A AVALIAÇÃO FORMATIVA POTENCIALIZANDO O DESENVOLVIMENTO DA AUTONOMIA DOS ALUNOS
Maria Susley Pereira
A ideia de que a avaliação no contexto educativo relaciona-se com as aprendizagens e com as intenções da atuação educacional ainda não é tão clara, muito embora todo o seu contexto histórico revele que o conceito de avaliação tem se modificado a fim de atender as especificidades de cada época. Já tivemos períodos em que a avaliação era vista basicamente como medida, baseada na Psicologia Comportamental de Skinner, depois como grau de congruência entre objetivos e o seu grau de consecução, mais adiante foi considerada na totalidade do âmbito educacional, afetando não só o rendimento do aluno, mas tudo que se relacionava a programas educacionais (professor, currículo, etc.). Nesse período a avaliação passa a ser vista como “compilação e uso de informação para tomada de decisão” (CRONBACH, 1985 apud ARREDONDO, 2009, p. 32). Naquela época, há mais de 30 anos, Michael Scriven identifica a avaliação formativa e de lá para cá a expressão “avaliação formativa” vem sendo largamente explorada em documentos orientadores da prática docente, em debates educacionais e também nas falas dos professores. Mas, torná-la efetivamente um componente da prática pedagógica exige valorizar alguns aspectos e desenvolver determinadas estratégias. É preciso que se possa:
1) Acreditar que a avaliação pode contribuir para o sucesso nas aprendizagens, gerindo e orientando o processo educativo.
2) Enxergar a avaliação como um processo dinâmico, dialógico e coletivo.
3) Encarar a autoavaliação como parte fundamental dos processos de ensino e de aprendizagens.
4) Organizar o trabalho de forma que este viabilize o desenvolvimento da autonomia dos alunos, considerando-os como a finalidade e parte do processo educativo e, especialmente,
5) Oferecer feedback aos alunos sobre aquilo que produzem, seja oralmente ou não, com vistas às aprendizagens e não somente como comunicado de notas ou menções.
Os aspectos 4 e 5 encontram uma potencialidade pedagógica de desenvolvimento por meio de estratégias cotidianas que “têm em vista o desenvolvimento pelo aluno de certas competências como realizar tarefas por iniciativa própria, responsabilizar-se por realizar integralmente uma tarefa e avaliar e controlar o desenvolvimento das tarefas que se propõe realizar”, o que é chamado Plano Individual de Trabalho – PIT.
O Plano Individual de Trabalho é uma das várias estratégias de trabalho diferenciado usado na sala de aula a fim de possibilitar que todos alcancem os objetivos, embora por caminhos diferentes. Esta estratégia é desenvolvida como potencial pedagógico para a avaliação formativa em algumas escolas de Lisboa, Portugal. A socialização dessa prática ocorreu durante o VI Encontro do CIED – I Encontro Internacional em Estudos Educacionais – Avaliação: Desafios e Riscos, na Escola Superior de Educação de Lisboa, de 15 e 16 de novembro de 2013 em sessão paralela de comunicação, pelo trabalho “O TEA como estratégia de implicação dos alunos na planificação e avaliação do processo de aprendizagem” com base na pesquisa de mestrado “Análise reflexiva da implementação do Tempo de Estudo Autônomo no 3º ano de escolaridade”.
Os alunos planejam seu Plano Individual de Trabalho onde registram um Tempo de Estudo Autônomo – TEA – para uma ou duas semanas. Cada um registra quais os conteúdos que ainda não compreendeu bem e precisa trabalhar mais e, diariamente, realiza as atividades a que se propôs com ou sem ajuda (do professor ou de colegas). O trabalho realizado no TEA é avaliado pelo aluno através de uma reflexão escrita que será comentada e discutida pelo professor. Esta estratégia ajuda na garantia de atendimento a necessidades individuais de aprendizagens porque, para além de permitir aos alunos realizarem atividades adequadas às suas necessidades, permite ao professor dar um apoio individualizado aos alunos que mais dele necessitam.
Durante a semana, os alunos já sabem do horário fixo, que é previsto em uma Agenda Semanal, na qual são contempladas atividades permanentes e uma delas é o que corresponde ao Tempo de Estudo Autônomo, no qual os próprios alunos, inicialmente com a ajuda do professor, planejam o que desejam realizar durante aquele período de tempo. Os alunos guiam-se pelo Plano Individual de Trabalho que “é uma espécie de mapa de planeamento das actividades e da verificação do seu cumprimento”.
No final da semana, cada aluno realiza uma autoavaliação do seu trabalho e faz o registro em seu PIT. Normalmente às sextas-feiras, cada aluno comunica para a turma o trabalho que desenvolveu, as atividades que tinha planejado, as que realizou, as dificuldades que sentiu, os problemas que surgiram e como os resolveu, bem como auxílios que ainda acha que precisa. Depois de socializar sua autoavaliação com o professor e com os colegas da turma registra também no seu PIT todas as apreciações que surgiram no decorrer da avaliação em Conselho de Turma. Deste modo, o PIT permite ao professor ficar com uma ideia mais clara das principais dúvidas e necessidades de cada aluno, podendo assim também organizar e reorganizar o seu trabalho de acordo com elas.
Segundo constatou a pesquisadora (PEREIRA, 2013), o TEA é uma estratégia importante que contribui para “a avaliação e regulação deste percurso de aprendizagem. O envolvimento ativo dos alunos em todo o processo permitiu, através do diálogo e reflexão constantes, proporcionar aos alunos um conjunto de aprendizagens significativas e, ao professor, reorganizar as suas práticas e reformular os recursos que as sustentam”, papel fundamental da avaliação formativa.
Referências:
PEREIRA, Adriana Xavier. Prática de ensino supervisionada no 1º e 2º ciclo do ensino básico: análise reflexiva da implementação do Tempo de Estudo Autónomo no 3ºAno de escolaridade. Dissertação (mestrado). Lisboa, Portugal: Escola Superior de Educação, 2013.
PEREIRA, Adriana Xavier. O TEA como estratégia de implicação dos alunos na planificação e avaliação do processo de aprendizagem. In: VI Encontro do CIED – I Encontro Internacional em Estudos Educacionais – Avaliação: Desafios e Riscos, na Escola Superior de Educação de Lisboa, 2013, Lisboa, Portugal, 2013.
ARREDONDO, Santiago Castillo e Diago, Jesús Cabrerizo. Avaliação Educacional e Promoção Escolar. São Paulo: UNESP, 2009.
Realmente tudo de bom para uma avaliação, concordo plenamente, o nosso meio de avaliar RAV, precisar sofrer algumas mudanças, mas primeiro precisamos mudar a postura e concepção de avaliação dos professores.
avaliar é muito mais do que escrever meramente algumas palavras sobre o aluno, vai mais profundo, respeitando seu desenvolvimento dentro da sua potencialidade.
Prezada Vanilda, precisamos deixar de discutir a avaliação apenas na forma de registros e partir para uma discussão que revele o quanto a avaliação formativa pode nos ser útil, tornando o trabalho mais fácil e até mais prazeroso, uma discussão que promova reflexão sistematizada acerca dos princípios de uma avaliação que esteja a serviço da organização do trabalho pedagógico. Lê-se e fala-se muito da avaliação formativa, mas ela ainda não é tão clara na prática. Precisamos compreender para que servem esses registros e como determinadas estratégias pedagógicas devem servir-se da avaliação a fim de atender as reais necessidades de aprendizagens dos alunos.
Obrigada.
Abraços,
Susley
Exclente reflexão Susley.
Tornar o estudante sujeito central do processo de avaliação é, pois, o nosso maior desafio. Práticas de autoavaliação e o fomento há momentos de estudos autônomos, com boa condução e condições adequadas, pode ser o caminho.
Abraços.