É possível a participação dos pais/responsáveis na concepção, desenvolvimento e avaliação do projeto político-pedagógico da escola?

Rose Meire da Silva e Oliveira

No retorno às aulas presenciais da rede pública do Distrito Federal, decorridos um pouco mais de 30 dias e, ainda, vivenciando um contexto social pandêmico, como não pensar nos diferentes desafios que emergem no âmbito escolar enfrentados pelas equipes gestoras das escolas? Entre eles, os que se referem à organização do trabalho pedagógico, à recomposição das aprendizagens dos estudantes e, em especial, como principal foco dessa breve reflexão, à participação dos pais/responsáveis na concepção, desenvolvimento e avaliação do projeto político-pedagógico (PPP).

Na perspectiva de uma educação emancipatória, na qual acreditamos, o envolvimento da comunidade escolar no planejamento, execução e avaliação do projeto pedagógico exerce papel relevante para a dimensão qualitativa e democrática do trabalho escolar.

Nesse sentido, a inclusão dos pais/responsáveis na elaboração do PPP supõe compreendê-los como sujeitos partícipes na aprendizagem dos seus filhos/estudantes. Veiga (2008, p. 62) adverte que “o projeto pedagógico deve assegurar a presença da família para refletir sobre o processo educativo, sugerindo, indicando caminhos, questionando, participando da gestão democrática da escola”, o que vai demandar da equipe gestora refletir e discutir sobre os desafios existentes para tal intento, além da escuta sensível e acolhimento das famílias.

Mas antes de qualquer ação pedagógica há que se ter a preocupação em conhecer o perfil socioeconômico e cultural e os anseios dos pais/responsáveis. Quem são eles? Quais as expectativas relacionadas à escola? Como pensam que seus filhos aprendem ou são avaliados? Sabem como cooperar para a aprendizagem dos estudantes? Os objetivos e as práticas avaliativas constitutivos do trabalho pedagógico são compreensíveis por todos os pais? Não há como inseri-los na ação educativa sem antes promover um ambiente favorável ao diálogo para conhecer suas percepções.

Uma estratégia poderosa para o sucesso escolar em 2022 inclui planejar e avaliar coletivamente as condições objetivas e as dificuldades que impediram avanços na aprendizagem de todos os estudantes, levando em conta o percurso escolar, o cenário social, cultural e peculiar de cada criança/adolescente vivido nos últimos dois anos, como também propiciar mudança substancial na forma de ensinar, aprender, conceber e praticar a avaliação, considerando a historicidade dos sujeitos e das famílias, em tempos tão difíceis como estes, na retomada dos estudos.  

Toda ação pedagógica assume dimensão política e social quando inclui a participação dos sujeitos envolvidos no processo educativo. Assim sendo, o engajamento dos pais/responsáveis sugere busca coletiva e permanente de soluções juntamente com os professores para a recomposição das aprendizagens dos estudantes, perscrutando os sentidos e as percepções da família e de todos os coadjuvantes que participam no cotidiano escolar.

Oliveira (2019) infere que a equipe gestora, ao promover o fortalecimento de processos reflexivos democráticos, garante relações interpessoais saudáveis e um ambiente escolar harmonioso e, dessa forma, impele os pais/responsáveis  a se sentirem incluídos na organização do trabalho pedagógico da escola e, consequentemente, protagonistas das ações propostas.   

A responsabilização participativa[1] por todos os sujeitos que compõem a comunidade escolar fortalece práticas pedagógicas solidárias que asseguram a função social prevista no PPP. O exercício da dialogicidade, empatia, valorização de diferentes olhares sobre o trabalho escolar, inclusive dos estudantes e de seus respectivos pais/responsáveis, o entendimento acerca das intencionalidades, dos objetivos apresentados e das práticas avaliativas formativas se contrapõem ao modus operandi de um ensino sem sentido, desvinculado do seu real propósito e apoiado nas e pelas relações de poder verticalizadas e, consequentemente, destituído do compromisso social com a educação de qualidade. Eis um grande desafio a ser superado!

Referências

OLIVEIRA, Rose Meire da Silva e. Pais/responsáveis: copartícipes do processo avaliativo! In: VILLAS BOAS, Benigna Maria de Freitas (org.). Conversas sobre avaliação. Campinas, SP: Papirus, 2019.

SORDI, M. R.; FREITAS, L. C. Responsabilização participativa. Retratos da Escola, Brasília, v. 7, n. 12, p. 87-100, 2013.

VEIGA, Ilma Passos Alencastro. Projeto político-pedagógico: novas trilhas para a escola. In: VEIGA, Ilma Passos Alencastro; FONSECA, Marília (orgs). As dimensões do projeto político-pedagógico: novos desafios para a escola. 6.ed. Campinas, SP: Papirus, 2008, p. 45-66.


[1] Termo utilizado por Sordi e Freitas em artigo publicado (2013) para se referir ao processo de mobilização e de negociação baseado na participação dos atores que compõe a comunidade escolar.

 

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