As charters e a internacionalização do controle da educação
Publicado em 16/07/2016 por Luiz Carlos de Freitas no blog do Freitas
Há algum tempo publicamos um post no qual mencionávamos o envolvimento de um clérigo da Turquia (Fethullah Gulen) com o desenvolvimento de uma cadeia de escolas charters nos Estados Unidos e em outros países. Nos Estados Unidos ela atende a 66 mil alunos. Mostrávamos o risco de colocar a educação básica nas mãos da iniciativa privada que é cada vez mais globalizada nos tempos atuais.
Hoje Diane Ravitch relata que o New York Times (16-7-16) traz reportagem na qual o atual presidente da Turquia pede a extradição deste clérigo (Fethullah Gulen) acusando-o de estar ajudando a tramar o fracassado golpe na Turquia. Ele vive exilado na Pensilvania. Segundo o NYT:
“Na manhã de sábado, Erdogan disse, referindo-se ao Sr. Gulen, “Eu tenho uma mensagem para Pensilvânia: Você se envolveu em traição suficiente contra esta nação. Se você é corajoso, volte para o seu país.” Em um comunicado divulgado no site do seu grupo, Aliança para Valores Compartilhados, o Sr. Gulen condenou o golpe e apoiou o processo democrático do país.”
Em post anterior dizíamos:
“Já falamos muito neste blog sobre a duvidosa eficácia das escolas charters. Os estudos, em seu conjunto, não apontam vantagem das escolas charters sobre as escolas públicas de gestão pública. Mas há um outro aspecto que talvez seja até mais relevante: trata-se dos riscos de “desnacionalizar” suas escolas no médio prazo, colocando-as nas mãos de grupos econômicos que operam escolas charters e que estão radicados até mesmo fora do nosso país.
A democracia exige escolas públicas de gestão pública. Só este tipo de escola pública pode ter uma amplitude democrática que inclua a todos. A escola pública é responsável pela execução de um projeto de democracia e sem ela, terceirizada, a escola pública de gestão privada não terá a necessária abrangência inclusiva e a necessária isenção para permitir a pluralidade de ideias. Entregar a escola pública à administração de uma parte da sociedade, seja na forma de organizações sociais sem fins lucrativos ou aos empresários nacionais e/ou estrangeiros, é reduzir o alcance democrático da escola pública, além de expô-la ao controle de grupos confessionais ou empresas estrangeiras em operação pelo mundo na área educacional.
Caso emblemático é um movimento religioso da Turquia que controla mais de 200 escolas charters em território americano, o grupo Gulen. O jornal USA Today afirma que:
“O movimento fundou Centenas de escolas charter em todo os Estados Unidos e ao redor do mundo, ele tem a sua própria organização de mídia, e esteve profundamente enraizado com o regime turco até ser posto para fora há dois anos. Isso levou o presidente Recep Tayyip Erdogan a declarar que Gülen estava montando “um estado paralelo” no interior do país com a intenção de prejudicar o governo. Antes das eleições turcas, neste fim de semana, a polícia invadiu os escritórios das organizações de mídia da Gülen. ”
A reportagem ainda relata a existência de relações duvidosas do grupo com os congressistas americanos, foco da matéria, tendo o grupo financiado mais de 200 viagens para congressistas:
“Divulgações do Congresso mostram que as viagens apoiadas pela Gulen totalizaram mais de US$ 800.000 em viagens gratuitas para os legisladores e funcionários. Esse número provavelmente subestima os custos já que muitas das despesas no país não eram reportadas.”
Veja reportagem completa aqui.
Quando se trata de educação é sempre necessário se perguntar quais interesses e quem será favorecido.