AVALIAÇÃO E MILITARISMO ESCOLAR: caminho para a passividade, o conformismo e a subserviência

AVALIAÇÃO E MILITARISMO ESCOLAR:

caminho para a passividade, o conformismo e a subserviência

Enílvia Rocha Morato Soares

            O noticiário de hoje, dia 11/02/2019, esteve repleto de notícias que tratam do novo modelo “cívico-militar” adotado para as escolas públicas do DF, ou seja, da militarização dessas instituições. Trata-se de um projeto que prevê a participação da Secretaria de Segurança Pública, por intermédio da PMDF, na gestão administrativa e disciplinar de quatro unidades públicas de ensino. Esses profissionais se encarregarão das atividades burocráticas e de segurança, tais como controle de entrada e saída, horários, filas, além de ministrarem aulas de musicalização, ética e cidadania no contraturno.

Dentre as diferentes abordagens jornalísticas sobre o assunto divulgadas ao longo do dia, uma me chamou muito atenção. Foi informado pela repórter que os pais dos estudantes serão contatados sempre que estes deixarem de cumprir obrigações como realizar o dever de casa, chegar atrasado ou faltar à aula ou não apresentar o rendimento esperado. Foi ainda dito: “Os pais que não concordarem com as regras ou não tomarem providências para ajudar os filhos serão orientados a mudar o(a) filho(a) de escola”.

Dentre as diferentes reflexões que nos suscita tal realidade, cabe aqui questionar: Que concepções de escolarização norteiam ou nortearão o projeto pedagógico desenvolvido nessas escolas: seria um processo educativo-formativo ou de adaptação ao que está posto? Inclusivo ou limitado apenas aos que se adequam ao estabelecido?

De acordo com o que foi noticiado referente à relação que a escola pretende manter com pais e ao que será cobrado dos estudantes (fila indiana, mãos para trás, tratamento de “senhor” e “senhora” com os professores, uso de brincos, pulseiras e outros adereços reservado somente às meninas, cabelo curto para meninos e coque para meninas, hasteamento diário da bandeira nacional, entre outros) o ensino nessa escola estará, certamente, muito mais voltado à subserviência do que à criticidade. A leitura da realidade e o posicionamento questionador frente a ela não parece ser o mais relevante nesse projeto de escola.

O controle disciplinar passivo dos estudantes e de seus pais deve, ainda segundo a reportagem, ser conseguida por meio de ameaças. No caso dos pais, essa ameaça consiste na própria exclusão do(a) filho(a) da escola. Que solução é essa que se pauta pela eliminação de estudantes, sendo eles a justificativa de existência da escola? A qualidade do trabalho dessa escola estaria sendo abstraída a partir das atividades educativas que realiza ou das medidas que, assim, eliminam e ou transferem seus problemas?

Chama atenção o fato como a avaliação perpassa todas essas práticas. Visando moldar comportamentos por meio do melhoramento da disciplina escolar, avalia-se o estudante pela sua aparência, pelo seu modo de vestir e de se comportar. Avalia-se os pais pela sua atuação junto aos(às) filhos(as) no cumprimento daquilo que se acredita ser sua obrigação. Normal. Avaliar faz parte de nossas práticas diárias. Não seria diferente no âmbito da escola.

O que estarrece, no entanto, são as ações decorrentes dessas avaliações. A opção é pela classificação e exclusão. Classifica-se como negligentes pais que não atendem às normas escolares das quais eles sequer participaram, desconsiderando as diferentes condições de vida que podem conduzir a tal comportamento. Classifica-se como inadequados estudantes que porventura se diferenciam por seu modo diferente de ser, desprezando as diversidades que certamente incidem sobre aquela realidade como sobre qualquer outra. O passo subsequente é a exclusão daqueles que se furtam ao cumprimento das normas pré e unilateralmente determinadas, a fim de manter incólume o ambiente que se pretende ser exemplo de civilidade e respeito.

O divulgado pela imprensa é que os militares se encarregarão da parte administrativa e disciplinar. O que não se divulga, no entanto, é que essa “parte” é ensinada aos estudantes tanto quanto os conteúdos curriculares, influenciando, inclusive, o modo como estes são aprendidos. O acesso ao conhecimento crítico requer liberdade para que posicionamentos e atitudes possam passar por reflexões, questionamentos e debates. Uma educação que se pretende verdadeiramente formativa implica, necessariamente, diálogo, respeito mútuo e compartilhamento de responsabilidades. A avaliação formativa é parte indissociável desse processo por permitir a professores e estudantes perceberem-se parte desse processo com poder de influir no modo como pode e deve ser conduzido.

 

 

 

 

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