SOBRAL: O “FEIJÃO COM ARROZ” DE VEVEU DO PT

Sobral: o “feijão com arroz” de Veveu do PT

Publicado em 16/11/2015 por Luiz Carlos de Freitas no blog do Freitas

O Brasil deverá passar pelo encantamento com índices de desempenho dos estudantes pelo qual outros países já passaram. Quando o índice baixar, isso será caracterizado como um caos. Quando subir será considerado melhoria da qualidade da educação. De fato, eles não são nem uma coisa, nem outra. Mas até que aprendamos isso, muita gente vai ganhar rios de dinheiro vendendo soluções mágicas para os índices baixos subirem.

O caso do “efeito demonstração Sobral” no Ceará é ilustrativo. Ele é muito parecido com o papel que o Texas cumpriu nos Estados Unidos, conhecido como “milagre do Texas”. Era o governo Bush (filho) que estava à época naquele Estado. Tendo implantado políticas de responsabilização do tipo que foram aplicadas em Sobral, o Estado melhorava nos índices. Esta melhora de índice foi vendida para o Congresso (neste momento Bush já era Presidente) como “melhoria da qualidade da educação” e como uma solução que poderia ser aplicada para todos os Estados americanos. Aí nasceu a fracassada lei de responsabilidade educacional americana em 2001. Seu Secretário de Educação no Texas, virou Ministro da Educação.

Hoje se sabe que não houve tal milagre, mas a propaganda serviu para criar um mercado educacional nos Estados Unidos de 850 bilhões de dólares nos últimos anos e parte da educação já está privatizada. Muita gente ganhou e ganha rios de dinheiro.

“As pontuações no teste do Texas subiram, mas no SAT para estudantes universitários potenciais caíram. Os pesquisadores descobriram que os testes do Texas projetados pela Pearson mediam principalmente a habilidade de fazer testes. Apologistas escolheram a dedo as pontuações do National Assessment of Educational Progress para mostrar o progresso, mas no geral o Texas perdeu terreno para o resto do país, como mostrou o Dr. Julian V. Heilig, um pesquisador em educação da Universidade do Texas. Mas aí já era tarde demais. O Milagre do Texas, miragem ou não, era a lei da terra.”

Aqui no Brasil, a cada certo tempo, a mídia desenterra Sobral para exibí-la como um facho de luz a ser seguido pela educação brasileira. O sub-texto é mostrar que as políticas de responsabilização baseadas em testes frequentes, seguidos por pagamento de professores por bônus, funcionam. Outro sub-texto é passar a ideia de que a suposta pobreza do nordeste não é impedimento para que as crianças aprendam, se adotada a política certa (a dos reformadores).

De onde vem a “comoção” com Sobral? Sobral, além de ser uma cidade diferenciada no Ceará é a terra dos Gomes.  Primeiro é o berço político de Cid Gomes e da atual vice-governadora do Ceará, a qual à época em que Cid era prefeito em Sobral, também era sua Secretária da Educação. O atual prefeito de Sobral, Veveu, é marido da vice-governadora e à época de Cid também era Secretário de Cultura. O próprio pai de Cid foi prefeito de Sobral. Depois, a fama também vem dos interesses da indústria educacional que opera em Sobral, interessada em mostrar que seus produtos são bons. Finalmente, e bem finalmente, deve-se à melhoria nas médias de leitura e matemática em testes locais e na Prova Brasil – embora este seja o aspecto mais notado.

São políticas de voo de galinha. Focam no índice a ser obtido e constrangem as escolas a caminhar nesta direção. Estreitam o currículo em função do índice das disciplinas medidas. Difundem a noção errada de que se a nota média da escola aumentou, então a qualidade também melhorou.

Pior que isto é concluir que as melhorias de médias são efeito de certas políticas que devem ser generalizadas. Isso leva frequentemente ao erro de se tomar correlação por causação. É um erro muito comum neste tipo de propaganda. Em geral, estas conclusões supõe que haja causalidade entre as políticas aplicadas e resultados obtidos, o que só pode ser evidenciado com acompanhamento de estudos controlados, com metodologias específicas de caráter qualitativo e de longa duração.

Todo o esforço das escolas imersas nestas politicas não é no sentido de construir uma educação de qualidade que desenvolva as várias dimensões da formação dos estudantes e lhes dê autonomia intelectual, mas sim, vão na direção de treinar o aluno para melhorar o índice, reduzindo educação a instrução, ao “feijão com arroz” simplificado.  É claro que se você simplificar e  “ensinar para a prova”, a nota vai subir. Educar, no entanto, é diferente de treinar. E nota alta em testes estreitos não é sinônimo de boa educação.

O alegado “sucesso” de Sobral se deve a uma decisão de reduzir educação a instrução. Como diz o atual prefeito Veveu Arruda do PT:

“A nossa preocupação é com o arroz com feijão bem feito, sem pedagogês que não dá resultado”.

Em seguida, alinha-se o “feijão com arroz” curricular às apostilas e aos exames. Diz a reportagem que esteve em Sobral que:

“Os estudantes passam por uma bateria de avaliações. Além das provas aplicadas pelos próprios colégios, que são no mínimo mensais, são feitas semestralmente avaliações do município, com equipes de fora do colégio. Também há os exames dos governos estadual e federal.”

Uma “overdose” de avaliação. Em relação ao material didático:

“Parte do material pedagógico é feito pela rede, parte por empresa terceirizada. Em comum há a determinação do que deve ser ensinado a todos, diariamente.”

Para garantir controle, os resultados nos testes dos alunos orientam a remuneração extra dos professores das escolas. Segundo um Diretor de escola:

“A gratificação por desempenho é o que alimenta a vontade de continuar melhorando.”

Para o mesmo diretor a sequência de exames é boa, pois “dá pressão”.

Ou seja, a mesma “overdose” de exames e provas que hoje são reconhecidas por Obama como fora de controle nos Estados Unidos é usada em Sobral e recomendada para o Brasil. É claro que ensinando para a prova, a média aumenta – mas à custa de reduzir a educação ao “feijão com arroz” de Veveu do PT.

Estas políticas vivem querendo achar um “efeito demonstração” para torná-las vendáveis a outros locais. Mas as escolas são ambientes complexos onde a inovação não se introduz por simples cópia, de forma duradoura e sem efeitos colaterais.

Não há atalhos para a boa educação, embora existam muitos atalhos para elevar a nota média das escolas nos testes.

 

 

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