FALTA ACOLHIMENTO E AJUSTE DA ESCOLA AO ALUNO NO ENSINO MÉDIO

Jornal da Ciência, 18/07/2015

Falta acolhimento e ajuste da escola ao aluno no Ensino Médio, afirma Secretário de Educação Básica do MEC

Ensino Médio no Brasil foi tema de mesa redonda na Reunião Anual da SBPC na qual especialistas debateram sugestões para melhoria do sistema escolar

Que ensino médio queremos? Esta foi a pergunta-tema da mesa redonda que aconteceu na tarde de ontem (15/7) no Teatro Florestan Fernandes da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), durante a 67ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). A mesa reuniu o Secretário de Educação Básica do Ministério da Educação, Manuel Palácios da Cunha e Melo; José Fernandes de Lima, membro do Conselho Nacional de Educação (CNE); e a professora da Universidade Federal Fluminense (UFF) Sandra Lucia Escovedo Selles.

“O Ensino Médio nunca foi uma unanimidade no Brasil e temos de enfrentar essa questão”, declarou o coordenador da mesa redonda, Carlos Roberto Jamil Cury, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que também participou das discussões.

“Nem a universidade nem o Ensino Médio fazem um esforço significativo para acolher o estudante como ele é, com sua história, com suas lacunas de formação, com suas indecisões”, criticou Melo. Temos uma organização enrijecida, incapaz de lidar com os jovens. A escola acolhe mal. Não sabe negociar uma proposta de educação real. Para acolher, é preciso reconhecer e admitir o estudante do jeito que ele é”, reforçou.

Melo também ressaltou outros aspectos, como a permanência do aluno e a capacidade da escola de se integrar de forma flexível às oportunidades de formação profissional, permitindo escolhas mais diversificadas. “É a escola que deve se ajustar ao aluno, olhar para ele como um sujeito com oportunidades a serem descortinadas à sua frente”, completou, referindo-se à relação do jovem com o mundo do trabalho que, muitas vezes, é “opaco” para esses estudantes. “A escola não opera no sentido de tornar mais claro esse cenário externo”, disse.

Considerando as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para o Ensino Médio, elaboradas pelo CNE, Lima rebateu críticas, dentre elas a de que o Ensino Médio é ruim porque não trabalha com áreas comuns. “Tenho a impressão de que algumas dessas críticas são feitas com base em poucas evidências”, disse. “Os nossos professores são formados por disciplinas. Mesmo assim, não há nada nas DCNs que impeça o trabalho interdisciplinar. Mas, nas escolas, não há um único momento em que os professores podem se encontrar para planejar isso”, explicou. “Essa questão tem mais a ver com a organização e orientação nas escolas do que com a formação dos professores.”

“Quem decide sobre o sistema escolar e quais são os interesses que movem o trabalho docente  e as relações de poder na escola?”, questionou Selles. Para ela, existe uma colonização do trabalho docente, que pretende produzir modelos do “bom professor”, da “boa escola”, do “bom Ensino Médio”. “É preciso estudar a escola a partir dos principais atores envolvidos – professores e alunos – e as experiências que eles vivenciam”, disse. Durante sua apresentação, ela mostrou ao público relatos de estudantes do Ensino Médio e comentou: “Me emociona ouvir um aluno dizendo que se sente derrotado quando vai à escola”.

 

 

 

 

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