Em defesa da sala de aula

Reportagem do Correio Braziliense de 19/04/2013 informa que o vencedor do Nobel de Física em 2001, Carl Wieman, dos Estados Unidos, propõe, na revista Science desta semana, que professores universitários não valorizem apenas a pesquisa mas se dediquem mais à formação dos futuros cientistas. Para especialistas brasileiros, falta de interesse pelo ensino também é um problema no país.

Carl Wieman, além de ser reconhecido por desenvolver pesquisas de ponta, é engrandecido por seu empenho nas salas de aula. Afirma a reportagem que, desde que tomou para si a missão de educador, Wieman diz não entender por que as instituições de ensino superior ainda hoje desconsideram décadas de pesquisa que mostram a superioridade da aprendizagem ativa em relação aos tradicionais 50 minutos de palestra em que o professor fala e os alunos somente escutam.

O físico entende que “há toda uma indústria dedicada a medir o quão importante é minha pesquisa ou mensurar qual é o impacto dos meus artigos. No entanto, nós nem mesmo coletamos informações sobre a maneira que eu ensino. Isso não merece atenção nenhuma”. Ele defende que, se o ensino permanecer ofuscado, a tendência é as universidades se acomodarem e continuarem a investir a maior parte do tempo e dinheiro em pesquisa. Carl Wieman não desconsidera a importância da produção de conhecimento a partir de pesquisas. Para ele a pesquisa e o ensino são igualmente relevantes.

Essa situação a que o físico se refere é o que costumamos presenciar em universidades brasileiras. Não são poucas as situações em que professores doutores são responsáveis por disciplinas em cursos de graduação mas não comparecem às salas de aula. Todo o trabalho pedagógico costuma ser desenvolvido por seus orientandos. Esse descaso com cursos de graduação se torna mais grave em cursos de licenciatura, que são os formadores de professores para a educação básica. Tem razão o físico Carl Wieman: as atividades de ensino em universidades brasileiras precisam ser levadas a sério. De nada adianta pesquisar e publicar centenas de artigos se o professor não cumprir o seu papel principal: contribuir para as aprendizagens dos alunos. Quando visito escolas de educação básica e me encontro com ex-alunos de cursos de graduação e pós-graduação que me abordam e dizem terem frequentado disciplinas sob minha responsabilidade, imediatamente penso: qual contribuição eu dei à sua formação?

 

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