Avaliação, escola e ensino remoto

Erisevelton Silva Lima

          A Pandemia causada pela Covid-19 marcou, de forma indelével, pessoas, organizações e países inteiros em razão dos efeitos devastadores causados pela necessidade do isolamento social. A escola, não por acaso, ainda sofre os impactos desse momento diante da necessidade da interação social que demarca a condição para existência do ato educativo. Sendo assim, a avaliação e todos os sentidos que a cercam foram colocados em dúvida por causa dos desafios que rodeiam a ideia de ensino remoto, mesmo que de forma emergencial.   As antigas perguntas como: o que avaliar, como avaliar e para que avaliar ressurgem com uma roupagem de desconfiança ainda maior que nos tempos ditos normais. Nossa recomendação é que entendamos que o momento exige acolhida, calma e tentativas de contato constantes para que não percamos os vínculos, minimamente, a fim de garantirmos alguma referência e ou nível de interação. O mundo não tem respostas. Crianças, familiares e profissionais estão impactados e assombrados com os rumos cada vez mais incertos das instituições e dos organismos nacionais e internacionais. Além disso, o desemprego, a fome e a morte avizinham-se de todos nós. Não esqueçamos o sentido que a escola sempre impingiu: educar para o futuro. E, neste caso, ele se tornou duvidoso.

          No afã de garantir a dita normalidade, algumas escolas estão esquecendo de explorar o momento, os conteúdos atitudinais e procedimentais que dizem respeito a todos nós. Eles precisam ser explorados, seja por meio da química, física, biologia, matemáticas e de tantas outras áreas que permitem tornar o momento pandêmico objeto de estudo para cada uma delas.

          O currículo acontece quando o estudante empresta a sua vida para o que está aprendendo, diz Tomaz Tadeu da Silva. Não podemos fugir do tema e do assunto que mais nos tem preocupado e despertado interesse, ou seja, a pandemia.

A centralidade da avaliação permanece, a necessidade de avaliar também, a questão talvez resida na compreensão de que noutra forma de ensinar e aprender devamos refazer ou reinventar a forma de avaliar. Se já tínhamos dúvidas e inseguranças quanto ao tema da avaliação, agora não é diferente, todavia, o terreno para a prática da avaliação formativa nunca foi tão fértil e desejado. Cumpre lembrar que a avaliação formativa é a avaliação que se coloca antes, durante e depois do processo de ensino e aprendizagem. Ela encoraja, discute e auxilia os sujeitos da avaliação a desenvolverem sua autonomia e participarem do trajeto formativo. A necessidade de interação não é negada, mas, neste contexto, deve ser alvo de maior sensibilidade e bom senso a fim de que não prejudiquemos quem já está com sérios prejuízos, inclusive existenciais.

As escolas e os docentes estão inseguros e desconfiados, no que tange ao ato de avaliar. Nos relatos abaixo, colhidos nas inúmeras lives realizadas sobre o tema avaliação, percebemos muitas dessas questões:

  1. Sinceramente, não sei o que fazer, ao receber as tarefas percebo que não foi meu aluno que fez, me sinto mal com isso; vou avaliar sabendo que não foi ele que fez? (Professora dos anos iniciais)
  2. A mãe disse que desiste, não quer ajudar mais a criança, eu até entendo, ela não é professora, mas o que eu posso fazer da minha casa para ajudar uma família dessas? Sem a produção de algo eu vou ter que reprovar essa aluna. (Professor dos anos finais)
  3. Estou preocupado, nem dez alunos estão na plataforma, peço para que abram as câmeras para vê-los, para avaliar a participação ao menos, nem isso tenho conseguido. (Professor do Ensino Médio)

O relato (a) se traduz pelo sentimento de insegurança pelo qual a docente afirma, a partir de evidências da sua experiência, que outrem realiza as tarefas pela criança. Temos recomendado para esses casos que seja feito um contato com a família e com o estudante para viabilizar um contrato didático pautado na ética. No ensino remoto outras formas de avaliar são possíveis. Talvez em situações análogas possa se tentar um contato via chamada de vídeo, ou marcar um momento com a criança ao telefone para que o docente obtenha informações e possa dar orientações. De qualquer forma, estamos imersos em situações várias, cujas aprendizagens são novas para todos nós.

          No relato (b), deparamo-nos com essa situação inusitada, todavia, real; muitos pais ficaram desempregados, muitas famílias perderam suas fontes de renda, sem esquecer a quantidade de pessoas que não possui a escolaridade necessária para compreender ou apoiar esses estudantes. Nem sempre recorrer aos órgãos de proteção da criança resolve; a desolação e a falta de perspectivas tomaram conta de muitos e a escola tenta, em meio a tudo isso, inaugurar uma “nova normalidade” sem muito êxito, até então. Quanto ao último caso, as hipóteses são inúmeras, muitos sabem que, ao abrir as câmeras, os pacotes de dados se esvaem com mais pressa, os adolescentes e jovens do ensino médio se valem de outras saídas como aulas no Youtube e outras que os auxiliam com vistas aos vestibulares. Estes estudantes, da última etapa da educação básica, não são adultos, grande maioria, e também estão expostos a tudo que foi dito aos demais quanto à análise do primeiro relato. Sabemos que, por serem mais maduros e mais autônomos, facilitam muitas vezes as interações necessárias com seus mestres e mestras, mas, não quer dizer que tem sido fácil: a escola está em meio a uma tormenta sem igual.

          Enquanto a escola procura saídas, especialmente quanto à forma de ensinar e avaliar, sugerimos a procura de respostas nas evidências de aprendizagens que chegam pelas plataformas, telefonemas e aplicativos. Em um primeiro momento, recorreu-se ao que seria fatalmente equivocado, ou seja, tentar avaliar como antes, quando na verdade nada está sendo parecido com a forma como vivíamos. A avaliação, em tempos de pandemia, requer, ainda mais, que reforcemos os princípios de uma avaliação para as aprendizagens ancorados no diálogo e no pacto da ética que envolva famílias, estudantes e quem mais fizer parte do processo. Muitas escolas optaram por usar telefone, WhatsApp, Telegram,  facebook, instagram, tarefas impressas e e-mail. Todas essas formas são válidas, afinal, na impossibilidade de encontros com os estudantes, procuramos nos apoiar naquilo que ele produz, mesmo que esteja abaixo do esperado, é um momento que nos exige calma e bom senso.

          A autoavaliação, bem esclarecida e negociada, pode ser uma forte aliada nos processos avaliativos neste momento tão peculiar. Embora no ensino presencial ela não seja tão comum, eis uma oportunidade para que seja indutora da avaliação formativa, o que auxiliará no desenvolvimento da autonomia das crianças, jovens e adultos.

AVALIAÇÃO, ESCOLA E ENSINO REMOTO

Erisevelton Silva Lima

          A Pandemia causada pela Covid-19 marcou, de forma indelével, pessoas, organizações e países inteiros em razão dos efeitos devastadores causados pela necessidade do isolamento social. A escola, não por acaso, ainda sofre os impactos desse momento diante da necessidade da interação social que demarca a condição para existência do ato educativo. Sendo assim, a avaliação e todos os sentidos que a cercam foram colocados em dúvida por causa dos desafios que rodeiam a ideia de ensino remoto, mesmo que de forma emergencial.   As antigas perguntas como: o que avaliar, como avaliar e para que avaliar ressurgem com uma roupagem de desconfiança ainda maior que nos tempos ditos normais. Nossa recomendação é que entendamos que o momento exige acolhida, calma e tentativas de contato constantes para que não percamos os vínculos, minimamente, a fim de garantirmos alguma referência e ou nível de interação. O mundo não tem respostas. Crianças, familiares e profissionais estão impactados e assombrados com os rumos cada vez mais incertos das instituições e dos organismos nacionais e internacionais. Além disso, o desemprego, a fome e a morte avizinham-se de todos nós. Não esqueçamos o sentido que a escola sempre impingiu: educar para o futuro. E, neste caso, ele se tornou duvidoso.

          No afã de garantir a dita normalidade, algumas escolas estão esquecendo de explorar o momento, os conteúdos atitudinais e procedimentais que dizem respeito a todos nós. Eles precisam ser explorados, seja por meio da química, física, biologia, matemáticas e de tantas outras áreas que permitem tornar o momento pandêmico objeto de estudo para cada uma delas.

          O currículo acontece quando o estudante empresta a sua vida para o que está aprendendo, diz Tomaz Tadeu da Silva. Não podemos fugir do tema e do assunto que mais nos tem preocupado e despertado interesse, ou seja, a pandemia.

A centralidade da avaliação permanece, a necessidade de avaliar também, a questão talvez resida na compreensão de que noutra forma de ensinar e aprender devamos refazer ou reinventar a forma de avaliar. Se já tínhamos dúvidas e inseguranças quanto ao tema da avaliação, agora não é diferente, todavia, o terreno para a prática da avaliação formativa nunca foi tão fértil e desejado. Cumpre lembrar que a avaliação formativa é a avaliação que se coloca antes, durante e depois do processo de ensino e aprendizagem. Ela encoraja, discute e auxilia os sujeitos da avaliação a desenvolverem sua autonomia e participarem do trajeto formativo. A necessidade de interação não é negada, mas, neste contexto, deve ser alvo de maior sensibilidade e bom senso a fim de que não prejudiquemos quem já está com sérios prejuízos, inclusive existenciais.

As escolas e os docentes estão inseguros e desconfiados, no que tange ao ato de avaliar. Nos relatos abaixo, colhidos nas inúmeras lives realizadas sobre o tema avaliação, percebemos muitas dessas questões:

  1. Sinceramente, não sei o que fazer, ao receber as tarefas percebo que não foi meu aluno que fez, me sinto mal com isso; vou avaliar sabendo que não foi ele que fez? (Professora dos anos iniciais)
  2. A mãe disse que desiste, não quer ajudar mais a criança, eu até entendo, ela não é professora, mas o que eu posso fazer da minha casa para ajudar uma família dessas? Sem a produção de algo eu vou ter que reprovar essa aluna. (Professor dos anos finais)
  3. Estou preocupado, nem dez alunos estão na plataforma, peço para que abram as câmeras para vê-los, para avaliar a participação ao menos, nem isso tenho conseguido. (Professor do Ensino Médio)

O relato (a) se traduz pelo sentimento de insegurança pelo qual a docente afirma, a partir de evidências da sua experiência, que outrem realiza as tarefas pela criança. Temos recomendado para esses casos que seja feito um contato com a família e com o estudante para viabilizar um contrato didático pautado na ética. No ensino remoto outras formas de avaliar são possíveis. Talvez em situações análogas possa se tentar um contato via chamada de vídeo, ou marcar um momento com a criança ao telefone para que o docente obtenha informações e possa dar orientações. De qualquer forma, estamos imersos em situações várias, cujas aprendizagens são novas para todos nós.

          No relato (b), deparamo-nos com essa situação inusitada, todavia, real; muitos pais ficaram desempregados, muitas famílias perderam suas fontes de renda, sem esquecer a quantidade de pessoas que não possui a escolaridade necessária para compreender ou apoiar esses estudantes. Nem sempre recorrer aos órgãos de proteção da criança resolve; a desolação e a falta de perspectivas tomaram conta de muitos e a escola tenta, em meio a tudo isso, inaugurar uma “nova normalidade” sem muito êxito, até então. Quanto ao último caso, as hipóteses são inúmeras, muitos sabem que, ao abrir as câmeras, os pacotes de dados se esvaem com mais pressa, os adolescentes e jovens do ensino médio se valem de outras saídas como aulas no Youtube e outras que os auxiliam com vistas aos vestibulares. Estes estudantes, da última etapa da educação básica, não são adultos, grande maioria, e também estão expostos a tudo que foi dito aos demais quanto à análise do primeiro relato. Sabemos que, por serem mais maduros e mais autônomos, facilitam muitas vezes as interações necessárias com seus mestres e mestras, mas, não quer dizer que tem sido fácil: a escola está em meio a uma tormenta sem igual.

          Enquanto a escola procura saídas, especialmente quanto à forma de ensinar e avaliar, sugerimos a procura de respostas nas evidências de aprendizagens que chegam pelas plataformas, telefonemas e aplicativos. Em um primeiro momento, recorreu-se ao que seria fatalmente equivocado, ou seja, tentar avaliar como antes, quando na verdade nada está sendo parecido com a forma como vivíamos. A avaliação, em tempos de pandemia, requer, ainda mais, que reforcemos os princípios de uma avaliação para as aprendizagens ancorados no diálogo e no pacto da ética que envolva famílias, estudantes e quem mais fizer parte do processo. Muitas escolas optaram por usar telefone, WhatsApp, Telegram,  facebook, instagram, tarefas impressas e e-mail. Todas essas formas são válidas, afinal, na impossibilidade de encontros com os estudantes, procuramos nos apoiar naquilo que ele produz, mesmo que esteja abaixo do esperado, é um momento que nos exige calma e bom senso.

          A autoavaliação, bem esclarecida e negociada, pode ser uma forte aliada nos processos avaliativos neste momento tão peculiar. Embora no ensino presencial ela não seja tão comum, eis uma oportunidade para que seja indutora da avaliação formativa, o que auxiliará no desenvolvimento da autonomia das crianças, jovens e adultos.

 

Uma resposta para “Avaliação, escola e ensino remoto”

  1. Gostaria de saber mais sobre o tema. Percebo que na escola em que atuo há discrepâncias enormes.entre o que – e como – se faz e o que se recebe de feedback.
    Estou propondo uma análise do períodod e educaçfo remota na escola para tentar reverter isto, portanto embasamento teorico é fundamental.
    Aguardo.
    Atenciosamente,
    Debora

     

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