AVALIAÇÃO, CURRÍCULO, ENSINO MÉDIO E MUNDO DO TRABALHO
Por: Erisevelton Silva Lima – Doutor em Educação pela Universidade de Brasília – UnB
Para além da controversa e apaixonada discussão sobre o papel do ensino médio reduzir-se ao preparo ou não para os vestibulares, é possível apontar, em meio aos debates, uma questão mais prática e urgente, sinalizada pelos próprios estudantes do terceiro ano da última etapa da educação básica. Em diálogo com alguns deles, jovens de uma região periférica do Distrito Federal, o teor da conversa é iniciado pela preocupação com os exames seletivos para o ingresso à educação superior que, especialmente, no caso de Brasília e DF, possuem uma única universidade pública federal. Contudo, a conversa se modifica quando os estudantes começam a apontar outra preocupação estrutural e objetiva: trabalhar e manter-se, mesmo que não adentrem a Universidade. Em meio à modificação ocorrida desde 1996 por meio da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,são latentes e reincidentes queixas como “Queria um ensino médio que me ajudasse a ter alguma profissão”, ou ainda, “Se eu passar no vestibular não tenho como me manter na faculdade, mesmo que seja pública ou que eu possua o PROUNI”. Os jovens estudantes do ensino médio, percebem, nas próprias condições diárias de sobrevivência que não existe educação gratuita, mesmo que ela aconteça na escola pública.
Em meio a esse cenário insistimos quanto à reflexão sobre qual deva ser o sentido da avaliação e suas práticas nessa etapa. A escola, ao focar-se nos tais exames, simulados ou estratégias que visam “preparar” para provas, desconfiguram o currículo, a avaliação e a organização do trabalho pedagógico em razão de uma lógica imediatista e inócua. Na condição de docente nessas turmas, percebi que atividades simples como preencher um formulário para emprego, elaborar um currículo vitae, preparar-se para uma entrevista ou outras questões que são atinentes ao mundo do trabalho não são fáceis ou são desconhecidas para, quase totalidade, desses estudantes. A escola continua preparando para fazer provas, a exemplo disso cito o fato de que eles sabem as partes de um bilhete ou carta, as etapas que são imprescindíveis a esse tipo de comunicação, porém, são incapazes de fazer uso social, letramento, dessas aprendizagens, afinal elas foram trabalhadas na perspectiva de aprender para a prova.
As escolas de ensino médio, no plural, merecem a oportunidade de ressignificar suas práticas por meio de programas como o Ensino Médio Integrado e, com isso, oportunizar conforme seu público-alvo formação média articulada com a educação profissional, obviamente na perspectiva de um currículo pautado na educação integral.
A avaliação, o currículo e o planejamento se retroalimentam das intencionalidades contidas nesses documentos e nos movimentos que eles conseguem realizar. Entre o escrito, o dito e o feito, nesse processo, sobressaem as contradições da escola, dos que nela habitam e, sobretudo, da forma como concebem aprender e ensinar gerando assim suas concepções e práticas avaliativas. Os estudantes precisam contar com uma avaliação mediadora, encorajadora e potencializadora das suas inúmeras capacidades e talentos. Usá-la, tão somente, para classificar, punir e excluir continua revelando o retrocesso “naturalizado” a que muitas unidades educacionais parecem apegar-se sobejamente.
Há na fala desses estudante um grito abafado e silenciado das reais necessidades que os afetam. Parabenizo a publicação desse artigo que revela de modo pontual e sensível a maneira perversa do cultivo de uma lógica de exames, provas, testes, simulados entre tantos outros, que tem a cada dia tomada o lugar do desenvolvimento de um currículo para as aprendizagens, gerando uma atrofia desse currículo e consequentemente atrofiando as aprendizagens, deixando nossos estudantes vitimados para o ingresso no mundo do trabalho.
Obrigado Aldriana pelo retorno, sim os estudantes estão dizendo algo, e não é de hoje. Otimo dia, prof Eri
Senti-me muito contemplada com a reflexão do professor! Apesar de trabalhar numa instituição que oferece ensino médio integrado à qualificação profissional, percebo a mesma preocupação com os exames das universidades e, às vezes, me parece que temos duas instituições: um cursinho pré-vestibular é um curso técnico.