O que a neurociência diz sobre o uso de Chat GPT e outros algoritmos por estudantes

JC Notícias – 14/04/2023

Neurocientista Suzana Herculano-Houzel levanta questões sobre a interação com ferramenta de inteligência artificial

A neurocientista brasileira Suzana Herculano-Houzel tem uma mensagem bem objetiva para jovens estudantes que andam encantados com as possibilidades oferecidas pelo Chat GPT, a ferramenta de inteligência artificial que escreve textos como humanos lançada no fim do ano passado pela startup americana Open AI com apoio bilionário da Microsoft. A mensagem é: passar a delegar com frequência para a máquina a prática da escrita é abrir mão de desenvolver capacidades cognitivas e oportunidades de criar seu próprio conhecimento. Isso pode significar limitar capacidades e caminhos no futuro e tornar jovens facilmente manipuláveis. “O que me preocupa nisso tudo são as decisões que tiram possibilidades da gente, que roubam futuros possíveis”, diz ela. Bióloga, neurocientista e há sete anos professora associada da Universidade Vanderbilt, em Nashville, no Estado americano do Tennessee, Suzana é autora de, entre outros livros, “A Vantagem Humana – Como nosso cérebro se tornou superpoderoso” (Cia das Letras, 2017).

Nesta entrevista ao Valor, ela diz que, apesar das preocupações, seria tolo e inútil imaginar que esse tipo de tecnologia possa ter seu uso restringido. “Uso consciente. Talvez isso seja melhor que a gente possa aspirar e desejar.” A seguir, os principais trechos da entrevista:

Valor: Desde o ano passado, com o lançamento do Chat GPT, mais e mais estudantes passam a interagir com a ferramenta para que ela crie e escreva por eles trabalhos, resumos, apresentações de escola e de faculdade. Qual é a implicação disso para o cérebro desses jovens?

Suzana Herculano-Houzel: Quando você delega o processo a um terceiro, você não está mais usando o seu cérebro. O ser extraordinário que gostamos de pensar que somos é o que o fazemos com o cérebro que temos e é o que fazemos ao longo da vida. A gente costuma pensar na capacidade cognitiva do adulto como se aquilo fosse criado num estalo. E não é. Leva 20 anos, pelo menos, de aprendizado, de exposição, de oportunidades, durante os quais você vai fazendo exatamente o que esses algoritmos precisam fazer: ser treinado. O algoritmo também precisa receber dados, processar, ter oportunidade de juntar informações, de ver no corpo de dados que ele usa quais palavras ocorrem juntas, quais nunca são usadas juntas. Tudo isso é aprendizado e é aprendizado que o algoritmo tem que fazer também. Então, a gente delegar uma tarefa, o processamento, para o algoritmo significa q

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Veja o texto na íntegra: Valor

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