A relação entre desenvolvimento nacional e educação: a perspectiva de estudiosas da organização do trabalho pedagógico e da avaliação educacional

Rose Meire da Silva e Oliveira

Benigna Maria de Freitas Villas Boas

Na revista Nexo, de 05/01/2021, João Marcelo Borges, economista, publica o artigo A relação entre desenvolvimento nacional e educação. A chamada para a leitura é a seguinte: “Para além de respostas emergenciais, é preciso construir um plano estrutural para lidar com os efeitos da pandemia na aprendizagem dos estudantes.”

De forma provocativa, o autor afirma que, “embora as componentes programáticas desse plano estrutural possam diferir entre os sistemas de ensino, há um imperativo comum a todos, que pode ser resumido em uma palavra: produtividade. Este termo, usualmente rejeitado por educadores e militantes educacionais, deve ser o norte das ações de todos os agentes realmente preocupados com o presente e o futuro dos estudantes. No caso do Brasil, precisamos urgentemente aumentar a produtividade de cada turma, de cada escola, de cada rede de ensino e, por conseguinte, de todo o sistema educativo nacional. E devemos fazer isso perseguindo equidade ao mesmo tempo, até porque trará ganhos de produtividade ainda mais rápidos.” Como se percebe, para ele a produtividade antecede o interesse pelas aprendizagens de todos os estudantes. Será que ela tem o poder de “lidar com os efeitos da pandemia na aprendizagem dos estudantes”? Não estará o autor confundindo produtividade com a conquista de aprendizagens pelos estudantes?

O autor entende que produtividade não deveria ser um palavrão. Por que seria? Quem propaga esse entendimento? Tudo depende do seu significado e intenções. Ele a considera uma solução para os males que afligem a educação brasileira, em virtude dos desafios enfrentados pela pandemia. E alega: “sem um aumento da produtividade de nossa educação, não alcançaremos resultados melhores para alunos, profissionais da educação ou para o país”, porque “há um ano quase inteiro a recuperar”, devido ao fato de as escolas não terem trabalhado presencialmente ao longo de 2020. Em primeiro lugar, o que é produtividade? São os números que expressam o quantitativo de estudantes matriculados, frequentes, aprovados, reprovados, evadidos? Em segundo lugar, “não há um ano inteiro a recuperar”, porque não se recupera o que não houve. Este é um grande equívoco. Quando as escolas reabrirem, as atividades previstas e não realizadas em 2020 serão retomadas, de modo que não haja prejuízo para os estudantes. Por isso, não cabe pensar em “recuperação” de ano escolar. Não faz sentido. Nós, profissionais da linha de frente da educação, defendemos que todos os estudantes desenvolvam as aprendizagens previstas para 2020, com qualidade. Grande contribuição darão a avaliação diagnóstica e a formativa, comprometidas com a conquista das aprendizagens.

A visão mercadológica da educação e do trabalho da escola, em particular, é embaçada porque não enxerga todas as possibilidades de aprendizagens oferecidas pelo ambiente escolar, mesmo em tempos adversos. Números não conseguem traduzi-las. No presente momento, em que vivemos as incertezas da pandemia e da reabertura das escolas, não é o caso de a produtividade ter destaque. Pensemos em construir a escola que receberá estudantes, pais/responsáveis, professores e outros profissionais que nela atuam para que, juntos, deem sentido à educação democrática.

Link para a matéria publicada:

https://www.nexojornal.com.br/colunistas/2021/A-relaçao-entre-desenvolvimento-nacional-e-educação

 

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