída.

Alunos do 3.º ao 9.º ano do Ensino fundamental farão o teste, com 36 questões dissertativas e de múltipla escolha. “Cada unidade vai ter sua leitura (dos resultados), mas com os mesmos parâmetros para toda a rede”, explica secretária adjunta de Educação do Município, Emília Cipriano. “O objetivo é pensar em intervenções do ponto de vista pedagógico. Queremos também dar retorno às crianças e às famílias.”

Janete Cavalcante, diretora de Escola estadual, aprova a medida: ‘O processo fica mais individualizado’

As notas nesses exames vão fazer parte do boletim do Aluno e serão devolvidas aos Professores 24 horas depois de colocadas no sistema digital da secretaria. Segundo ela, no entanto, a ideia não é fazer rankings entre colégios e regiões. “Vamos explorar a capacidade de interpretação, de análise”, diz Emília.

Processo. Na rede estadual, Alunos do 2.º ano do Ensino fundamental até o 3.º do médio já fazem uma prova padronizada duas vezes ao ano. Mas, a partir de agosto, a Avaliação de Aprendizagem em Processo (AAP) – criada em 2012, na gestão anterior do governador Geraldo Alckmin (PSDB) – será bimestral. A prova tem 20 questões de Matemática e Português, dissertativas e de múltipla escolha, além de Redação, e tem base no currículo oficial do Estado.

Olavo Nogueira Filho, coordenador de Monitoramento e Avaliação Educacional da Secretaria Estadual de Educação, explica que o novo sistema permite acompanhamento contínuo da evolução dos Alunos ao longo do ano. “Com auxílio dos resultados, os Professores poderão tomar decisões pedagógicas com base no que está acontecendo em tempo real”, diz.

Diretora da Escola Estadual Balbina Netto Velloso, em Guaianases, zona leste, Janete Cavalcante, de 51 anos, gostou da ampliação do número de edições da prova. “A gente consegue ter parâmetro mais claro do que pretendemos com o Aluno, o processo fica muito mais individualizado”, diz. “O que mais interessa é entender onde a Escola foi frágil e trabalhar com essa fragilidade.” Janete conta que com os resultados da última avaliação, de fevereiro, conseguiu trabalhar dificuldades de escrita dos Alunos do 4.º ano.

Até agora, os resultados da AAP eram de uso exclusivo das Escolas e diretorias de Ensino. A partir de agosto, a secretaria promete um sistema que reúna dados de todas as Escolas.

Ressalvas. As provas padronizadas nas duas redes não substituem as avaliações externas, que compõem os índices educacionais do Estado e do governo federal (Idesp e Ideb). Sandra Zákia Sousa, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), faz ressalvas às mudanças. “Não é com mais aplicação de provas que vão resolver o problema de qualidade e de aprendizado”, afirma.

Acompanhar o desenvolvimento da turma, segundo ela, é parte da organização da Escola. “No fundo, parece a intensificação do controle externo da Escola e de seus resultados.”

 

Opinião: Excesso de provas tira tempo de ensino e não garante melhorias

Ao impor a prova Mais Educação, bimestral e padronizada, a gestão Haddad acirra resistências na rede municipal. Isso parece estar influenciando política semelhante na rede estadual, cujos dirigentes anunciam para o segundo semestre a ampliação da Avaliação da Aprendizagem em Processo (AAP).

Essas iniciativas não privilegiam o diálogo nem, paradoxalmente, a formação dos professores no que diz respeito à avaliação. Ademais, o caráter impositivo pode dificultar a própria compreensão das provas padronizadas, recurso extremamente relevante que pode, só em condições muito excepcionais, alavancar a qualidade do ensino.

Uma consequência potencial ganha proeminência: a destituição do professor como avaliador privilegiado no processo pedagógico, mesmo que reconheçamos a necessidade de formação nessa área. Essa miríade de provas vai ceifar tempo de ensino para consumi­lo na aplicação e processamento de respostas e interpretação, sem garantias de que isso efetivamente melhore os processos de avaliação e os usos pedagógicos.

O mais preocupante é que, a despeito de afirmações de que essas provas comporiam o quadro avaliativo, dirigentes de redes de ensino imputam às provas padronizadas aquilo que não podem dar. Se os fins não justificam os meios, menos ainda os meios podem garantir por si os fins ­ no caso, mais educação.

Ocimar Alavarse

 

 

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