A AVALIAÇÃO PODE CONTRIBUIR PARA A FORMAÇÃO DA CIDADANIA?
Benigna Maria de Freitas Villas Boas
A avaliação pode e deve contribuir para a formação da cidadania. Porém, é preciso analisar que tipo de cidadão está sendo formado por meios das ações educativas: o subserviente, que tudo acata, sem questionamento, ou o que luta por seus direitos? Ontem me foi relatada uma situação preocupante: um/a professor/a de uma disciplina da área de Matemática, de uma renomada universidade, aplicará amanhã (dia 30/11/2015) a terceira e última prova do semestre. Contudo, fui informada que os estudantes não conhecem as notas das duas primeiras provas. Justificativa: o/a docente entende ser esta a forma de eles serem obrigados a estudar. Quem obteve nota alta inicialmente poderá não se esforçar por mantê-la.
Trata-se de uma atitude incompreensível, injusta e que destoa dos propósitos do trabalho pedagógico comprometido com a conquistas das aprendizagens. Em qualquer atividade que exercerão, os futuros profissionais avaliarão e serão avaliados. Nas escolas de educação básica e nos cursos de nível superior, por meio de suas experiências avaliativas, eles estarão construindo a sua maneira de agir e de se relacionar com colegas e outras pessoas.
Na turma mencionada (e certamente em muitas outras, porque o/a docente mencionado/a deve atuar em várias), possivelmente haja estudantes de cursos de licenciatura. Com estes o estrago é ainda pior: a tendência será reproduzirem nas escolas onde atuarão o mesmo processo avaliativo ao qual foram submetidos.
A avaliação é uma categoria decisiva na organização do trabalho pedagógico. Ela dá o tom de tudo o que se faz: une-se aos objetivos e, assim, norteia a tomada de decisão quanto ao modo de ensinar/aprender, quanto ao conteúdo da aprendizagem e quanto ao relacionamento entre professor/estudantes e estudantes/estudantes. A avaliação é a mola mestra do trabalho pedagógico. A decisão do/a professor/a mencionado/a acima revela isso.
Por este e muitos outros fatos conhecidos, os professores universitários precisam ter formação pedagógica porque eles têm forte influência sobre a formação profissional dos seus estudantes. A universidade funciona como exemplo para todos os setores profissionais. O que lá se faz é disseminado e imitado. A lição que os estudantes do/a referido/a professor/a estão aprendendo, por meio de um processo centrado em notas, é a de submissão a uma avaliação alheia, de cuja negociação eles estão distantes. São esses os cidadãos que queremos formar?
As vezes penso que os práticos, aqueles que avaliam sem estudar avaliação, podiam se pautar pela ética já que lhes falta a técnica para avaliar. Otima reflexão professora. Ouvi um relato de outro docente que faz avaliação por pares, segundo ele, se a dupla errar alguma questão anula-se outra que acertaram porque segundo o avaliador é facilitar demais dois responderem uma só prova.