O DEVER DE CASA FAVORECE O AVANÇO DAS APRENDIZAGENS?

O DEVER DE CASA FAVORECE O AVANÇO DAS APRENDIZAGENS?

Benigna Maria de Freitas Villas Boas

Publicado em http://gepa-avaliacaoeducacional.com.br

No livro que tem como título 50 Myths and lies that threaten America’s public schools: the real crisis in education (50 mitos e mentiras que ameaçam as escolas públicas americanas: a verdadeira crise na educação, organizado por David C. Berliner e Gene Glass, editora Teachers College, Columbia University, New York and London, 2014, um dos mitos apresentados e discutidos é o seguinte: “o dever de casa conduz ao avanço das aprendizagens”.

Por meio de tradução livre, exponho os argumentos dos autores. É importante destacar que eles desenvolvem suas ideias a partir do contexto social e educacional dos Estados Unidos.

A maior parte dos pais inclui a “hora do dever de casa” como parte da rotina familiar e atua como tutor, às vezes até desenvolvendo as atividades (ghostwriter) pelo filho, se ele resiste a cumpri-las. Isso acontece não porque os pais gostem do dever de casa. Um colunista do New Yorker assim escreveu sobre o dever de casa em 2012: “é uma instituição largamente desaprovada pelos que nela se envolvem. Os estudantes a odeiam por saudáveis e óbvias razões; os pais a odeiam porque fazem seus filhos infelizes; e os professores a odeiam porque têm que avaliá-la. Os pais valorizam o dever de casa por acreditarem que os estudantes que trabalham seriamente têm boas notas. Mas isso é correto, indagam os autores? Horas extras desenvolvendo conceitos, memorizando fatos e preparando textos em casa contribuem para melhorar suas notas? Talvez não.

Os autores do livro traçam um histórico do dever de casa nos Estados Unidos, lembrando que, há 50 anos, ele consistia em atividades de mera repetição mecânica de exercícios de matemática, ortografia, geografia, ciências e fatos históricos.

O debate sobre o dever de casa é tão antigo quanto a sua prática. Historicamente, os seus críticos têm enfatizado dois aspectos: ele compromete a saúde do estudante e não alavanca as aprendizagens.

Anos depois da implementação de várias políticas educacionais, os educadores dos Estados Unidos ainda enfrentam desafios sobre o dever de casa. Eles se inspiram nos exemplos da Finlândia e da Coreia do Sul. Na Finlândia, onde os estudantes costumam ser colocados no primeiro lugar do ranking em testes, eles parecem não fazer dever de casa e têm tempos curtos na escola diariamente. Já na Coreia do Sul os estudantes têm muitas horas de estudo à noite. Eles ocupam o segundo lugar no ranking. Em função disso, os educadores americanos querem encontrar um modelo que represente um equilíbrio entre as posições desses dois países. Desenvolve-se a ideia de limitar o tempo do dever de casa para duas horas cada noite.

Uma inovação que vem adquirindo força é a de implementação de trabalho escolar ancorado em projetos e não em tarefas/conteúdos, como é o caso do dever de casa. Os estudantes elaboram e executam um amplo projeto que incorpore habilidades nucleares como computação e letramento e que requeira pensamento crítico, comunicação e resolução de problemas. Eles é que decidem se trabalharão no projeto fora do tempo escolar. Isso já é usado em Illinois e Pensilvânia. Na Califórnia algumas escolas substituíram o dever de casa por “trabalho por objetivo”. São tarefas para enriquecimento individual. Uma escola privada em Tucson, Arizona, eliminou o dever de casa e outra em Bleckley County, Georgia, o tornou opcional.

Os autores concluem que o dever de casa tem sido objeto de análise em seu país, tem passado por mudanças e, por si só, não traz benefícios para as aprendizagens dos estudantes.

PARA SABER MAIS SOBRE O TEMA NO BRASIL: VIILAS BOAS, Benigna M. de F.; SOARES, Enílvia R. M. Dever de casa e avaliação. Araraquara, SP: Junqueira & Marin, 2013.

 

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