Currículo em Movimento para a Educação Básica

Benigna Maria de Freitas Villas Boas

Segundo informações contidas no site da SEDF (acesso em 16/01/13), “o Primeiro Ciclo (Educação Infantil) está voltado às crianças de 0 a 3 anos (creche) e 4 e 5 anos; o Segundo Ciclo (Ensino Fundamental I) engloba o Bloco I (BIA – 6,7 e 8 anos) e o Bloco II (4º e 5º anos); o Terceiro Ciclo (Ensino Fundamental II) vai do 6º ao 9º anos e o Quarto Ciclo (Ensino Médio) passa a ter a organização semestral, compreendendo os Blocos I e II, que agrupam as disciplinas por área de conhecimento”.

Segundo o mesmo site, o “primeiro Ciclo terá implantação imediata. O Segundo Ciclo terá implantação imediata em cinco Regionais de Ensino (Recanto das Emas, Santa Maria, São Sebastião, Núcleo Bandeirante e Guará). Nas demais Regionais a implantação será por adesão das escolas, sendo que o prazo para adesão é até sexta (18). O Terceiro Ciclo será implantado apenas nas escolas que aderirem e apresentem as condições para implantação (13 escolas inicialmente). O Quarto Ciclo terá implantação imediata nas 63 escolas, das 86 que ofertam o ensino médio, que detém as condições necessárias estabelecidas pela Subsecretaria de Planejamento e Avaliação (SUPLAV).”


O BIA existe desde 2005. Tem apresentado resultados positivos mas ainda necessita ser mais bem compreendido pelos professores, pais e estudantes. A criação de outros blocos requer que se ampliem as condições de trabalho das escolas, se ofereça formação aos professores e demais profissionais da educação que atuam nas escolas, assim como se promova preparação dos pais e estudantes para compreenderem o novo processo de trabalho e o apoiarem. Sem isso o Currículo em Movimento não alcançará êxito.
Um dos componentes essenciais desse novo currículo é a avaliação, que direciona todo o processo. Quando se fala em ciclos e blocos, a primeira resistência se refere à avaliação. Logo surge a pergunta: como fica a reprovação? Entende-se que sem ela o trabalho não é sério e os estudantes não estudarão. É preciso desconstruir essa compreensão tão arraigada nos sistemas de ensino e na sociedade. A reportagem do Correio Braziliense apresenta o depoimento de uma mãe de uma estudante que frequentará este ano o 4º ano e poderá ser reprovada somente ao final do 5º: “Minha filha tem que passar por mérito. A criança vai se sentir desestimulada. Se não há reprovação, por que ela vai se esforçar?

No quadro citado no site da SEDF, que compara elementos da “seriação, ciclos e semestralidade”, afirma-se que no regime seriado a avaliação é “seletiva e classificatória” e que nos ciclos e no regime semestral é formativa. Afirmações desse tipo não são cautelosas porque no regime seriado a avaliação não é necessariamente seletiva e classificatória e nos ciclos e no regime semestral ela não será formativa se a escola como um todo e os professores não estiverem em condições de praticá-la. Simplesmente implantar ciclos e blocos, sem oferecer às escolas e aos professores o apoio necessário, não conduz ao desenvolvimento desejável do trabalho pedagógico.

O mesmo quadro aponta como uma das dimensões das mudanças os “tempos de recuperação da aprendizagem”. Nesse item afirma-se que no regime seriado é feita “recuperação final”; nos ciclos serão desenvolvidos Projetos Interventivos e “recuperação ao longo do processo”; no regime semestral haverá recuperação bimestral, ao final do Bloco (semestral), recuperação final, recuperação no “Bloco de contraturno” e Projetos Interventivos.

Novamente cabe lembrar que no regime seriado a recuperação convencional pode ceder lugar a outras formas de intervenção assim que sujam necessidades de aprendizagem por parte dos estudantes

Outra observação se refere à ideia de recuperação, que historicamente tem significado a possibilidade de substituição de uma nota baixa por uma considerada adequada. O Currículo em Movimento poderá não atingir seus objetivos se mantiver esse ranço da avaliação tradicional. Projetos de intervenção, formulados pela escola, substituem com vantagem esse velho formato. Adotar a avaliação formativa e construir uma “escola possível”, como se anuncia, requer mudar o formato da escola em todos os seus aspectos. É uma atitude corajosa e necessária.

 

por Benigna Maria de Freitas Villas Boas – mbboas@terra.com.br
Reportagem do Correio Braziliense do dia 16 de janeiro de 2013, Caderno Cidades, p. 25, noticia mudanças curriculares anunciadas pela Secretaria de Educação do DF – SEDF – no dia anterior.

 

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