Erisevelton Silva Lima – Prof. Erí (lima.eri@gmail.com)
Não se contesta que o desempenho dos estudantes melhora e avança quando a família se faz presente e atenta ao caminhar dos filhos na escola. Também não se nega o quanto a bandeira pela participação dos pais tem sido requerida e levantada todos os dias nas diversas instituições educacionais. Desejo com este breve texto discutir e até sugerir alguma estratégia para o tema. Contudo, afianço-lhes que estou longe de apontar a solução definitiva para tal fenômeno e sua complexidade.
Ao dirigir uma escola pública de educação básica, no final da década de 1990, consegui com ajuda e o apoio de um grupo de docentes comprometidos alguns avanços nesta seara. Lembro-me que recebemos todos os alunos e seus pais, no primeiro dia letivo do ano de 1998, de uma forma diferente. Acordamos em equipe que estenderíamos um tapete no início do portão da escola e que à medida que os estudantes fossem entrando com seus pais abriríamos a faixa de boas vindas e, sob aplausos, todos seriam saudados ao passarem pelo cinturão que formaríamos do início do acesso à escola até o corredor central das salas de aula. Era um imenso corredor humano com professores, professoras, equipe diretiva, profissionais da carreira assistência e equipe de coordenação pedagógica. Algumas mães, estudantes e funcionários se emocionaram com a iniciativa. Durante toda aquela primeira semana o assunto preenchia os comentários de pais, estudantes e funcionários porque havíamos começado bem o ano. Outras ações foram implantadas, aos poucos: eram estratégias simples e com uso de pouca tecnologia. Naquele ano decidimos que as comunicações aos pais (naquela época telefone celular não era tão comum) seriam realizadas pessoalmente por algum funcionário da escola. Também decidimos que nenhum aluno ou pai seria constrangido em reuniões públicas de conselho de classe e que os assuntos seriam tratados com todo zelo, afinal adotávamos o conselho de classe participativo. Erramos, acertamos e retomamos o projeto de uma escola para todos, o que não ocorreu por meio de um ato isolado mas por meio de ações sérias e sistemáticas. Tínhamos dezoito salas de aula repletas de estudantes do ensino fundamental (anos iniciais e finais, no turno diurno) e de jovens e adultos no turno da noite. Praticamente todos os dias eu entrava em cada sala de aula no início ou no final do turno para cumprimentá-los: o bom dia, boa tarde ou boa noite do diretor era algo esperado. Pessoalmente visitei muitas casas dos nossos alunos, por motivo de doença, ausência ou mesmo para demonstrar cuidado com eles. Esta inspiração foi-me dada por Dona Lygia, diretora da então Escola Classe 28 de Taguatinga na qual fui estudante, no início dos anos de 1980.
Para entender que dia e horário seriam mais adequados para reunir-me com os pais realizamos uma pesquisa por meio de questionário a eles enviado. Foi difícil receber de volta o formulário, foi necessário mais de um mês para que tais respostas chegassem. Por meio delas descobrimos que sábado, ao contrário do que imaginávamos, seria um dos piores dias. Eles justificavam que era o único dia da semana para dormir um pouco mais, fazer compras, faxina na casa e aqueles pais que trabalhavam no comércio consideravam que o sábado era o dia sagrado para as vendas e as boas comissões. O dia mais apontado foi sexta-feira e, parte significativa, preferiam que tais reuniões acontecessem no turno da noite.
Outra iniciativa foi a montagem de um mural com os Classificados da Escola, onde eram colocados: orçamentos de trabalhos dos profissionais da comunidade escolar; divulgação de serviços, vagas para emprego e concursos públicos. Com apoio do Serviço de Orientação Educacional realizamos projeto similar ao realizado pela Escola de Pais, chamando a comunidade para palestras, oficinas e orientações que iam da temática educar com limites ao combate ao uso indevido de drogas e a sexualidade na adolescência, dentre outros.
Não fizemos coisas grandes e caras, realizamos coisas simples, mas como bem disse Clarice Lispector “Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho.”.
Por fim, quero lembrar que garantir a presença nem sempre assegura a participação, importa envolver os pais e não apenas convidá-los para comunicar as decisões da escola ou as queixas sobre seus filhos. A resposta será diferente para cada uma dessas estratégias.