AVALIAÇÃO EM DEBATE IV
Provinha Brasil: singularidades e similaridades
Enílvia Rocha Morato Soares
O destaque dado aos exames externos nas últimas décadas, tomando-os como a panaceia capaz de promover a qualidade da educação, demonstrou ser positivo ao trazer à tona questões que despertam forte interesse por reflexões e debates sobre o assunto. Com o propósito de abrir espaços de discussão em torno da temática, o GEPA realizou, uma semana após o Avaliação em Debate III, o 4º encontro da série.
O Avaliação em Debate IV aconteceu no dia 03 de setembro, das 8h30 às 11h30, na sala Papirus da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília e contou com a especial participação da Profa. Dra. Elisângela Teixeira Gomes Dias, que nos presenteou com a apresentação de sua pesquisa realizada recentemente no curso de Doutoramento intitulada “Provinha Brasil e Regulação: Implicações para a Organização do Trabalho Pedagógico”.
O trabalho investigativo trouxe contribuições que transitam desde a forma como são pensados e organizados os testes em larga escala, neste caso, a Provinha Brasil, até os impactos por eles causados na organização do trabalho pedagógico realizado pelos professores em sala de aula e por toda a escola. Entre os achados da pesquisa podem ser destacados:
– Contradições entre o dito e o praticado. Enquanto o discurso oficial propõe o uso, pelos professores, dos dados gerados a partir da aplicação da Provinha Brasil para o redirecionamento do trabalho pedagógico visando o seu melhoramento, o que se percebe, na prática, são incompreensões que geram pressões por resultados em detrimento do processo.
– Distorções no uso dos resultados da Provinha Brasil assemelhando-o ao tratamento dado, pela mídia e pelos próprios gestores da educação, às médias obtidas pelos estudantes nos demais exames externos, quando são classificados e comparados os resultados. Dessa forma, a Provinha Brasil passa a ser percebida como um instrumento a mais de regulação, com interpretações calcadas em conceitos de qualidade advindos do campo empresarial que adotam o discurso do mérito pelo esforço individual para explicar sucessos e insucessos.
– Possíveis contribuições da Provinha Brasil para a organização do trabalho pedagógico se mostram obstaculizadas diante de um contexto que inclui a inexistência de um projeto político-pedagógico construído e avaliado coletivamente em um processo marcado pela negociação entre todos os envolvidos, bem como de um currículo forte, coerente e explicito, balizador do trabalho realizado.
– Desafios a serem superados:
- Descontinuidade das políticas públicas
- Dificuldade de apropriação do currículo prescrito
- Altos índices de reprovação
- Práticas de Avaliação do trabalho pedagógico ainda incipientes.
– Considerações:
- A Provinha Brasil pode ser indutora do currículo.
- Os resultados gerados pela Provinha Brasil não têm sido interpretados, especialmente pelos gestores.
- Mais importante que a aplicação de testes é saber se as crianças estão, de fato, sendo alfabetizadas.
Os conhecimentos socializados no encontro instigaram o debate dos mais de 40 convidados, que participaram com entusiasmo das discussões seguintes à fala da palestrante. Vale destacar a presença de um número significativo de estudantes do curso de Pedagogia que puderam, desde já, valer-se de saberes que certamente contribuirão para a construção de práticas avaliativas guiadas pelo propósito de promover continuamente as aprendizagens de todos. Esteve presente uma professora da Universidade Estadual da Bahia, campus de Barreiras, que de lá se deslocou somente para participar do evento.
“Que venham outros!!!” Esse foi o desejo expresso por um dos participantes, registrado no formulário de avaliação evento. Tendo em vista a grande aceitação por esse tipo de socialização de pesquisas realizado pelo GEPA, a intenção é que continuemos a promover encontros dessa natureza. Com compromisso e determinação, nosso grupo de pesquisa se desdobra para ver a avaliação formativa ser uma realidade no âmbito de nossas escolas.
