Avaliar para planejar!
Profa. Dra. Elisângela T. Gomes Dias
Avaliar é uma competência que temos buscado desenvolver, e a cada dia descobrimos atributos que vão se refinando, pois essa é uma ação permanente.
Com o início do ano letivo, é fundamental compreender que avaliamos para planejar e intervir. O projeto da escola aponta a direção e os rumos. Mesmo sem conhecer os estudantes, sabemos o que ensinar em cada série, ano ou etapa. O currículo dispõe de um conjunto de orientações e os materiais que o traduzem, como os livros didáticos e as apostilas, sugerem como fazer. Mas é necessário que o docente não esqueça que cada criança, jovem ou adulto não é uma folha em branco ou uma tábula rasa. Eles trazem um conjunto de conhecimentos e experiências que precisam ser valorizados e servir de ponte para novas aprendizagens.
Assim, experimente diferentes estratégias didáticas e os variados recursos, procedimentos e instrumentos para que possa ir ao encontro dessas filigranas. Faça isso de forma serena, ficando “rouco de escutar”, conhecendo o seu tempo, o tempo da sua turma, de cada estudante.
Você pode começar organizando a acolhida e um conjunto de atividades que lhe permita entender as necessidades de seu grupo. Avaliar não é sinônimo de testar ou medir. Portanto, não se prenda as atividades de testagem, os famosos “testes diagnósticos” que geram métricas que servem mais para classificar. Dar mais atenção ao resultado faz com que, de forma intencional ou não, o professor faça um juízo de valor em relação a quem é considerado “apto” ou “não apto” para estar na turma. E a consequência dessa ação inicial pode interferir em toda ação pedagógica, sendo “profética” em algumas situações.
Acreditar que todos podem aprender é um princípio da docência, de uma escola de qualidade. Os estudantes chegam ansiosos, e ao encontrar um espaço acolhedor, revelam muito de si. Há muitas possibilidades para além da tradicional “redação de férias”. Então, promova atividades motivadoras, de integração, conectadas com a realidade dos estudantes. O trabalho coletivo, a partir da realização de tarefas motivadoras, pode ajudar a fazer conexões, a produzir links, a ter insights que permitem a aprendizagem com significados, tornando-a com sentido. Escute para fazer perguntas orientadoras, disparadoras de reflexão. Isso é mais relevante que dar respostas!
Você não precisa começar “despejando conteúdos” ou aplicando testes. Levante a bola para o parceiro cortar, dê o passe preciso para ele fazer o gol, alterne o centro do jogo, seja generoso na complementaridade. Por vezes, ser protagonista é ser ponte para o outro alcançar o que foi planejado conjuntamente. É contribuir para chegar ao objetivo comum.
Incentive desde o primeiro encontro a autoavaliação e organize a avaliação entrepares. Aprender a avaliar é uma ação necessária e relevante. Fique atento aos detalhes e transforme cada “informação negativa” em um desafio a ser superado. O mais importante neste momento é construir um ambiente de aprendizagem em que o estudante tem espaço para o diálogo e se sente seguro para compartilhar não apenas seus conhecimentos, mas também suas dúvidas, inseguranças e incertezas. Portanto, diversifique as estratégias de ensino, busque inovar. O caderno de planejamento de anos anteriores pode até continuar ajudando, mas certamente você pode fazer muito melhor hoje.
Avalie para conhecer a sua turma e identificar não os conhecimentos prévios, mas o estilo de aprendizagem e as necessidades de cada integrante. Isso mesmo, necessidades! Se há algum estudante que ainda não demonstre um conjunto de conhecimentos “esperados” para aquele momento, o importante é organizar atividades adequadas. Não espere um bimestre ou o resultado de testes programados. Intervenha desde o início. Afinal, avaliamos previamente para que o planejamento seja adequado ao sujeito real.
Esse é o verdadeiro espírito de uma avaliação inclusiva, dialógica, democrática… formativa! Uma avaliação que atravessa o processo de ensino, integrada a ele e não fragmentada, coesa e coerente e não terminal.