A BATALHA SOBRE OS CICLOS CONTINUA: QUEM SÃO OS PERDEDORES?
Benigna Maria de Freitas Villas Boas
Mais um capítulo dessa batalha é narrado na reportagem a seguir. O mais preocupante é a incompreensão sobre ciclos e, principalmente, sobre a avaliação, revelada em todos os episódios e depoimentos. Observe-se a manifestação ao final da reportagem: “Ou para agora – e evita prejuízos maiores – ou a coisa pode piorar. No caso dos ciclos, é só avisar que os alunos podem reprovar (sic) no fim do ano”. O entrevistado quer dizer que a interrupção da organização da escolaridade em ciclos pode ser feita simplesmente “avisando” que a “reprovação” continuará. Neste depoimento fica bem claro o entendimento de que o que diferencia os ciclos do regime seriado é a “reprovação”. Enquanto perdurar essa compreensão, a organização do trabalho da escola não avançará.
“Ano em risco com debate sobre ciclos
Governo afirma que suspensão do novo sistema de aprendizagem vai atrapalhar alunos. Sinpro também é contra revogação, enquanto Conselho diz que reversão não trará prejuízo
Correio Braziliense
Manoela Alcântara
Publicação: 13/08/2013 18:00 Atualização: 13/08/2013 12:39
Secretaria de Educação defende uma maior autonomia pedagógica do órgão
Os alunos da rede pública de ensino do Distrito Federal continuam sem saber se vão mesmo concluir o ano letivo no sistema de ciclos de aprendizagem para o ensino fundamental e de semestralidade para o ensino médio. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e a Secretaria de Educação tentaram prosseguir com o novo modelo em pelo menos nas 291 escolas que aderiram à mudança, mas a discussão voltou à esfera judicial.
O juiz da 5ª Vara da Fazenda Pública do DF proibiu a implementação da nova organização curricular. Assim, a discussão sobre o assunto voltou à tona. O GDF afirma que ainda não foi notificado, mas vai recorrer. Para o MPDFT, o acordo — que mantinha o novo sistema, desde que uma série de exigências fosse cumprida — seria a melhor solução para resolver o problema. Já o Conselho de Educação do DF apoia a reversão em todas as instituições de ensino.
No fim de semana, durante formatura da 2ª turma do programa DF Alfabetizado, o governador do DF, Agnelo Queiroz, criticou a ação do MPDFT e afirmou que a parte pedagógica do ensino é de responsabilidade da Secretaria de Educação. Ontem, a promotora de Justiça de Defesa da Educação (Proeduc), Amanda Tuma, optou por não rebater as críticas diretamente, mas ressaltou que, na ação, apenas exigiu o cumprimento da lei. “Não quisemos determinar ao GDF que tipo de metodologia deveria ser adotada, mas, sim, garantir que a Lei de Gestão Democrática fosse aplicada”, disse.
A decisão judicial, de caráter imediato, prevê a implementação dos ciclos somente após a normatização do tema e a participação da comunidade escolar. O descumprimento implica multa diária de R$ 1 mil.
O governo vai recorrer em todas as instâncias. De acordo com a assessora especial da Secretaria de Educação, Natália Duarte, a pasta se surpreendeu com a decisão. “O juiz resolveu rejeitar o acordo (com o MPDFT) e solicitou o retorno à metodologia aplicada em 2012. Só que isso é impossível. Haveria um prejuízo tamanho aos estudantes, principalmente na semestralidade”, analisou. Para ela, o recurso vai muito além da garantia do término do ano letivo pelo novo modelo. “É lutar por uma causa muito clara: o respeito à autonomia pedagógica da escola. O DF vai na contramão de todos os outros estados.”
O diretor do Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF) Washington Dourado acredita que a decisão da Justiça surgiu tardiamente e lembra que a suspensão imediata do sistema pode trazer prejuízo pedagógico aos alunos. “O governo e o Ministério Público devem achar uma forma de cumprir a decisão sem prejudicar os alunos das cerca de 300 escolas que aderiram aos ciclos”, alertou. No caso do ensino médio, Dourado ressalta que os jovens já cursaram metade das disciplinas e podem perder com a mudança.
Visão diferente
A visão do presidente do Conselho de Educação do DF, Nilton Ferreira, é diferente. Ele acredita que é possível reverter o sistema sem prejuízo aos estudantes. “Ou para agora — e evita prejuízos maiores — ou a coisa pode piorar. No caso dos ciclos, é só avisar que os alunos podem reprovar no fim do ano. Na semestralidade, os estudantes poderiam estudar os conteúdos ainda não vistos no contraturno”, ponderou.”
Estimada professora Benigna a senhora está certa, são os estudantes os que mais perdem em meio a este processo conflituoso e de proporções inimagináveis. A escola, lá dentro dela mesma, no mais intimo do seu interior sofre e fica desnorteada e com ela seus profissionais, esta semana participei de um momento de estudos e o tema ressurgiu e sabe o que a imprensa tem conseguido? Confirmar a tese equivocada de que escola de cilcos é escola sem reprovação e sem aprendizagens, lamentável mas o preço disso futuras gestões da educação é que irão sofrer grandes ou as maiores consequencias. Abço Eri
Isso é que tenho constatado: acredita-se que a escola em ciclos deve adotar a promoção automática. Grave engano de quem ainda não se debruçou sobre este tema.
É surpreendente a visão de um conselheiro de educação em relação ao ciclos, como destacado pela professora Benigna. Concordo com Gadotti (1996) de que mudanças significativas na organização escolar, como a implantação de ciclos,só se realizam com a participação dos docentes, desde a sua concepção até a sua realização, acompanhamento e avaliação. Caso contrário, elas serão inócuas, não atingindo a base dos sistemas de ensino. Mas, se essa adesão total não foi assegurada, há de se considerar que somente implementaram as propostas as escolas que discutiram e acordaram com a comunidade escolar. Essa batalha somente enfraquece a escola pública, e todos nós (professores, estudantes, gestores da escola pública…) é que estamos perdendo.