Benigna Maria de Freitas Villas Boas – 21/10/2013
O livro “O poder dos quietos”, de Susan Cain, Editora Agir, 2012, traz importantes reflexões sobre o relacionamento escolar com crianças introvertidas. O título do último capítulo é bem sugestivo: Como educar crianças quietas em um mundo que não quer ouvi-las. Eu acrescento: como avaliar o desempenho dessas crianças se a maioria das atividades escolares é planejada para as extrovertidas?
A introversão não é algo a ser curado, afirma a autora. Crianças com esta característica precisam ser valorizadas pelo que são. Comumente encontra-se a seguinte observação em boletim escolar: “gostaria que X falasse mais em aula”. Mas a escola oferece oportunidades para que todos os estudantes se manifestem? Em quais situações? Enquanto extrovertidos gostam de movimento, estímulo e trabalho colaborativo, os introvertidos preferem palestras, tempo de descanso e projetos independentes. O professor cauteloso faz uma mistura dessas atividades para que os estudantes possam vivenciar situações que os favoreçam e que, ao mesmo tempo, lhes possibilitem desenvolver capacidades diferentes.
A autora comenta que os introvertidos “têm um ou dois grandes interesses que não são necessariamente compartilhados por seus colegas. Às vezes eles são influenciados a se sentirem estranhos por conta da força dessas paixões, quando na verdade estudos mostram que esse tipo de intensidade é um pré-requisito para o desenvolvimento de talentos”. Eles podem ser elogiados por seus interesses e encorajados a encontrar amigos que pensem de forma parecida, diz Cain.
Trabalhos colaborativos são benéficos para esses estudantes, mas devem acontecer em pequenos grupos – pares ou trios – e ser bem estruturados para que cada criança saiba seu papel, recomenda Cain. Esta é a maneira de eles se sentirem confortáveis. O professor habilidoso reconhece a necessidade de os extrovertidos aprenderem com os introvertidos.
Outra recomendação da autora se refere à não colocação de crianças quietas próximas ao que ela chama de áreas de “alta interação” em sala de aula, isto é, onde se concentram os estudantes mais extrovertidos porque os primeiros irão se sentir ameaçados e terão dificuldade em se concentrar. Igualmente importante é criar oportunidades de participação sem insistência, o que poderá ser danoso e reduzir sua autoestima.
As considerações/recomendações da autora confirmam nossa compreensão da importância da avaliação informal encorajadora na sala de aula e em toda a escola. Os estudantes não são iguais. É necessário conhecer e valorizar as características de cada um, criando na sala de aula espaço físico, situações de aprendizagem e de avaliação que respeitem o seu jeito de ser e, ao mesmo tempo, lhes possibilitem vivências variadas. Crianças quietas ou introvertidas correm o risco de serem rotuladas até mesmo por professores e de serem alvo de chacota por parte de colegas. O professor atento se antecipa a essas ocorrências e instala clima favorável à conquista das aprendizagens por parte de todos.
Professora Benigna lia o texto e vinha a minha memória a trajetória da minha filha Eloisa Victoria 16 anos, aluna quieta, sensivel e que aos quatro anos me disse: Pai não vou mais estudar, meus colegas são “barulhosos”. Professora ela está no 2o ano do ensino médio e tem encontrado seus pares, incrivel como as amigas e amigos dela, grande parte se parece com ela, ela ama desenhar, reproduz e cria Mangás e Animes, fico impressionado com a capacidade dela, claro que todo pai fica não é, mas ela foge de atividades que precisam de maior exposição, falar em público e interagir com estranhos, mas sabe seu texto me fez refletir muito, se a escola é para o BARULHOSOS como disse minha Eloisa então onde se localiza o tempo e o espaço para pessoas quietas, tranquilas e que gostam da solidão sadia? Eu como professor não abandono os ditos quietinhos eles são interessantes, mas precisei ser pai de uma menina assim para ver nos meus alunos o que a vida me presenteou em casa. Obrigado pelo texto, abço Eri
A escola é pressionada a usar procedimentos formais de avaliação e se esquece de que cada aluno é diferente do outro, não é Eri? Pesquisas têm demonstrado isso. Os desinibidos, os que fazem muitas perguntas e aqueles que se manifestam constantemente costumam tomar conta dos momentos de aprendizagem. Os professores passam a se ocupar mais deles e não percebem as capacidades dos que são mais quietos e reflexivos. Estes muitas vezes têm grandes contribuições a oferecer, mas nem sempre encontram espaço para isso. Nas nossas discussões no GEPA temos considerado que o processo avaliativo não pode deixar de considerar esses aspectos. Aliás, não devemos rotular os alunos em quietos, reflexivos, desinibidos etc. São momentos da vida pelos quais eles passam; não significa que sejam assim.
Além de tudo isso, o uso exagerado de testes em larga escala nas escolas tem desviado a atenção dos seus educadores da avaliação formativa, aquela que se ocupa das aprendizagens de cada um. Eles têm estado mais voltados para os resultados do que para a dinâmica do dia a dia do trabalho escolar.
Oi professora Benigna, sou Eloisa tenho 16 anos , li o texto e me identifiquei muito com ele. É a primeira vez que vejo um texto falando sobre os valores dos introvertidos e de que eles também merecem atenção na sala de aula e em qualquer outro lugar. Irei compartilhar o texto com meus professores e amigos.
Obrigada pelo texto, abraços Eloisa ^-^
Que bom que gostou do texto, Eloisa. Você é uma adolescente sensível. Compartilhe, sim, o texto. Há pessoas que pensam que os alunos quietos são desinteressados e até preguiçosos. Não é verdade. De modo geral, são muito reflexivos e têm grandes contribuições a oferecer.
Grande abraço,
Benigna