Helder Gomes Rodrigues
Comumente vemos em nossas escolas a prática do aluno ou da turma destaque. Geralmente essa visibilidade dada ao estudante leva em consideração principalmente o resultado de provas e testes. Para esses alunos, tratamento especial.
O que resulta incoerente é que grande parte das escolas afirma, em seus documentos e discursos, valer-se da avaliação formativa em suas concepções e práticas. Nesse sentido, a incompatibilidade está no fato de que a avaliação formativa não se coaduna com essa visão meritocrática e excludente em que uns merecem destaque e outros não.
Pelo contrário, a avaliação formativa busca a inclusão de todos, uma vez que seu objetivo é que todos aprendam. Essa avaliação não almeja práticas de comparação entre os estudantes. Se houver comparação, será sempre entre o estudante e ele mesmo em seu processo de aprendizagem.
É preciso que a comunidade escolar reflita constantemente sobre as práticas avaliativas e se questione, por exemplo, quais benefícios para a aprendizagem a prática do aluno destaque está trazendo ou se apenas gera na escola um ambiente de competição, reforça a cultura avaliativa centrada na nota e nos resultados e fomenta o individualismo. É importante lembrar que quando a escola busca uma organização que incentive a colaboração e a cooperação por parte dos estudantes aumentam as chances de aprendizagem para todos.
Em relação às notas, é importante salientar que o número não é capaz de qualificar o processo de aprendizagem (Luckesi, 2014). Sendo possível que dois estudantes com a mesma nota apresentem desempenhos diferentes em suas produções e saberes. Nessa lógica, apoiar-se na nota para eleger o aluno destaque pode ser uma ação injusta e perversa. É na verdade a revelação de uma face da avaliação mais preocupada com questões menores e sem significado efetivo para o sucesso das aprendizagens.
Se a escola objetiva de fato uma avaliação formativa, um grande passo é colocar em destaque as iniciativas e ações que contribuem para o sucesso das aprendizagens. A escola pode divulgar, refletir e debater sobre os projetos, as atividades que melhoraram o acolhimento dos estudantes e suas aprendizagens, bem como as formas que aprimoraram o feedback e os impactos dele na aprendizagem, quais estratégias a escola tem usado para a prática da autoavaliação. São recursos que a escola pode lançar mão e claramente colocam a aprendizagem no centro e a classificação na periferia.
Referência
LUCKESI, Cipriano Carlos. Sobre notas escolares: distorções e possibilidade. SP: Cortez, 2014.