PROGRESSÃO CONTINUADA: DÁ FORMATO PRÓPRIO À EDUCAÇÃO DA CADA ESTUDANTE

Benigna Maria de Freitas Villas Boas – mbboas@terra.com.br

O trabalho com ciclos requer a adoção da progressão continuada, um recurso pedagógico que possibilita o avanço contínuo dos estudantes de modo que: não fiquem presos a grupos ou turma; progridam sem interrupções, lacunas ou percalços; não repitam o que já sabem.

A progressão continuada pode ser desenvolvida por meio dos seguintes mecanismos:
– pela recomposição de turmas ao longo do ano letivo;
– pelo avanço dos estudantes de um ano a outro, durante o ano letivo, se os resultados da avaliação assim indicarem.

Outros mecanismos poderão ser criados pelas escolas.

A adoção da progressão continuada traz vantagens para professores e estudantes. Quanto aos primeiros, têm a sua atuação valorizada porque os seus resultados são evidenciados. No regime seriado o trabalho pedagógico tem como referência a turma, que caminha (não necessariamente avança) junta durante todo o ano letivo. Nos ciclos o desempenho de cada estudante é acompanhado porque ele é realmente a figura central. Como as conquistas de aprendizagem são valorizadas, esse fato faz com que o professor sinta prazer pelo trabalho que realiza. Como consequência, a escola como um todo e os pais/responsáveis reconhecem a atuação docente.

Quanto aos estudantes, são incentivados a continuar sua trajetória de aprendizagem, o que os leva a traçar novos objetivos. Com isso instala-se o processo de autoavaliação, tão necessário para a formação de cidadãos capazes de enfrentar as necessidades sociais.

O Bloco Inicial de Alfabetização no DF – BIA – tem tentado pôr em prática a progressão continuada que, por ser um recurso novo, ainda é cercado de incompreensões pelos professores. Os relatos abaixo, obtidos em 2012, revelam esse fato:
“Se acontecesse na prática seria excelente, só que ainda há uma seriação entre os anos”;
“na prática se torna um grande problema, principalmente para o 3º ano (um depósito de problemas) e o professor atuante não tem suporte nenhum”;
“é uma tentativa de regularizar o fluxo dos alunos ao longo dos anos, superando o fracasso escolar. Mas, para isso acontecer, é necessário mudar muitas coisas”.

Se ainda há seriação entre os anos, isto é, se somente a nomenclatura “séries” foi substituída por “anos” e se o 3º ano é “um depósito de problemas”, tudo indica que a progressão continuada não está sendo praticada. O/a professor/a que afirmou ser o 3º ano um “depósito de problemas” sintetiza o entendimento de boa parte dos docentes: os estudantes estão sendo promovidos de um ano a outro sem aprendizagem. Ao chegarem ao 3º ano a “bomba explode”, como já ouvi alguém dizer, isto é, ele se torna um depósito de problemas. Essa situação é preocupante e merece intervenção imediata. A progressão continuada tem sido vista como promoção automática. Enquanto não se desfizer esse desentendimento, o verdadeiro trabalho com ciclos não terá sucesso.

Outro equívoco contido nos depoimentos anteriores se refere à afirmação do objetivo da progressão continuada como o de “regularizar o fluxo dos alunos ao longo dos anos”. Esta poderá ser uma decorrência da sua utilização. Como já foi exposto, o propósito da progressão continuada é promover o avanço contínuo de todos os estudantes. Tem razão quem afirmou ser necessário “mudar muitas coisas”. Essas mudanças devem ocorrer na formação inicial e continuada dos professores e dos demais profissionais da educação e na organização do trabalho escolar.

A progressão continuada faz parte dos pressupostos da avaliação formativa. Ela não se harmoniza com a avaliação classificatória pelo fato de favorecer o desenvolvimento contínuo das aprendizagens.

Você que acompanha este site como percebe a progressão continuada? Se é professor/a do BIA, como ela tem sido desenvolvida em sua escola? Quais dúvidas suscita?

 

4 respostas para “PROGRESSÃO CONTINUADA: DÁ FORMATO PRÓPRIO À EDUCAÇÃO DA CADA ESTUDANTE”

  1. Percebo, como orientadora educacional, que os professores do BIA estão mais “maduros” para a necessidade de mudança das estratégias para diminuir esse “gargalo” que é o BIA. Na escola na qual trabalho, estamos estudando formas de se colocar efetivamente em prática o projeto interventivo.
    O BIA, muitas vezes também é o responsável pelo fracasso escolar trazendo como consequência a realidade de alunos fora da idade correta. Isso é um problema que traz um desconforto que é alvo de reflexão atualmente na ampliação do ciclos para o 4o. e 5o. ano do Ensino Fundamental.
    Com absoluta certeza existe o equívoco entre a progressão continuada e a aprovação automática. Essa discussão parece estar somente no nível acadêmico, os profissionais na escola ainda não sabem diferenciar e parececem perdidos dentro dessa organização do trabalho pedagógico.

     
    1. Suas reflexões são importantes, Juliana. Como há um número expressivo de estudantes com distorção idade-série, será que o BIA está contribuindo para que isso aconteça? Percebo a necessidade de desenvolvimento de uma pesquisa que analise os resultados do BIA. Fico feliz ao saber que na escola em que você trabalha vocês estão buscando formas de colocar efetivamente em prática o projeto interventivo. Se ele fosse devidamente desenvolvido, o BIA evitaria o fracasso escolar. Veja só: o fracasso é da escola e não do estudante. Qual é a sua escola? Eu gostaria de conhecer como vocês estão trabalhando com esse projeto.
      Grande abraço,
      Benigna Villas Boas

       
      1. Cara Prof(a) Benigna,
        Muito obrigada por responder as minhas impressões, esse diálogo entre a Universidade e a Escola é de suma importância.
        Acredito que em grande parte o BIA contribui para essa distorção idade série, assim como outros fatores que existem na comunidade da Estrutural e em todo DF. Mas eu não tenho dúvidas que este acúmulo de crianças reprovadas no 3o. ano é visto da mesma forma em nossa escola que foi citado em seu texto, os professores veêm o 3o. ano como um ” depósito de problemas”, e essa é uma realidade que merece ser devidamente comprovada.
        No CEF 02 Estrutural, estamos buscando aperfeiçoar nossas estratégias de acordo com a nossa realidade e adaptar algumas ações do Projeto Interventivo Institucional, principalmente com muita discussão e estudo nesse início de ano. Tivemos muita dificuldade no ano passado por vários fatores. Entretanto, estamos todas focadas eu, como orientadora, a supervisora e as coordenadoras juntamente com nossa cabeça
        a diretora da escola a fim de contribuir efetivamente com os nossos alunos e professores para uma mudança em nossa realidade. Inclusive, levantamos os dados sobre o indíce de reprovação no 3o. ano e também nos 4os. e 5os. anos para discutirmos a implantação 2o. ciclo. Seria uma pesquisa interessante, pois esses dados que merecem mais estudo e dedicação. Excelente ideia.

        Será um prazer recebê-la e se eu pudermos contribuir estamos à disposição. Telefone 3901-7981
        Abraços,
        Juliana P. de Melo

         
        1. Juliana, se achar conveniente, mande-me o número de alunos reprovados no ano passado no 3º e no 4º anos. Sua escola vai implantar o 2º ciclo?
          Abs,
          Benigna

           

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

doze − um =