CICLOS E PROGRESSÃO CONTINUADA: DUAS PROPOSTAS DIFERENTES?

CICLOS E PROGRESSÃO CONTINUADA: DUAS PROPOSTAS DIFERENTES?

Benigna Maria de Freitas Villas Boas

Publicado em http://gepa-avaliaçãoeducacional.com.br, em 26/10/2014

Uma reportagem da revista Nova Escola de outubro de 2014 apresenta título interessante e provocativo: Para ensinar, não é necessário reprovar, reprovar e reprovar. O texto aborda a adoção dos ciclos nas diferentes unidades da federação e justifica sua necessidade, mas, como sempre acontece, deixa dúvidas quanto ao que chama de diferença entre ciclos e progressão continuada. Diz a reportagem: “É comum entender a progressão continuada como sinônimo dos ciclos de aprendizagem, já que as duas propostas costumam ser implantadas em conjunto pelas secretarias de educação. E é aí que reside o problema. Em alguns casos, o que recebe o nome de ciclos de aprendizagem nada mais é do que a reunião de algumas séries em grupos distintos, com aprovação automática entre elas. É importante, então, diferenciar as duas propostas: a progressão continuada sugere um processo educativo contínuo e se contrapõe às reprovações, enquanto os ciclos dizem respeito à maneira de organizar o ensino, contrapondo-se ao tradicional sistema seriado. Para que os ciclos funcionem, é preciso haver uma reestruturação completa do currículo escolar, fazendo com que os processos educativos atendam às demandas de aprendizagem dos alunos em cada etapa maior”.

Não é à toa que a implantação dos ciclos vem acompanhada da progressão continuada porque esta lhe é inerente. Só que ainda não conseguimos perceber o que muda nessa sistemática. Não são duas propostas isoladas, mas complementares. Ainda temos como referência o regime seriado, baseado em outra lógica. Para que a organização escolar se desvincule da seriação e crie mecanismo para que os estudantes avancem sem interrupções, lacunas e percalços, ela se vale da progressão continuada. O trabalho pedagógico desenvolvido por meio de intervenções pedagógicas constantes e variadas fornece informações seguras para os avanços.

Estão certas as secretarias de educação ao implantarem em conjunto os ciclos e a progressão continuada. Ao dizer que “é aí que reside o problema”, a reportagem quer alertar para dificuldades enfrentadas pelos sistemas de ensino e suas escolas com relação ao modo de praticar a progressão continuada, que não é um regime, mas uma maneira de trabalhar que não permite que os estudantes fiquem presos a séries/anos e turmas. Enquanto nos prendermos ao agrupamento fixo dos estudantes durante todo o ano letivo, não conseguiremos lhes dar a chance de conquistarem as aprendizagens no tempo previsto e de forma dinâmica.

Para que os ciclos ganhem força e se imponham, necessitam do apoio da progressão continuada, que não significa promoção automática. A verdadeira organização da escolaridade em ciclos não comporta “aprovação” nem “reprovação” porque os estudantes progridem sempre, isto é, as aprendizagens acontecem continuamente. Torna-se necessário conhecer o que já aprenderam e o que ainda não aprenderam para que se promovam as aprendizagens seguintes.

Concluindo: não é o caso de se estabelecer diferença entre ciclos de aprendizagem e progressão continuada, como sugere a reportagem. São ações complementares. Contudo, a progressão continuada pressupõe a existência de aprendizagem. É impossível ao estudante progredir sem ter aprendido. Aprovação e reprovação são conceitos que devem ser abolidos. A palavra de ordem é APRENDIZAGEM. Estão os profissionais da educação sendo formados para atuar nessa lógica? Estão as universidades acompanhando as necessidades do trabalho das escolas de educação básica para que assumam a responsabilidade que lhes cabe em relação à qualidade do trabalho dessas escolas?

 

 

3 respostas para “CICLOS E PROGRESSÃO CONTINUADA: DUAS PROPOSTAS DIFERENTES?”

  1. Que bela contribuição! Texto bem objetivo e explicativo para os profissionais da educação que ainda possuem dúvidas acerca dos ciclos e da progressão continuada. Parabéns, professora Benigna!!
    Rose.

     
    1. Obrigada, Rose. Ainda não há compreensão plena da progressão continuada e suas contribuições. Precisamos discutir este tema. Por que tanta resistência em encontrar meios de promover as aprendizagens de todos os estudantes sem que percam tempo dentro da escola? Estão os cursos de formação preparados para o desenvolvimento dessa discussão?

       
  2. Muito bom, nossa rede ainda precisa avançar nesse e noutros conceitos que possam inspirar práticas formativas de avaliação, grato professora, abço ERI

     

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

20 − 18 =