CICLOS, PROGRESSÃO CONTINUADA E REPROVAÇÃO: TRÊS CONCEITOS QUE MERECEM SER MELHOR COMPREENDIDOS

Ciclos, progressão continuada e reprovação:
três conceitos que merecem ser melhor compreendidos
Maria Susley Pereira

ALCKMIN SEGUE PASSOS DE HADDAD E MUDA PROGRESSÃO CONTINUADA NAS ESCOLAS ESTADUAIS
Reforma anunciada pelo governador de São Paulo aumenta possibilidade de reprovação, altera ciclos de ensino e institui avaliações bimestrais
Leia em http://www.redebrasilatual.com.br/educacao/2013/11/seguindo-haddad-alckmin-aumenta-chance-de-reprovacao-no-ensino-estadual-5126.html

Esta foi a manchete publicada no site Rede Brasil Atual – RBA, no último dia 08 de novembro. O que chama a atenção nesta manchete é uma questão curiosa: o anúncio de uma reforma na educação que visa aumentar a reprovação, ao invés de anunciar, por exemplo, um aumento nas aprendizagens. Essa medida marcha na contramão de estudos e de pesquisas de especialistas que têm constantemente trazido para o debate educacional a importância de uma escola que garanta as aprendizagens de todos os alunos, uma escola que cumpra seu papel na formação de pessoas capazes de transitar na sociedade com desenvoltura, utilizando as práticas sociais de uso da matemática, da leitura e da escrita, e que dominem conhecimentos básicos relacionados ao mundo em que vivem. Aumentar as reprovações certamente não é o caminho para que essas pessoas possam desenvolver capacidades ou adquirir conhecimentos. Aumentar as reprovações é uma maneira de se aumentar o fracasso escolar, de contribuir para o abandono das carteiras escolares e de mostrar que a preocupação recai muito mais nos resultados dos exames externos do que na reestruturação dos currículos, na melhoria da infraestrutura das escolas, na formação e na motivação dos professores. Como o próprio governador disse “O aluno não deve ser responsabilizado pela dificuldade da escola. A reprovação leva à evasão escolar e cria na criança a cultura do fracasso. Isso não ajuda”.

A matéria anunciada por essa manchete ainda afirma que a reforma “amplia de dois para três os ciclos do ensino fundamental” e que a “possibilidade de reprovação seria importante para medir a alfabetização”. Estas afirmações também merecem reflexão, afinal a escola organizada em ciclos é uma possibilidade de se evitar interrupções nos percursos escolares e de se viabilizar a progressão continuada das aprendizagens. Isso mostra que a ideia de se “aumentar as reprovações” em uma mesma reforma educacional que trata da escola em ciclos é mesmo bastante controversa. Além disso, como a reprovação poderá “medir a alfabetização”?

Vale ressaltar nessa reflexão também a compreensão equivocada que tem sido estimulada acerca da progressão continuada. Progressão continuada não pode ser vista como sinônimo de aprovação automática ou de escola em ciclos, embora uma escola estruturada sob a lógica dos ciclos precise estar articulada à concepção de progressão continuada, pois a progressão continuada significa que é preciso haver uma continuidade, como o próprio nome diz, das aprendizagens, e que o aluno deverá ampliar suas aprendizagens na continuidade de sua escolaridade; indica também que deve ser assegurado que o aluno não tenha defasagens ao longo se seu percurso, evitando obstáculos dispensáveis em sua vida escolar. Mas para que haja verdadeiramente a progressão continuada das aprendizagens dos alunos precisamos de uma concepção democrática de educação com a expectativa de uma escola diferente da que temos, que suplante práticas pedagógicas conservadoras não só nas escolas, mas também por parte dos responsáveis pelos sistemas educativos no país.

 

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