É possível praticar a avaliação formativa em turma com muitos estudantes?

É possível praticar a avaliação formativa em turma com muitos estudantes?

Rose Meire da Silva e Oliveira

            No âmbito do trabalho pedagógico em sala de aula, as condições objetivas nem sempre são favoráveis ao ensino de qualidade. É possível ouvir entre os profissionais da educação que o número excessivo de estudantes em sala de aula é um dos fatores que dificultam o sucesso escolar que tanto ansiamos. Não obstante, seria esse um fator impeditivo para a prática formativa da avaliação?

Fernandes (2015, p. 596) alude que as práticas avaliativas, na percepção dos professores, são mais centradas nos docentes, baseadas na exposição das disciplinas e na avaliação classificatória e não na pedagogia em que os estudantes estão no centro das dinâmicas pedagógicas pautadas pela avaliação para aprender e na socialização de feedbacks. Tal assertiva aponta para a necessidade de ampliação do entendimento da prática avaliativa formativa no espaço pedagógico da sala de aula.

A avaliação formativa, quando bem compreendida pelo(s) professor(es), permite que os estudantes participem do processo avaliativo de suas aprendizagens e se tornem protagonistas de suas conquistas. As potencialidades e fragilidades são acolhidas e analisadas coletivamente para definição das estratégias interventivas mais adequadas. A organização do trabalho em sala de aula e as atividades avaliativas são compartilhados pela dialogicidade, promovendo, em consequência, a corresponsabilidade para a melhoria das aprendizagens da turma, alicerçada na tomada de decisão dos estudantes e mediação docente.

Nessa perspectiva, o trabalho realizado em sala de aula é envolto por um ambiente harmonioso e afetivo, no qual é possível acordar critérios, discutir estratégias, propor atividades em grupo e/ou por pares, aprimorar procedimentos condizentes com a prática formativa da avaliação. O professor e o estudante se posicionam como sujeitos participantes de um processo respeitoso e mútuo de aprendizagens, compartilhado pelos saberes e pela clareza da atuação de cada um no desenvolvimento das ações pedagógicas.

Em uma turma com 40 ou mais estudantes, o processo avaliativo e de organização do trabalho pedagógico precisa ser reflexivo e coletivo. Discute-se de forma responsável e colaborativa, entre os sujeitos envolvidos, os objetivos de aprendizagem que serão desenvolvidos, o que se pretende alcançar; a intencionalidade, dinâmica/sequência didática e o uso do tempo da(s) aula(s); a disposição física dos estudantes para realização das atividades planejadas; as regras disciplinares para organização e realização das tarefas; momentos de fala e de escuta; e como se darão as práticas sistemáticas de avaliação formativa (critérios, atividades, estratégias/procedimentos). Nesse clima de respeito, prevalecem a ética, a relação de confiança e de cumplicidade pedagógica entre professor(es) e estudante(s), estudante(s) e estudante(s), a superação de conflitos que hierarquizam as relações no ambiente escolar e em sala de aula, o poder decisivo do coletivo sobre o individual.

Nesse sentido, Villas Boas (2017, p. 23) sinaliza a importância de o colegiado docente refletir acerca da necessidade de se criarem novas bases para a organização do trabalho pedagógico e assim possibilitar o surgimento de formas inovadoras para se trabalhar em sala de aula. O feedback, como processo indissociável da formatividade da avaliação, contribui para esse fim, permitindo que os estudantes empreendam esforços para ações de regulação e de autorregulação das suas aprendizagens (FERNANDES, 2015), e compreendam quais os conteúdos e/ou aspectos da aprendizagem necessitam ser retomados, fixados, aprendidos, tendo em vista os objetivos elencados.

Independentemente do número de estudantes em uma turma, é possível praticar a avaliativa formativa como potencializadora das aprendizagens dos estudantes quando esta legitima “o caráter formador do espaço pedagógico” (FREIRE, 1996).

Referências

FERNANDES, Domingos. Pesquisa de percepções e práticas de avaliação no ensino universitário português. Estudos em Avaliação Educacional, São Paulo, v. 26, n. 63, p. 596-629, 2015.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

VILLAS BOAS, Benigna Maria de Freitas (org.). Avaliação: interações com o trabalho pedagógico. Campinas, São Paulo – SP: Papirus, 2017.

 

 

 

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