Benigna Maria de Freitas Villas Boas
Dificuldades enfrentadas por professores para avaliar são informações que costumo solicitar, por escrito, a docentes da rede pública de ensino do Distrito Federal – DF – quando nos encontramos. São ocasiões propícias à obtenção de suas percepções porque eles se encontram, naquele momento, em situação de reflexão sobre sua prática e suas necessidades. Uma das dificuldades que vem sendo apontada cada vez com mais frequência é revelada nos seguintes depoimentos: “exigência da avaliação seletiva dos alunos (vestibulares, concursos etc.)”; “na escola pede-se que se faça a avaliação formativa, porém, temos que preparar os alunos para enfrentar avaliações quantitativas nos vestibulares, concursos públicos e seleção em empresas. Além da cobrança da direção da escola por resultados”; “a sociedade é capitalista, se o aluno não for cobrado por essa lógica, não estará sendo prejudicado? Pois não conseguirá competir e acabará à margem, em sub-empregos”.
A avaliação praticada nas escolas tem sido confundida com competição e com as provas de vestibular e de concursos. No caso da competição, cabe destacar que a escola cumpre o papel democrático de contribuir para a conquista de aprendizagens por parte de todos os alunos. A palavra-chave do trabalho escolar é aprendizagem e não, competição. Por esse motivo não lhe cabe ter alunos-destaque, classificar os alunos de nenhuma forma nem promover premiações. Já os exames vestibulares e os concursos são seletivos e classificatórios. Alguém já observou uma universidade convocar os reprovados em seu vestibular para lhes “ensinar” o que demonstraram não ter aprendido? E nos processos seletivos de concursos? Isso não acontece porque são situações de provas, de seleção e classificação e não de processo avaliativo. Este é desenvolvido por instituições educacionais. Essa é a diferença entre a avaliação realizada nas escolas, incluídas as de educação superior, e as provas de vestibular e concursos que, por sua natureza, não se constituem avaliação. No livro Avaliação educacional: caminhando pela contramão, da editora Vozes, Freitas et al (2009, p. 48) nos ensinam que avaliar não é medir, uma vez que medir apenas propicia um dado. “Avaliar é pensar sobre o dado, com vistas ao futuro”, complementam os autores. Enquanto as provas de vestibular medem, a avaliação praticada nas escolas analisa o que o aluno aprendeu e o que AINDA não aprendeu para que se organizem as intervenções necessárias.
Em um depoimento em forma de desabafo, um/a professor/a afirma: “Avaliação tem que excluir mesmo!!! A UnB exclui, concurso exclui. O mundo exclui! Estamos treinando o aluno para o mundo”. Este entendimento parece revelar que quem assim pensa não foi devidamente formado para ser professor e para avaliar. Cabe à escola “treinar” o aluno para o mundo? Seu papel se resume a isso?
Você que acompanha nossas reflexões o que pensa sobre esse tema?