Como fazer a avaliação formativa?

Enílvia Rocha Morato Soares

Sempre que reflexões acerca da avaliação formativa são apresentadas ou discutidas com profissionais da educação são comuns posicionamentos que, no afã de colocar em prática essa forma de avaliar, dissociam-na da teoria, questionando: Isso que foi dito (ou debatido) nós já sabemos, queremos saber é como fazer a avaliação formativa.

É certo que não há um modelo de ação a seguir ou uma regra técnica aplicável que garanta sua presença, uma vez que os diferentes contextos em que a avaliação se desenvolve (incluindo os sujeitos que o integram) demandam diferentes instrumentos, procedimentos e estratégias. É certo também que a função formativa da avaliação é definida muito mais pela intenção do avaliador do que por suas práticas observáveis, o que lhe confere uma dimensão utópica, ou seja, sua existência concreta jamais poderá ser assegurada (HADJI, 2001), tendo em vista a impossibilidade de se conhecerem integralmente os reais propósitos dos indivíduos.

No entanto, algumas iniciativas sinalizam que a busca por uma prática avaliativa formativa está em curso. Vamos a elas:

  • Relação de ajuda com o estudante: “é a vontade de ajudar que, em última análise, instala a atividade avaliativa em um registro formativo” (HADJI, 2001, p. 22, grifos do autor).
  • Variabilidade didática: uma avaliação que não é seguida por uma modificação das práticas do professor tem poucas chances de ser formativa (HADJI, 2001).
  • Análise dos avanços de um mesmo estudante em diferentes momentos , sem estabelecer comparação entre ele e os colegas: a classificação, que conduz à exclusão, é contrária à avaliação formativa, que tem a inclusão como princípio fundamental.
  • Feedback constante: os estudantes devem ser informados sobre o desenvolvimento de suas aprendizagens, assim como orientados de modo que suas necessidades sejam atendidas. Abre caminho para que os estudantes desenvolvam o automonitoramento, processo em que eles próprios identificam suas necessidades de aprendizagem, ou seja, se autoavaliam e buscam os meios para atendê-las
  • Avaliação informal encorajadora: acontece quando o professor dá ao estudante a orientação de que necessita, no momento exato; manifesta paciência, respeito e carinho ao atender suas dúvidas; demonstra interesse pela aprendizagem de cada um; atende a todos com a mesma cortesia, sem demonstrar preferência; elogia o alcance dos objetivos; não penaliza o estudante pelas aprendizagens ainda não adquiridas; não comenta em voz alta suas dificuldades ou fragilidades; não faz comparações. Atitudes de interesse, disponibilidade e aceitação, que ajudam o estudante a se desenvolver e avançar, integram a avaliação informal formativa.
  • Variação de atividades/procedimentos de avaliação formal: diversificar os recursos para a coleta de informações sobre os estudantes possibilita uma análise mais criteriosa e aproximada de suas reais condições de aprendizagem. Prova, portfólio, observação, entrevista, autoavaliação, avaliação por colegas, relatórios, etc., são válidos, desde que as informações obtidas por meio deles sejam utilizadas em favor de melhorias no trabalho desenvolvido e, em decorrência, nas aprendizagens dos estudantes.
  • Diagnósticos e intervenções sistemáticas: é essa a dinâmica que permite aos estudantes avançarem continuamente, mantendo em dia suas aprendizagens.
  • Atitude investigativa: as intervenções que se seguem aos diagnósticos não se estabelecem sem um criterioso processo de pesquisa. Buscar caminhos que possibilitem auxiliar os estudantes na superação de dificuldades requer aprendizado constante.
  • Letramento em avaliação: aprender a avaliar na lógica formativa é um desafio permanente e, portanto, uma fonte inesgotável de aprendizagens. As formações inicial e continuada têm muito a contribuir para uma atuação docente que incorpore uma prática avaliativa parceira das aprendizagens.
  • Participação no processo autoavaliativo da escola: a avaliação do trabalho escolar requer a colaboração entre docentes, estudantes, pais/responsáveis e demais profissionais. Vale lembrar que a avaliação não acontece somente em sala de aula, mas no âmbito de toda a escola. É esse o momento em que informações advindas da sala de aula e dos exames externos se conectam com as percepções dos integrantes da escola sobre o trabalho realizado, possibilitando um olhar mais aprofundando e crítico sobre a realidade escolar. Conduzida com ética pelo coletivo, promove não só as aprendizagens dos estudantes, mas o desenvolvimento de toda a escola.

Mesmo diante das adversidades impostas por uma organização social pautada na individualidade, competitividade e, portanto, por processos que excluem os menos favorecidos cultural e economicamente, avaliar na perspectiva formativa constitui prática que se reveste de singular importância, por contribuir para que a escola constitua espaço de acolhimento, solidariedade e, sobretudo, de aprendizagens capazes de impulsionar melhorias educativas e, quiçá, sociais.

Referências:

HADJI, Charles. Avaliação desmistificada. Trad. Patrícia C. Ramos. Porto Alegre: Artmed, 2001.

 

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