Avaliar para planejar… planejar para avaliar

 

Avaliar para planejar… planejar para avaliar

Enílvia Rocha Morato Soares

 

Teremos na próxima semana, a partir do dia 03 de fevereiro, o início de mais um ano letivo nas escolas públicas do Distrito Federal. Como sempre acontece na primeira semana após o período de férias dos estudantes e professores, chamada oficialmente de “Semana Pedagógica”, profissionais da educação e integrantes da comunidade escolar se reúnem para (re)planejar o trabalho que pretendem desenvolver ao longo do ano. Trata-se, portanto, de um momento em que a avaliação se mostra imprescindível.

Diferente da visão pontual e retrospectiva que, em geral, incide sobre as avaliações situando-as ao final de processos, reflexões sobre o modo como se pretende caminhar não dispensa o olhar atento sobre o percurso já trilhado, constituindo norte para a manutenção do foi produtivo, eliminação do que não foi e projeção de novas investidas que, por sua vez, deverão ser reincidentemente avaliadas.

A avaliação cumpre, desse modo, seu papel retroalimentador da ação educativa. Elencar a avaliação a essa condição implica superar concepções ainda bastante presentes em nossas escolas. Pesquisa recentemente realizada em uma escola pública do DF apontou que os entendimentos sobre avaliação se encontram ainda distanciados de propósitos formativos. À questão “o que você entende por avaliar?” grande parte dos professores, estudantes e de seus familiares assim se posicionaram:

  • Para ver se uma coisa está boa, se está certo. (estudante do 7 º ano)
  • Para mim avaliar é uma forma de você conhecer aquilo, alguma pessoa, qualquer coisa de modo geral assim. (estudante do 7 º ano)
  • Dar sua opinião sobre alguma coisa. (estudante do 9º ano)
  • Para mim avaliar é ver se está certo, se está errado, corrigir. (estudante do 7 º ano)
  • É a verificação da aprendizagem do aluno diante daquilo que foi ensinado, por meios diversos. (professor)
  • O desenvolvimento do conteúdo passado, o seu desenvolvimento. (professora)
  • Forma de mensurar o desenvolvimento e o aprendizado dos estudantes no decorrer do ano. ((professora)
  • Tentar saber o nível de conhecimento. (professor)
  • Processo natural que é cobrado a partir do momento em que é repassado um conteúdo para determinada pessoa. (professor)
  • Diagnosticar se houve ou não aquisição de conhecimentos dos conteúdos ministrados. (professor)
  • Forma de colocarmos pontos positivos ou negativos de um serviço, de algo que nos foi oferecido. (mãe)
  • Obter conhecimento referente ao que foi proposto a fim de saber resultados. (mãe)
  • Dar um parecer, um feedback quanto ao desenvolvimento de alguém ou algo. (mãe)
  • É prestar atenção no que acontece com o aluno, perceber suas necessidades, seu progresso e conduta. (responsável)
  • Verificar o andamento de algum projeto, se o mesmo está sendo negativo ou positivo. (mãe)
  • Classificação do que é bom ou não. (pai).

 

Dentre as diferentes análises que podem ser feitas a partir das falas expressas pelos interlocutores, será aqui destacado o caráter categórico e definitivo conferido por eles à avaliação, destituindo-a de sua condição mobilizadora de ações em favor de melhorias. Os depoimentos não sinalizam movimento a partir da realidade avaliada, limitando-se a constatá-la, posicionar-se diante dela e, em alguns casos, atribuir-lhe algum valor. Mesmo quando o feedback – importante elemento da avaliação formativa – é mencionado, faz referência ao retorno de informações ao sujeito ou objeto avaliado sem referir-se aos efeitos que esse retorno pode produzir.

Assim compreendida, a avaliação se torna inócua, constituindo apenas um balanço do trabalho realizado a fim de classificá-lo quanto à qualidade dos resultados produzidos. A provisoriedade caracteriza esse processo, deixando, sem o devido proveito, visões capazes de impulsionar mudanças positivas. Assim conduzida, a avaliação tende a ser desvalorizada e desacreditada uma vez que pouco ou nada serve ao trabalho escolar e aos que dele participam.

Em uma perspectiva formativa, planejamento e avaliação se fundem em um movimento dialético que os une em propósitos e em compromisso com a construção de uma escola democrática, tanto em respeito ao ensino que ministra quanto à aprendizagem dos saberes que veicula. Apropriar-se da realidade escolar é importante, porém não basta. As informações levantadas por meio de diferentes práticas avaliativas devem fundamentar a tomada de decisões que, devidamente planejadas e permanentemente avaliadas, impulsionam avanços. É essa dinâmica, característica da avaliação formativa, que deve marcar o trabalho desenvolvido nas escolas do DF, não somente da Semana Pedagógica, mas ao longo de todo o ano letivo. Bom retorno a todos(as)!

 

 

 

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