Expansão desigual

Expansão desigual

A revista Pesquisa FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), de fevereiro de 2018, apresenta o artigo “Expansão desigual”, em que discute que a “ampliação do acesso à educação básica foi acompanhada pelo aumento das diferenças na aprendizagem, prejudicando alunos pretos, pardos e de nível socioeconômico baixo”.

Embora o ensino fundamental no Brasil hoje possa ser considerado universal (99,2% das crianças de 6 a 14 anos frequentando a escola), um levantamento da unidade brasileira da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso), produzido com base na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), identificou que, em 2002, apenas 10,7% dos jovens mais pobres do país chegavam ao ensino médio na idade adequada, patamar que hoje subiu para 39%. Os números indicam, afirma o texto, “que as desigualdades que antes se manifestavam no acesso à escola pública, agora se revelam dentro dela, com crescentes diferenças nos níveis de aprendizagem, que podem chegar ao equivalente a três anos de escolarização entre crianças na mesma idade” (negrito meu).

Segundo José Francisco Soares, professor doutor aposentado da UFMG, “a desigualdade de aprendizagem entre grupos de diferentes níveis socioeconômicos cresceu. Alunos submetidos a mais de uma característica associada à exclusão social têm desempenho muito pior do que os outros”. A distância de aprendizagem entre alguns grupos pode chegar a três anos de escolarização.

O Núcleo de Pesquisa em Desigualdades Escolares (NUPEDE), da UFMG, vem analisando dados fornecidos pela Prova Brasil. Suas constatações apontam que “os problemas de aprendizado no ensino fundamental constituem uma barreira para o acesso a níveis mais altos de ensino. Proficiência menor de alunos pardos e pretos ou com nível socioeconômico baixo os coloca em situação desvantajosa para seguir a trajetória escolar”, considera Maria Teresa Gonçalves Alves, coordenadora do NUPEDE.

A mesma professora declara que “escolas nas quais questões de liderança administrativa e pedagógica estão mais bem resolvidas, em que professores, alunos e famílias participam de processos de tomada de decisões, que possuem menos problemas de recursos humanos, onde os espaços educacionais são adequados, com recursos audiovisuais e de informática, os alunos têm menor risco de exclusão e mais chance de estar no nível adequado de ensino”.

Outras práticas que permitiriam reduzir a desigualdade na educação básica, segundo Mont’Alvão, pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e da Universidade do Estado de Iowa, nos Estados Unidos, “seriam investir no desenvolvimento de escolas de tempo integral com atividades diversificadas”.

 

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