CICLOS PARA AS APRENDIZAGENS NA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO DF: DESAFIOS PARA OS ANOS FINAIS

CICLOS PARA AS APRENDIZAGENS NA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO DISTRITO FEDERAL: DESAFIO PARA OS ANOS FINAIS

Erisevelton Silva Lima

Doutor em Educação pela UnB, atualmente é Diretor de Formação Continuada, Pesquisa e Desenvolvimento Profissional na EAPE/SEDF

 

A formação dos professores, a organização secular da escola, os normativos que distribuem ou regulam a forma como a escola funciona são elementos pautados na lógica da seriação. Refazer este caminho vai requerer de todos os atores a compreensão de que outra lógica será erguida no lugar dessa que veio pensada desde o século XVIII. A escola passa pela necessidade de criação e recriação de outras estruturas (pedagógica e administrativa) que possibilitem nova forma de pensar, fazer e avaliar a educação das crianças, jovens e adultos.

No Distrito Federal a universalização dos ciclos para as aprendizagens nos anos finais tornou-se política de estado, consta do Plano Distrital de Educação. A proposta de organização do trabalho pedagógico por meio de ciclos possui especificidades que precisam ser conhecidas por toda a comunidade escolar. O objetivo deste pequeno texto é o de sinalizar elementos, de ordem prática, que possam auxiliar os responsáveis pela referida implementação. Abaixo, listo algumas delas. Não se trata de modelo único, igual ou padronizável; todavia, existem princípios que podem assegurar práticas emancipadoras que criam o movimento dentro e entre os ciclos.

Enturmação Avaliação Docente Estudante Secretaria escolar Formação continuada
Os estudantes estarão matriculados em turmas flexíveis que poderão ser reorganizadas e remontadas a cada avaliação diagnóstica. Essa avaliação visa promover o movimento e a circulação dos estudantes dentro do bloco e do ciclo em que se encontrarem. Os reagrupamentos dos estudantes e projetos interventivos ganham mais espaços nesta outra lógica. A avaliação acontecerá intensamente, para que os docentes e toda a equipe pedagógica possam monitorar as aprendizagens e promover a progressão continuada. Entendemos que este é o fruto da avaliação formativa, garantia das aprendizagens para todos.

A SEEDF não trabalha com aprovação automática. Nossa prática vai ao encontro da progressão continuada com avanços por meio das aprendizagens.

O conselho de classe passa a ser a maior e mais importante instância de avaliação da escola e deve se reunir com frequência.

Figura central e importante para o processo. Necessita de maior acompanhamento e apoio pedagógico. Os ciclos tendem a ser bem sucedidos se os professores estudarem e se formarem de maneira permanente. A ideia é aplicar, na prática, teorias e projetos que auxiliem os estudantes a aprenderem mais.

O foco nos ciclos para as aprendizagens está na aprendizagem, ao contrário do que desconhecedores da matéria afirmam quando tentam mudar sua centralidade para aprovar ou reprovar.

A precarização do trabalho docente pode inviabilizar o processo, assim como turmas numerosas e falta de formação poderão impedir o êxito da proposta.

Ele é a razão do nosso trabalho. Requer maior atenção e organização para aprender. Suas famílias precisam apoiá-los e incentivá-los. À escola cabe encorajá-los para aprender mais e criar as condições necessárias.

Eles precisam construir na escola a cultura da autoavaliação; afinal, eles sabem antes dos professores se aprenderam ou não, e podem ajudar seus mestres apontando seus êxitos e dificuldades, não somente por meio de provas.

Os estudantes mais novos no sistema demonstram menos resistências e vícios, uma vez que não estão totalmente arraigados à cultura da seriação.

Setor de registro e de acolhimento do estudante desde a matrícula. Nos ciclos, as turmas não são fixas e os estudantes podem transitar, avançar e ter enturmação modificada ao longo do ano. Os avanços podem e devem ser registrados nas atas e em outros documentos próprios.

Ela deverá ser capaz de emitir e receber documentação que não prejudique a mudança do estudante, inclusive de uma unidade da federação para outra que possua ou não ciclos.

Elemento fundamental para toda a escola.

Na escola organizada por ciclos, os processos e temas tratados precisam ser compreendidos e compartilhados por todos os profissionais, não somente pelos professores.

 

A dicotomia seriação/ciclos é, na verdade, um confronto de lógicas (FREITAS, 2003) entre uma cultura forte, sedimentada e conhecida, mesmo que ineficaz, e outra diferente, subjetiva e que requer mais posturas epistemológicas que modelos rijos. Centrar o debate na questão aprovação/reprovação faz com que se perca o essencial e necessário, que seria priorizarmos o par dialético aprender/progredir. Não é o ciclo que cria a promoção automática. É a interpretação equivocada centrada, sobretudo, em aprovar/reprovar. A seriação requer desconstrução da sua cultura. Desconstruir uma cultura passa por não negá-la, não banalizá-la, não desmerecê-la, afinal os homens só existem por causa da cultura. Desconstruir uma cultura só é possível com a edificação de outra pari passu, desconstruir é diferente de destruir (VILLAS BOAS, 2008).

Para Fernandes (2005) o conselho de classe, sob a lógica dos ciclos, torna-se um espaço importante para avaliação e acompanhamento constante das aprendizagens dos estudantes. A ideia é, também, para que evitemos reuniões cansativas e carregadas de avaliações informais desencorajadoras cedendo lugar para a autoavaliação da escola (LIMA, 2012). Abre-se espaço para a avaliação das estratégias de ensino e de aprendizagem quase sempre esquecidas. Este outro conselho de classe não conduzirá as análises por meio da vertente da culpabilização, ou seja, a mesma que atribui aos estudantes e suas famílias as maiores responsabilidades pela não aprendizagem. O conselho de classe, assim concebido, poderá garantir a progressão continuada dos estudantes por meio do monitoramento das aprendizagens.

 

REFERÊNCIAS

FERNANDES, Claudia de Oliveira. A Escolaridade em Ciclos: a escola sob uma nova lógica. Cadernos de Pesquisa, v. 35, n. 124, jan./abr. 2005.

FREITAS, Luiz Carlos de. Ciclos, seriação e avaliação: confronto de lógicas. São Paulo: Moderna, 2003.

LIMA, Erisevelton Silva. O Diretor e as avaliações praticadas na escola. Kiron, Brasília-DF, 2012.

VILLAS BOAS, Benigna Maria de Freitas. Virando a escola do avesso por meio da avaliação. Papirus. Campinas-SP, 2008.

 

Uma resposta para “CICLOS PARA AS APRENDIZAGENS NA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO DF: DESAFIOS PARA OS ANOS FINAIS”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

16 − catorze =