Benigna Villas Boas
O conselho de classe é um potente componente do trabalho pedagógico da escola, porque reúne professores, equipe gestora, coordenação pedagógica, outros profissionais que acompanham a atuação docente e, em algumas situações, pais e estudantes. Seus encontros constituem momentos privilegiados de avaliação, quando cada professor/a apresenta as principais conquistas de aprendizagem da turma e de cada estudante, se detém nas necessidades daqueles que ainda não conseguem prosseguir e, em conjunto, o grupo toma decisões acerca da continuidade do trabalho. Ao relatar a situação de aprendizagem de sua turma e de cada estudante, o/a professor/a expõe (no sentido de tornar pública) a dinâmica de trabalho da turma sob sua responsabilidade, nele incluído o processo avaliativo, o que torna o conselho uma das relevantes atividades escolares.
As escolas públicas do DF costumam receber, a cada ano, professores de contrato temporário. Algumas passam a contar com maior número de docentes nesta situação do que com os concursados, o que requer ações que os integrem ao seu trabalho pedagógico. O conselho de classe é uma delas, pela sua composição e pela sua realização bimestral. Revela-se uma excelente oportunidade para que eles conheçam a atuação de todos os colegas e se sintam pertencentes ao grupo. Além disso, cada professor/a tem a oportunidade de refletir criticamente sobre o trabalho com seus estudantes e receber contribuições dos participantes do conselho. Acompanhando os conselhos de classe bimestrais de uma escola pública há um ano e meio, percebo que chegam a ser longos quando determinadas situações de aprendizagem requerem análise aprofundada. Casos especiais são discutidos e orientações são apresentadas. Ao final do encontro, parece-me que as professoras se sentem amparadas para prosseguir suas atividades.
Além disso, tenho observado o entrelaçamento e as articulações estabelecidas entre um conselho e outro, de tal forma que os debates têm continuidade até que as dificuldades sejam solucionadas. Algumas vezes, relembram-se decisões tomadas no ano anterior, com relação a determinados estudantes que requerem mais atenção, quando vêm à tona seus progressos em relação às necessidades enfrentadas anteriormente. Nesses casos, toda a equipe se une em busca da melhor forma de atuação junto ao estudante.
Parece-me que, ao final dos encontros, todos saem fortalecidos e animados para a continuidade do trabalho, porque sabem que não estão sozinhos.
O conselho de classe assim desenvolvido cumpre dois objetivos. Em primeiro lugar, compromete-se com as aprendizagens de todos os estudantes. Nenhum fica para trás. Não se discutem notas. O interesse se volta ao que está impedindo que as aprendizagens ocorram. Em muitas situações tomam-se decisões para envolvimento dos pais ou de outros profissionais na busca por soluções.
Em segundo lugar, o conselho de classe torna-se uma oportunidade de formação continuada na escola, de forma participativa. Todo o grupo se envolve na discussão sobre o caso que estiver em discussão e todos aprendem. Esta sistemática tem a vantagem de tornar o grupo coeso.
Um passo à frente poderá ser dado: a formação continuada na própria escola costuma trazer benefícios ao desenvolvimento do trabalho, por ser organizada e desenvolvida por aqueles que irão dela participar. Cada instituição, em atendimento ao seu contexto, sabe em quais aspectos sua equipe necessita de atualização e aprofundamento. O espaço da coordenação pedagógica propicia leituras de textos e livros, seguidas de análises pelo próprio grupo. Faz parte da sua autonomia buscar contribuições ao pleno desenvolvimento de suas atividades. O convite a pesquisadores e estudiosos de temas do seu interesse pode trazer contribuições. A formação continuada na escola complementa e atualiza os saberes dos professores. Quem tem pretensão de realizar curso de mestrado tem nela a oportunidade de organizar e formular seu projeto de pesquisa.
A cultura da avaliação formativa se constitui e se fortalece no interior da escola, tendo o conselho de classe como um dos seus fortes aliados, por possibilitar a organização e reorganização do trabalho pedagógico.