Semana de provas: prática que não condiz com a avaliação formativa

Benigna Maria de Freitas Villas Boas

O ano letivo está começando e o trabalho pedagógico da sala de aula e o da escola estão sendo planejados, a partir dos resultados da avaliação conduzida no ano anterior. A avaliação entra em cena imediatamente, porque ela e os objetivos formam o par que direciona esse processo. Os objetivos dão o norte do trabalho e a avaliação confirma ou não o seu alcance, além de acompanhar o desenvolvimento das atividades e de indicar as necessidades de intervenção. Há escolas e sistemas de ensino que pensam logo em aplicar provas diagnósticas. Antes disso, é preciso refletir: será praticada a avaliação formativa? Espero que sim, por ser a que deseja que todos os estudantes se beneficiem das aprendizagens. Nesse caso, provas diagnósticas têm de estar em sintonia com os princípios da avaliação formativa. Como um deles é o da intervenção pedagógica, as necessidades apontadas nessas provas deverão ser imediatamente atendidas, para que todos os estudantes possam se engajar nas tarefas sem dificuldades.

Na organização do trabalho escolar, uma velha prática permanece: a semana de provas. Por que essa exaltação à prova, concedendo-lhe uma semana a cada bimestre? O problema não é a prova em si, mas o contexto por ela criado, que destoa da função formativa da avaliação.

A semana de provas tem imposto um formato inaceitável ao trabalho pedagógico. Em algumas situações as aulas são suspensas para a aplicação de provas em todas as turmas, simultaneamente, o que é confortável para os professores, que elaboram um único instrumento para todos os estudantes do mesmo ano escolar. Em cada dia os horários de aula são ocupados apenas com provas, aplicadas por um professor em cada turma, não sendo ele necessariamente o responsável pelo componente curricular e o que nela atua. Uma das justificativas é a de que os estudantes precisam se preparar para se submeterem a provas em situações de vestibular e de emprego. São liberados após as provas, para que estudem para as do dia seguinte e para que os professores possam “corrigir” as já aplicadas, já que em todas as suas turmas elas ocorrem na mesma semana. Desse modo, as horas de efetivo trabalho escolar ficam encurtadas.  

Quem ganha com essa sistemática? Não são os estudantes, principais sujeitos da escola. Trata-se de um desserviço à educação porque institui provas e notas como o carro-chefe do processo de aprendizagem e de avaliação. Já ouvi estudantes argumentando que, não sendo possível estudar para cada prova, por ser aplicada uma a cada dia, escolhem aquelas para as quais têm condições de se preparar, dedicando-se às outras futuramente. É uma iniciativa excludente e contrária aos propósitos da escola comprometida com a qualidade social. Induz os estudantes a estudarem para provas.  

O documento Diretrizes de avaliação educacional: aprendizagem, institucional e em larga escala (Secretaria de Estado de Educação do DF, 2014-2016), ainda em vigor, ao tratar de provas, aponta a inconveniência da adoção de uma semana a elas destinada, mas não defende o seu abandono. Apenas apresenta as seguintes considerações: “a quem ela beneficia? O trabalho pedagógico seria realizado de forma padronizada em todas as turmas de modo a se aplicar uma mesma prova no mesmo dia e horário para todos os estudantes?” (Idem, p. 49-50). Levando em conta que o objetivo do documento é oferecer diretrizes para o desenvolvimento do trabalho escolar e que nele está expressa a adoção da avaliação formativa pelas escolas, que não acolhe a semana de provas, caberia orientação para a abolição dessa prática.

A semana de provas lhes dá um destaque que as desmerece, tantos são os inconvenientes pedagógicos que causa. Ações de formação continuada sobre as funções da avaliação, principalmente a formativa, são urgentes.

 

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