A hora e a vez de projetos interventivos
Profa. Dra. Maria Susley Pereira[1]
O processo de elaboração da Base Nacional Comum Curricular – BNCC pelo Ministério da Educação sugere, em linhas gerais, uma preocupação com ações que visam fortalecer a educação no Brasil, sendo este aspecto fundamental para o avanço de qualquer nação.
Sem adentrarmos os pontos que vêm produzindo diferentes posicionamentos críticos acerca de sua proposição, a BNCC enseja ser vista como um documento de referência que favoreça nortear os currículos, definindo os objetivos de aprendizagens e a contextualização dos conhecimentos a serem trabalhados pelas escolas, a partir de seus projetos político-pedagógicos, em cada rede de ensino, tendo em vista a promoção da equidade e um ensino de qualidade para todas as escolas de educação básica do país.
Nesta linha, o próprio documento aponta que a BNCC “supõe a igualdade de oportunidades para ingressar, permanecer e aprender na escola, por meio do estabelecimento de um patamar de aprendizagem e desenvolvimento a que todos têm direito” (BRASIL, 2017, 11).
Podemos entender, a partir disso, que a perspectiva da Base ancora-se em dois conceitos que convergem para o ideal de justiça social: igualdade e equidade. Não podemos, pois, pensar em uma Base Nacional Comum Curricular sem atrelar a ela diretamente a ideia de que todos são capazes de aprender e, especialmente, que aprender é um “direito de todos” (BRASIL, 1988).
Então, se as aprendizagens são para todos, precisamos pensar que as intervenções didático-pedagógicas planejadas e desenvolvidas pelas escolas devem ser efetivamente também para todos.
Villas Boas (2010, 46) nos inspira a esse respeito quando diz que é “imprescindível que o estudante seja individualmente considerado”, quando são “atendidas as suas necessidades de formas variadas, diversificadas”. Para tanto, os projetos se apresentam como possibilidades ímpares de intervenção, uma vez que o trabalho por meio de projetos favorece o desenvolvimento das melhores estratégias pedagógicas para cada estudante ou para cada grupo de estudantes.
Devemos, para tanto, lembrar que “intervenção é inerente ao projeto” (Ibid., p. 42) e, por isso, a SEEDF tem, desde a implementação do Bloco Inicial de Alfabetização, em 2006, sugerido e orientado o desenvolvimento de Projetos Interventivos na rede, visando, sobretudo, favorecer aos estudantes “maiores oportunidades de aprendizagem” (DISTRITO FEDERAL, 2009).
Nesse contexto, a BNCC reabre espaço significativo para que possamos acreditar que esta é a hora e a vez dos Projetos Interventivos, considerando o seu sentido de ser uma estratégia intencional, a partir da qual se percebe uma situação problema e se busca resolvê-la.
No caso da educação no Distrito Federal, quando ainda são apresentados altos índices de defasagem nas aprendizagens, sem mencionar as reprovações, os projetos interventivos destacam-se principalmente por buscarem evitar que estudantes abandonem a escola ou permaneçam nela sem aprender, contradizendo, assim, os propósitos educativos e também da própria BNCC.
Neste caminho, vale à pena repensarmos: que tipo de projeto interventivo estamos querendo para os nossos estudantes? Estamos, de fato, investigando e possibilitando que os projetos atuem de forma interventiva e possam contribuir para os estudantes possam avançar conforme necessitam? Em outras palavras: estamos possibilitando que os projetos interventivos sejam estruturados para atender as individualidades e necessidades dos estudantes ou, ao contrário, estamos tornando os projetos uma estratégia unificada e até institucionalizada para a rede?
As respostas a esses questionamentos podem nos auxiliar na reflexão acerca do que estamos pensando para a educação no DF, se estamos ou não trabalhando para uma educação preocupada com a justiça social, se estamos ou não preocupados com a promoção de aprendizagens para todos ou se estamos, simplesmente, “maquiando” e contribuindo para a efetivação de projetos padronizados, os quais certamente não produzirão reflexos naquilo que os estudantes verdadeiramente precisam.
Referências
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Proposta preliminar. Terceira versão. Brasília: MEC, 2017. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/documentos/bncc-2versao.revista.pdf>. Acesso em: 03 mai. 2017.
DISTRITO FEDERAL. Secretaria de estado de Educação do Distrito Federal/Gerência de Ensino Fundamental. Circular nº 17, 27/05/2009.
VILLAS BOAS, Benigna Maria de Freitas. Projeto interventivo no bloco inicial de alfabetização no Distrito Federal: “projeto envolvente e que traz resultados a curto prazo”. Educação: teoria e prática, Rio Claro, v.20, n.35, jul./dez. 2010. Disponível em: <http://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/educacao/article/view/4084/3292>. Acesso em: 03 mai. 2017.
[1] Doutora e Mestra em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de Brasília – UnB, na linha de pesquisa Profissão Docente, Currículo e Avaliação. Graduada em Letras, professora da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal e membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Avaliação e Organização do Trabalho Pedagógico – GEPA.
A educação e o processo de aprendizagem é contínuo, nenhum indivíduo chega no auge do conhecimento. A avaliação do aprendizado permite reconhecer em que ponto cada indivíduo se encontra dentro do que foi ministrado a ele. Deve -se, ao implantar um projeto, levar em consideração a individualidade do estudante e considerar que alguma intervenção e adaptação sejam necessárias. Fase esta em o professor será o protagonista fazendo esta mediação e proporcionando ao aluno formas diferenciadas para chegar ao conhecimento.