Erisevelton Silva Lima – Pedagogo, doutor em educação pela Universidade de Brasília-UnB
A avaliação é central e organizadora do processo educativo. Compreendê-la, para além da lógica da notação, é o primeiro passo para desenvolvermos os procedimentos necessários para a organização do trabalho pedagógico com vistas à garantia das aprendizagens por todos na escola, seja ela básica, superior e/ou profissional. Historicamente, aprendemos a associar o ato de avaliar à atribuição de notas, valores, pontuações e menções. Tais práticas remontam à ideia de que o processo avaliativo acontece ao final dos períodos ou tempos. Nossa intenção é outra. Para tanto, visitemos alguns conceitos sobre a avaliação.
Em primeiro lugar, são as seguintes as funções da avaliação:
- Diagnóstica: diz respeito ao processo para coleta de dados e informações sobre o que os estudantes sabem e o que ainda não sabem sobre determinado assunto, tema, conteúdo ou aula. Não existe atribuição de notas, compensações e ou punições para os alunos sob essa função da avaliação. Ela serve para que o docente conheça a turma, planeje ou replaneje suas aulas e ou cursos.
- Somativa: é a função mais conhecida e vivenciada por nós, ao longo de toda vida escolar. Geralmente, utiliza notas, pontos ou valores que podem classificar o estudante em aprovado, reprovado, em recuperação. Nossa crítica a essa função é que ela cria a ideia de que avaliar só acontece no final dos tempos e períodos letivos e, principalmente, o foco é desviado para a nota e não para as aprendizagens.
- Formativa: é uma utopia promissora (HADJI, 2001) e que pode dar certo quando estudantes, docentes e toda organização escolar compreendem que se trata de uma função informativa e interventiva. Não esperamos finais de períodos ou tempos para avaliar, não precisamos atribuir notas, necessariamente, mas acompanhar, sondar, avaliar, intervir e ajustar o itinerário formativo com vistas às aprendizagens de todos. Esta função requer, sobretudo, transparência, ética e formação em avaliação.
A avaliação, também, possui níveis. Oprimeiro deles e foco deste texto é o nível da aprendizagem, que acontece quase sempre na sala de aula e sob a tutela de um docente; o outro é o nível institucional, também conhecido como autoavaliação pela escola ou avaliação do trabalho pedagógico da instituição; por fim, o terceiro nível é chamado de avaliação de redes ou de larga escola, que gera índices e serve para que sejam traçadas metas e políticas públicas para melhoria dos sistemas educacionais (FREITAS et al, 2009).
Nos cursos de formação de formadores nos quais temos atuado, no Poder Judiciário, o tema avaliação também é reconhecido como algo sensível, complexo e que demanda mais estudos e compreensões. Aqui trataremos, basicamente, de como conduzir processos de avaliação nos cursos voltados para a formação de magistrados e servidores, nos quais priorizamos o desenvolvimento de competências profissionais. Não custa lembrar, quanto à tríade objetivos, metodologia e avaliação, que estes componentes são indissociáveis. Em uma aula ou em um curso completo a avaliação está inteiramente a serviço das aprendizagens de todos os participantes.
Iniciemos pela necessidade de, em uma tarefa, método ativo ou quaisquer atividades, sempre elegermos indicadores e critérios que sirvam de referência para a realização e avaliação dessas atividades. Isto posto, publicizados e acordados, o desenvolvimento educacional tende a ser menos complicado para quem ensina, aprende, avalia e é avaliado.
O desenvolvimento de atividades, tarefas e demais produções requeridas dos estudantes requer a construção de indicadores e critérios para avaliação que, bem discutidos e negociados com os cursistas, têm o seu êxito assegurado. Os indicadores podem ser compreendidos como a parte formal ou estrutural de uma produção ou peça, enquanto os critérios qualificam e enriquecem com mais detalhes a tarefa (DE KETELE, 2008).
No quadro a seguir apresentamos alguns exemplos para que o formador utilize em seu trabalho pedagógico.
ATIVIDADE/TAREFA/PRODUÇÃO | INDICADORES | CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO |
Produzir sentença Cível | Relatório, fundamentação e dispositivo | O que não pode faltar ou deve estar contido em cada um deles? |
Elaborar relatório | Introdução, desenvolvimento e conclusão | O que deve conter cada etapa do relatório? |
Visita ao sistema prisional com produção de relatórios | Saúde do preso, segurança do preso e dos funcionários, profissionalização e escolarização do preso. | O que deve ser dito, pesquisado e apontado em cada um dos indicadores listados? |
Presidir audiência cível de conciliação | Rapport, Possibilidade de conciliação, Liderança e gestão da audiência | O que deve ser dito ou realizado em cada um dos indicadores citados? |
Fonte: criação do autor
Uma vez definidos os indicadores e critérios, o formador e os cursistas possuem, agora, parâmetros e orientações para realizarem a atividade e, consequentemente, a avaliação. A atribuição de notas aos indicadores e critérios dependerá da necessidade da escola e do formador. O mais importante é perceber que a avaliação agora transcorrerá de forma ética, transparente e negociada. Desta forma, as atividades tenderão a ser bem aceitas e compreendidas.
REFERÊNCIAS
DE KETELE, Jean Marie. Caminhos para avaliação de competência. In: ALVES, Maria Palmira e MACHADO, Eusébio André. Avaliação com sentido (s): Contributos e questionamentos. De facto editora. Portugal-PT, 2008.
FREITAS, Luiz Carlos de. Avaliação educacional: caminhando pela contramão. Ed. Vozes, RJ, 2009
HADJI, Charles. Avaliação desmistificada. Porto Alegre: Artmed, 2001.